Apesar de Bolsonaro, vacinação avança e a covid retrocede no Brasil

O Brasil registrou hoje (25) mais 160 mortes por covid-19 em 24 horas. Também foram notificados 5.797 novos casos da doença. Mesmo com subnotificação, os indicadores gerais são positivos. A última semana foi o período com menos mortes desde abril de 2020, no segundo mês de pandemia. Foram 2.305 vítimas, patamar inferior às médias diárias de abril deste ano, durante a segunda onda. A tendência positiva, ainda que inspire cautela e que a pandemia esteja longe do fim, é reflexo direto do avanço da vacinação no país. Hoje, o país tem mais de 55% da população imunizada com duas doses e 78% com a primeira.

Os imunizantes vêm confirmando sua eficiência mesmo em relação à variante delta da covid-19, que passou a ser dominante no Brasil. No entanto, cientistas reafirmam a necessidade de completar o ciclo vacinal para a superação da pandemia. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 20 milhões de brasileiros não retornaram para a dose complementar. Um dos fatores que pesam para este número elevado é o trabalho do presidente Jair Bolsonaro como aliado do vírus.

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Números da covid-19 desta segunda-feira no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Sa´úde (Conass)

Aliado do vírus

A cada discurso, Bolsonaro se afunda ainda mais na divulgação de mentiras e desetímulo à vacinação e uso de máscaras. Na última semana, chegou a dizer que a Gripe Espanhola matou menos do que o uso de máscaras e chocou o país ao tentar ligar as vacinas à transmissão de HIV. Mentiras perigosas e infames, apontam cientistas, que desestimulam a vacinação. “É importante destacar que o risco desenvolver Aids é por meio da infecção com o vírus HIV, que se dá pelo contato direto com o sangue, sêmen ou fluidos vaginais de um indivíduo infectado”, destaca a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra.

mentira de Bolsonaro, como aponta Mellanie, é “fruto de uma manipulação de documentos, que sequer apontam isso em seu texto original. Em nenhum momento o sistema imunológico irá enfraquecer com a vacina, pelo contrário. A vacina estimula esse sistema a produzir mais defesas. A queda dessa primeira onda de anticorpos produzida é esperada e não significa perda de imunidade”, afirma.

Fora da realidade

O imunologista e especialista em vacinação Rafael Larocca explica que Bolsonaro deturpou de forma absoluta um estudo inglês de 2008. “Um estudo de uma vacina (experimental) contra HIV contendo o adenovírus Ad5 foi parado devido a uma associação – equivocada – com aumento de aquisição de HIV entre vacinados”, disse. A tecnologia de vacinas que utilizam adenovírus é relativamente antiga e alguns imunizantes a utilizam. É o caso da AstraZeneca e da Janssen, por exemplo. Entretanto, as duas coisas não são relacionadas nem de perto.

“O presidente usou notícia falsa e disse que vacinas contra a covid estão desenvolvendo Aids. Os cientistas explicam que essa associação é descabida. Mas ‘passapanistas’ e anti-vacinas compartilham notícias velhas para tentar embasar a fala do presidente. As vacinas não causam Aids. As vacinas não aumentam suas chances de adquirir HIV. Vacinas não comprometem seu sistema imune. As vacinas salvam vidas”, completou.

O que existe

Apesar de desmentido mais este absurdo de Bolsonaro, os cientistas temem novas mutações da covid-19. Este segue um risco real, em especial com ampla circulação do patógeno e razão do abandono de medidas de distanciamento e uso de máscaras. Um alerta soa no Leste Europeu, onde países, como a Rússia, vivem o pior momento da pandemia até então.

Na Inglaterra, mesmo com mais de 70% da população imunizada com duas doses, detecta-se uma tendência de crescimento do contágio. Pesquisadores daquele país concentram esforços atualmente na análise de uma mutação da variante delta, chamada informalmente de delta plus.

Trata-se da variante AY.4.2, uma das mais de 30 linhagens diferentes identificadas da delta. “Dentro do guarda-chuvas da variante delta existem dezenas de linhagens (…) O vírus segue se ramificando. São tantas ramificações, como ruas novas. Não tem um nome ainda. Esse é um processo dinâmico e constante. Não se assustem se, em alguns meses, a variante AY será dominante mundialmente. Vamos continuar monitorando. Não vai parar isso enquanto deixarmos o vírus seguir em frente”, esclarece o virologista Anderson Brito.

Fonte: Rede Brasil Atual