Relatório do FMI mostra que recuperação econômica dos países dependerá de agilidade na vacinação

Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado nesta semana, contrapõe a falsa dicotomia entre salvar a economia ou a vida na pandemia de covid-19 que já matou mais de 3 milhões de pessoas no mundo. De acordo com a organização, a recuperação econômica de cada país dependerá, na verdade, dos esforços das nações para garantir a melhor distribuição de vacinas. Também para o FMI a vacinação é fundamental.

As projeções do fundo, contudo, alertam que a retomada da economia tem se dado de maneira desigual entre os países. O relatório do FMI praticamente divide o mundo em dois. De lado estão as nações mais ricas, que têm conseguido promover políticas de apoio econômico e também de vacinação em massa. E que, por consequência, vão se recuperar mais rápido. Do outro, estão os países chamados emergentes e mais pobres que terão mais dificuldades de retomada por não terem investido suficientemente no apoio e na imunização.

Nesse sentido, a expectativa do FMI é que a economia brasileira cresça 3,7% neste ano e 2,6% em 2022. Bem abaixo do crescimento econômico mundial, estimado em 6% para este ano e 4,4% para o próximo. Pelas previsões do fundo, o Brasil também deve ser um dos únicos países do hemisfério ocidental a ter a taxa de desemprego mais alta do que em 2020. O FMI projeta um crescimento de 13,2% para 14,5% neste ano.

Nem saúde, nem economia: o caso brasileiro

“O relatório do FMI deixa claro que aqueles que lidam melhor com a questão da saúde e da vida estão tendo uma recuperação econômica. Isso é um recado para o atual governo brasileiro que precisa minimamente repensar sua posição em relação à pandemia”, destaca o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. Em entrevista a Glauco Faria, em sua coluna no Jornal Brasil Atual, o especialista adverte que apesar da instituição falar em recuperação, o crescimento, considerado baixo no Brasil, será também insuficiente para repor as perdas econômicas no primeiro ano da crise sanitária. “As próprias previsões do FMI estão superestimadas, porque o mercado brasileiro já trabalha com uma taxa de crescimento abaixo dos 3%”, explica.

queda econômica brasileira é maior do que em outras nações inclusive da América do Sul e do Norte. De acordo com o fundo, na Argentina, por exemplo, o desemprego cairá de 11,4% para 10,6%. Nos Estados Unidos a taxa será ainda menor, passando de 8,1% para 5,8%. Em todos os casos, o ritmo de vacinação de cada nação será decisivo para confirmar as projeções.

Mas no Brasil, as perspectivas quanto a isso também são menos promissoras. Até o final de março, segundo cálculos do Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, o país estava em 64º no ranking mundial de vacinação em termos de população imunizada. O Brasil inclusive perdeu sua vantagem em relação aos Estados Unidos, garantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o programa referência em imunização. Os norte-americanos vacinam diariamente quatro vezes mais, segundo o mesmo portal.

Brasil contrário à quebra de patente

“O Brasil perdeu uma oportunidade e desmontou o que tinha de excelência”, critica Fausto. “Vamos lembrar que na crise anterior, da pandemia do H1N1, o Brasil vacinou mais de 70 milhões de pessoas em menos de três meses. Isso porque tinha uma clara ação coordenada do Ministério da Saúde, do SUS. O que vemos é o contrário. Um governo federal que nega a questão da pandemia (de covid) e começou a falar de vacina agora, com seu quarto ministro da Saúde.”

A questão se agrava à medida que faltam também doses para todos os países, principalmente para os mais pobres, empurrados para o final da fila de compra. Enquanto nações mais ricas adquirem mais vacinas do que precisam, mais de 100 países ainda não conseguiram começar sua campanha de imunização. Em paralelo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem defendendo a quebra de patente dos imunizantes. O que levaria a preços mais baixos e significaria mais vacinas sendo produzidas. Mas, apesar da trágica situação do Brasil, entre os recordistas mundiais por mortes e adoecimentos pela covid-19, o governo Bolsonaro é um dos poucos países que se posiciona contra essa solução.

A posição, segundo o Diesse, prova que o Brasil também retrocede no campo diplomático. Ao contrário do que era visto desde os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) aos de Lula e Dilma (PT), considerados fundamentais para barateamento dos medicamentos contra o HIV e sua posterior quebra de patentes. “O que estamos vivendo tem significado uma política do caos. Ao excepcionalizar, separar a vida e a economia, (o governo) está levando ao poço a nossa economia no geral. Mas, principalmente, está matando uma quantidade enorme de vidas que poderiam ser poupadas com enfrentamento mais racional dessa crise”, lamenta Fausto.

Fonte: Rede Brasil Atual