ENTREVISTA: Adriana Nalesso, presidenta da Chapa 1 – Unir, Resistir e Avançar

A presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Adriana Nalesso, é candidata à reeleição pela Chapa 1 – Unir, Resistir e Avançar. Funcionária do Itaú – oriunda do extinto Bemge – e economista, Adriana já faz parte da diretoria do sindicato desde 2000. Atuou como secretária de Saúde, tesoureira e vice-presidente, antes de ser eleita para comandar o sindicato. Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios do movimento sindical bancário diante das mudanças em curso e da composição da chapa que encabeça.

 

Quais os desafios que o movimento sindical enfrenta com as mudanças na legislação trabalhista?

Nosso principal objetivo é garantir a manutenção das conquistas que estão na nossa Convenção Coletiva Nacional de Trabalho. Este ano a Campanha Nacional dos Bancários terá um grau de dificuldade maior, com a reforma trabalhista que precariza empregos e com o fim da ultratividade, que mantinha os direitos da convenção atual até a conclusão das negociações e assinatura da próxima. Por estes motivos, pretendemos antecipar a campanha, vamos tentar abrir o canal de negociação o quanto antes, para não perder o que já conquistamos. Mas a negociação é uma via de mão dupla. Podemos provocar os banqueiros para negociar mais cedo, mas não há garantias de que os patrões aceitem. Tudo depende da correlação de forças.

E a reforma da previdência? A votação está suspensa, mas é uma ameaça constante.

Tudo está relacionado às eleições. Os deputados estão atrasando a votação porque não querem se expor, para não correrem o risco de não ser eleitos. E é só por este motivo que a reforma da previdência não anda, porque no acordo do golpe estava prevista a reforma da previdência.

Como a reforma trabalhista e a da previdência se relacionam?

Defendemos a revogação da reforma trabalhista, porque retira direitos. E também temos que estar em luta permanente contra a aprovação da reforma da previdência. Mas os riscos desta segunda já estão embutidos na primeira, porque, com as sete novas formas de contratação precárias previstas na nova legislação trabalhista, qual trabalhador vai poder se manter empregado por tantos anos para obter a aposentadoria integral?

É preciso destacar também que as duas reformas têm maior impacto sobre as mulheres, que já respondem por mais de 50% da renda das famílias. Se já somos prejudicadas pela discriminação no mercado de trabalho, seremos mais ainda com estas mudanças.

Qual o papel dos trabalhadores com relação às eleições, diante deste quadro?

É preciso que os trabalhadores entendam o que cada candidato está propondo e qual seu compromisso com a classe trabalhadora. O golpe foi contra os trabalhadores, para colocar no poder um governo que favorece os banqueiros, com gente deles no Banco Central e no Ministério da Fazenda, e uma política econômica que privilegia o grande capital. O combate à corrupção foi uma falácia, uma mentira. Eles não têm compromisso com o bem estar da população. Tanto é que uma das primeiras medidas do governo golpista foi a pressão sobre o congresso para oo a Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos por 20 anos. O reflexo disso já estamos vendo nas ruas, com a miséria, o aumento do número de pessoas em situação de rua e da criminalidade.

Como tem sido a atuação dos bancos neste momento de crise?

Os bancos têm estratégias nacionais e costumam provocar retração do crédito em tempos de crise. Mas nós defendemos o contrário. O debate sobre o sistema financeiro não aparece na mídia e isso nos preocupa. O setor foi o único que não só lucrou, mas aumentou sua lucratividade neste momento de economia em crise. Também tivemos os avanços tecnológicos que provocaram cortes de postos de trabalho nos bancos e um aumento do número de ataques, assaltos e arrombamentos nas agências. Mas os banqueiros não se interessam por pessoas. Demitem empregados e fecham agências que são necessárias para a população. E ainda reduzem a oferta de crédito. Mas o debate sobre o papel do sistema financeiro não vai além das discussões dos sindicalistas bancários, não vai para a sociedade, porque os bancos querem continuar mantendo seus altíssimos lucros. Nós, bancários, defendemos crédito barato, com juros compatíveis com a situação do país, e um sistema financeiro comprometido com o desenvolvimento. Mas com este governo ilegítimo, aliado dos banqueiros, isto não será feito.

Como fica a situação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro com a extinção da contribuição sindical obrigatória?

Nosso sindicato realizou uma assembleia onde foi aprovada a Contribuição Sindical Voluntária e os bancos desconsideraram a decisão coletiva dos trabalhadores. Não estão acatando a decisão da assembleia e estão informando aos bancários, através de seus canais de comunicação interna, que aqueles que quiserem pagar a contribuição devem comunicar sua decisão através de carta individual. Mas nós convocamos uma assembleia para sócios e não sócios do sindicato, tudo dentro das normas, e defendemos que a decisão é coletiva e que a assembleia é soberana.

Qual o objetivo dos bancos ao tomar esta atitude?

Eles querem enfraquecer o movimento sindical, sufocar as entidades e deixa-las sem condições de sobreviver. O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro tem um excelente número de filiados, mas as receitas com mensalidades dos sócios não são suficientes para cobrir nossas necessidades. Vai ser difícil, temos nossa sede administrativa, a sub-sede, nossa sede campestre, mantemos assessorias jurídicas nas áreas trabalhista, criminal, cível e previdenciária para atender aos bancários. Também precisamos garantir a sustentabilidade das entidades de grau superior – as Federações, nossa confederação nacional e nossa central sindical – que são nossa estrutura organizativa e garantem a força do movimento nacional.

Mas, historicamente, a CUT e seus filiados sempre defenderam que os trabalhadores sejam responsáveis pelo sustento de suas entidades sindicais. Com a não obrigatoriedade da contribuição, alguns sindicatos que não tinham um trabalho de base eficiente, com credibilidade junto à suas categorias, vão acabar. Não é o caso do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, até porque a assembleia dos trabalhadores aprovou a Contribuição Sindical Voluntária. Apesar da dificuldade, acreditamos que é possível mudar a realidade e fortalecer nossa entidade.

A Chapa 1 tem uma composição que reúne forças políticas variadas. Por que foi feita a opção por compor uma chapa com esta característica?

Entendemos que a hora não é de divisão, mas de união. Parte do grupo que faz oposição à nossa gestão compôs conosco. Temos diferenças, mas, neste momento, a responsabilidade fala mais alto. As diversas forças políticas que estão representadas na chapa compreendem que é importante ter maturidade política para enfrentar os desafios que temos diante de nós.

A chapa tem novos nomes em relação à diretoria atual?

Tivemos em torno de 20% de renovação. Entendemos que é importante envolver os trabalhadores na luta sindical e renovar a diretoria do sindicato, que tem que refletir a realidade da base. Já temos um descolamento entre a diretoria e a base, principalmente no que diz respeito a idade e gênero. É desafiador aproximar do sindicato os trabalhadores mais jovens e as mulheres bancárias. Esta renovação é necessária, para que possamos mesclar a experiência nos antigos com a disposição dos novos.

 

Fonte: Fetraf-RJ/ES