Foto: Jailton Garcia / Contraf-CUT
Representantes dos trabalhadores do Bradesco de todo o pais estão reunidos em São Paulo para atualizar a pauta de reivindicações específicas que será entregue ao banco. Durante o encontro, realizado nesta quinta-feira 7, os dirigentes participaram de uma análise de conjuntura e de uma apresentação do Dieese sobre os números do Bradesco.
E os números do banco dizem muito a respeito do atual momento pelo qual o país está passando. Mesmo diante de um cenário de profunda crise econômica, com queda de 7% no PIB em dois anos (2015 e 2016), em que os empréstimos – a maior atividade das instituições financeiras – estão em queda, como o Bradesco conseguiu obter o maior lucro da sua história nos últimos anos? E como os trabalhadores e clientes do banco estão inseridos e são afetados por este contexto?
Esses questionamentos foram a tônica da apresentação do Dieese feita pelo economista Gustavo Carvazan. Em 2017, o Bradesco lucrou R$ 19 bilhões, crescimento de 11% em relação a 2016.
Reação à redução dos juros
Gustavo avalia que em 2012, quando a então presidenta Dilma Rousseff tentou implantar um movimento de redução das taxas de juros, os bancos brasileiros reagiram e mudaram sua forma de atuar.
A partir daquele momento, as principais instituições financeiras começaram a traçar uma estratégia de aumento dos lucros diminuindo custos com a redução de postos de trabalho e de agências, empurrando as operações para a plataforma tecnológica (aplicativo e Internet Banking), retraindo a oferta de crédito, e apostando nos ganhos de tesouraria, como aplicações em títulos da dívida e ações negociadas na bolsa.
Nesse movimento, o crédito para empresas ficou cada vez mais escasso, afetando a economia. Em 2008, o banco reservou 28% do crédito para pequenas e médias empresas. Em 2018, esse volume caiu 10 pontos percentuais, para 18%, reforçando que a instituição financeira contribui cada vez menos para o desenvolvimento do setor produtivo, o que aumenta o desemprego e agrava a crise econômica.
Os repasses do BNDES para que o Bradesco faça empréstimos para as empresas caíram quase 20%, o que reforça outro ponto característico da atual era Temer: o desmonte do BNDES como indutor do desenvolvimento da economia produtiva.
Tarifas cobradas dos clientes cada vez mais caras
Em 2017, a única receita do banco que cresceu foi a prestação de serviços e tarifas cobradas dos clientes, atingindo R$ 24 bilhões com elevação de 11,4% em 12 meses. Apenas com essa receita, o Bradesco cobre o total de suas despesas de pessoal e ainda restam R$ 3 bilhões.
Aumento do lucro reduzindo postos de trabalho
Um dos pontos da nova estratégia de aumento do lucro é a redução de postos de trabalho. Em julho de 2017, o Bradesco lançou o Plano de Desligamento Voluntário Especial (PDVE), no qual aderiram 7,4 mil trabalhadores. O custo do plano foi de R$ 2,3 bilhões, mas o efeito anual estimado é uma redução de custo de R$ 1,5 bi por ano. Ou seja, o banco gastou R$ 2,3 bilhões, mas em um ano e meio já terá coberto essa despesa.
“Os bancos estão inseridos no modelo de organização da sociedade atual em que poucas pessoas ganham muito e o número de pessoas excluídas é cada vez maior. E o padrão de funcionamento dos bancos no Brasil de 2012 para cá reforça essa lógica”, avalia Gustavo.
1% contra 99%
Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e bancária do Bradesco ressaltou a importância do debate político diante da atual conjuntura em que eleições estão previstas após o golpe de 2016 que resultou na retirada de inúmeros direitos da população e abalou seriamente a soberania nacional.
“A gente alertava que o golpe era contra a democracia, contra o trabalhador e que todo mundo ia perder. E estamos vivendo isso. A crise é de caso pensando. É um modelo de país que eles querem. Não é incompetência. Em 2013, quando o Brasil vivia situação de pleno emprego, o Ilan Goldfajn era economista chefe do Itaú e escreveu artigo publicado no jornal O Globo defendendo o desemprego. E hoje ele é presidente do Banco Central”, disse Juvandia.
“Nós vamos politizar essa campanha nacional, vamos debater a política nos locais de trabalho, porque quem não participa da política vai ser governado por aqueles que participam. E os bancos, os grandes empresários, os grandes meios de comunicação, a elite em geral têm a política na veia. O indivíduo só é cidadão se participar da política. Do contrário, estará alijado dos processos decisórios e da condução dos processos que afetam a sua vida. E não tem jogo. É 1% contra 99%. Se os 99%, se a classe trabalhadora tomar consciência do poder que ela tem, a gente vira o jogo completamente e manda nesse país. Mas sem ódio. E sozinhos nós não vamos conseguir fazer nada”, finaliza Juvandia.
Fonte: Rede Nacional dos Bancários