A terceira rodada de negociação entre Fenaban e Comando Nacional dos Bancários, realizada nesta quintal-feira (19/07), em São Paulo, ficou aquém das expectativas. Os representantes dos trabalhadores esperavam algum avanço sobre as questões de saúde e condições de trabalho, mas a federação patronal, não apresentou propostas concretas.
“Esperávamos alguma proposta principalmente em relação à cobranças das metas, que entendo ser um dos carros chefes dessa campanha”, relata Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da entidade no Comando Nacional. Os trabalhadores apresentaram várias reivindicações por escrito, na minuta entregue há mais de um mês, em 13 de junho, mas os patrões não se posicionaram. “Acredito que eles tenham condições de responde-las diretamente. Este não é o primeiro ano de negociação e as nossas demandas são bem conhecidas. Mas não deram nenhuma resposta direta”, lamenta o dirigente.
Algumas cláusulas tiveram atenção especial do Comando. Foi o caso da de número 27, sobre estabilidades provisórias de emprego para bancários afastados pelo INSS. “Reivindicamos estabilidade de 60 dias após o retorno, mas os bancários estão sendo demitidos depois de 15 dias. Com isso, o tempo de afastamento não é contado para efeito de aposentadoria”, destaca Nilton. A cláusula 29, que diz respeito à complementação do benefício previdenciário e também à dispensa de junta médica para revalidar o laudo do INSS, e a 45, sobre o Programa de Retorno ao Trabalho, ficaram de ser respondidas posteriormente. Os banqueiros entendem que o Programa de Desenvolvimento Organizacional, objeto da cláusula 57, precisa avançar e prometeram cumprir o determinado na CCT. Sobre a cláusula 58, sobre prevenção de conflitos, a Fenaban alegou que é necessário aprofundamento do conceito.
As negativas mais diretas ficaram por conta das cláusulas 65 e 67. A primeira trata do adiantamento emergencial de salário nos períodos transitórios de afastamento por doença. Os bancos pretendiam excluir esta cláusula, alegando que não é mais aplicável, e os bancários sugeriram, em contrapartida, uma mudança na redação. A cláusula 67, sobre comissões paritárias, ficou sem resposta.
Sobre segurança bancária, a Fenaban concordou em alterar a cláusula 33. Será ampliado para bancários vítimas de tentativas sequestro o direito a atendimento médico e psicológico, registro de BO, a inclusão na divulgação dos dados estatísticos e a possibilidade de realocação para outro local de trabalho, a exemplo do que é oferecido aos empregados que sofrem sequestros consumados.
A discussão sobre assédio moral e as metas, como sempre, enfrenta resistência por parte dos patrões. “Os bancos não reconhecem a situação que vemos e conhecemos através do contato com a base e com pesquisas. O assédio e as metas realmente provocam adoecimento dos bancários, mas os patrões desconsideram esta relação clara de causa e efeito”, critica Nilton Damião.
A crítica dos trabalhadores é embasada pelos dados de estudo feito pelo Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, que mostra que os bancos respondem por 5% dos afastamentos pelo INSS netre 2012 e 2017, sendo que o setor emprega apenas 1% dos trabalhadores do país. Também foi comprovado que 6% dos afastamentos são por doenças causadas pelo modelo de gestão do setor. O transtorno depressivo recorrente atinge 21,2% dos afastados; 18% dos adoecidos sofrem transtorno de ansiedade, 14,6% apresentam estresse grave e 17,1% experimentaram episódios depressivos.
Contra o tempo
A próxima rodada será no dia 25 e tratará de emprego. Mas os representantes dos trabalhadores já estão apreensivos, porque o tema da negociação de ontem não foi esgotado. “Estamos correndo contra o tempo para não perder nossos direitos com o fim da vigência da CCT atual. Mas os banqueiros estão muito calmos e nós precisamos pressionar para que a nova Convenção seja assinada o quanto antes, mantendo nossas conquistas. Temos que construir uma mobilização muito forte”, adianta Nilton Damião Esperança.