ESPECIAL MÊS DA MULHER: A cidadania social como caminho para a cidadania politica – Parte II

Rita da Costa Pereira *


Após a paralisia provocada pela instalação da ditadura militar no Brasil, o país viveu um momento muito particular e rico politicamente no período de 1979 a 1985. Apesar de asfixiado, o movimento sindical recebeu uma importante ajuda para a retomada da luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Com a pauperização da classe trabalhadora as periferias das grandes cidades se organizaram em associações de bairros e movimentos sociais que acabaram por pressionar os governos. É neste momento que condições de vida e trabalho se encontram, e nesse encontro as necessidades e reivindicações são assexuadas. Homens e mulheres se unem em um objetivo comum: por melhora da qualidade de vida.



No campo, seja pela “mãos” das pastorais ou grupo laicos, as mulheres começam o debate sobre seu papel como cidadãs – não que isso não tivesse acontecido antes, só que agora ele começa a tomar corpo. Num espaço onde o trabalho doméstico se confunde com o trabalho do campo, as trabalhadoras rurais começam a questionar o trabalho exaustivo e sua responsabilidade na renda familiar. Em um primeiro momento, essas organizações denunciaram a ausência do Estado nos seus direitos básicos à saúde e educação. Neste contexto nasceram abaixo-assinados, passeatas e encontros. Apesar de lutarem por inclusão social, esses movimentos levaram as trabalhadoras rurais a questionamentos mais profundos ligados ao feminino. Quando a discussão é saúde, despontam a maternidade e suas responsabilidades. Daí para o questionamento do “porque somente à mulher cabe a responsabilidade pela criação de seus filhos?”, é um pulo.



Com a redemocratização do Brasil, surgiu em 28 de agosto de 1983, em São Bernardo do Campo, SP, a Central Única dos Trabalhadores – CUT. Em seu estatuto, seus objetivos principais são: “… o compromisso com a defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora, a luta por melhores condições de vida e trabalho e o engajamento no processo de transformação da sociedade brasileira em direção à democracia e ao socialismo;”. As mulheres participaram ativamente deste processo histórico, e do mundo do trabalho surgiu seu principal palanque político: o movimento sindical. Neste espaço suas demandas foram expostas e soluções cobradas. Contra a discriminação por sexo – demanda que rompia as paredes de casa, reconhecimento da sua contribuição social e econômica pela sua força de trabalho – na casa ou na empresa. Enfim, a mulher conquistou sua cidadania social, antes restrita apenas aos homens. Finalmente saiu da sombra do trabalho masculino e mostrou sua força produtiva. Mas existiam demandas específicas das trabalhadoras, o que acabou na criação, no ano de 1986, da Comissão da Questão da Mulher Trabalhadorada CUT, em nível nacional.



Apesar do crescente aumento da presença das mulheres nos espaços políticos, esse número ainda é pequeno nas direções das entidades sindicais. Uma das tentativas da CUT para diminuir essa diferença de gêneros nas direções foi a implantação, em 1993, do sistema de cotas mínimas de mulheres. Mesmo com esta iniciativa, ainda temos poucas mulheres nas diretorias executivas das entidades. Não vou entrar aqui na questão do machismo que ainda faz parte de nossa sociedade, e que por isso também está presente dentro do movimento sindical. Essa prática é visível, porém cada vez a mulher se torna mais autônoma, mais crítica, mais escolarizada, o que tem dado a ela mecanismos para enfrentar e lidar com mais tranquilidade com essa prática. Prefiro pensar que o principal entrave da vivência política da mulher trabalhadora brasileira ainda é fruto de sua jornada dupla de trabalho: empresa e lar. As creches liberaram as mulheres para o trabalho, mas não para a vida política.



Neste importante espaço de atuação política conquistado pelas trabalhadoras brasileiras – as entidades sindicais –, seria interessante que fossem criadas unidades sindicais não por local de trabalho, mas pelo de moradia do trabalhador. Essas unidades devem ser equipadas com creches para que essas trabalhadoras possam participar mais ativamente das discussões sem comprometer suas outras tarefas diárias.



É preciso diminuir a distância entre o espaço político e a trabalhadora. Afinal os dados do último senso do IBGE, do ano de 2010, mostraram que em nosso país quase 40\ % \ das famílias são chefiadas por mulheres, ou seja, de cada dez famílias, quatro têm chefia feminina. Já é hora de aumentarmos, também, o número de participantes femininas em suas entidades sindicais de base. É preciso que dirigentes sindicais de ambos os gêneros pensem em soluções práticas para aumentarmos a participação das mulheres.


 



============================================


* Rita da Costa Pereira é graduada em História pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em História Contemporânea pela Universidade Cândido Mendes

Fonte: Rita da Costa Pereira