Aconteceu no último dia 23, no centro do Rio, um ato para lembrar o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. A manifestação, que aconteceu em frente a uma agência do Bradesco na Avenida Rio Branco, principal eixo financeiro do centro da cidade, foi promovida pela Contraf-CUT, a Fetraf-RJ/ES e o Seeb-Rio.
A situação precária em que se encontra a maior parte da população negra e o racismo institucional que há no Brasil levaram à criação do Dia da Consciência Negra. A data escolhida – 20 de novembro – é o dia em que foi assassinado Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, no ano de 1695.
O Brasil é o país com a segunda maior população negra do mundo, atrás somente da Nigéria. Dados oficiais registram que 54% da população brasileira é negra, mas as oportunidades não são iguais. Somente 12% dos estudantes universitários são negros, mas 64% da população carcerária é composta por afrodescendentes. O número de mulheres negras assassinadas aumentou em 15,4%.
No mercado de trabalho a desigualdade aparece nitidamente. Dos 13 milhões de desempregados que o Brasil tem hoje, 64% são negros. “Nos bancos, somente 3,4% dos empregados são negros e, na maioria dos casos, ocupam cargos onde não há relacionamento pessoal com os clientes. Negros e negras têm mais dificuldade de serem contratados, mesmo que apresentem a capacitação exigida para o cargo pretendido”, informa Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT. Mesmo com dois bancos públicos de grande porte – o BB e a Caixa –, onde o ingresso se dá por concurso, o número de negros e negras não reflete a proporção de afrodesdendentes na população. Esta situação é provocada pela diferença na qualidade da educação oferecida à população mais pobre, que é predominantemente negra.
Elas sofrem
O ato também chamou atenção para a situação da mulher na sociedade e no mercado de trabalho. A manifestação aconteceu dois dias antes de outra efeméride: 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Mesmo com uma das legislações mais avançadas sobre o assunto, os números brasileiros são impressionantes. Não há acolhimento da mulher que vai registrar Boletim de Ocorrência, porque a postura machista dos policiais desestimula a vítima a denunciar o agressor. O Judiciário é lento para conceder medidas protetivas para as mulheres que são agredidas. E as casas de acolhimento para as vítimas, que deveriam estar presentes em todas as cidades de grande e médio porte, são raras e precárias. Para as mulheres negras a situação é ainda mais grave. Enquanto os assassinatos de mulheres brancas caiu 8%, o de mulheres negras subiu para 15,4%.
No mercado de trabalho as mulheres ainda enfrentam dificuldades. “Os salários são mais baixos, há restrições ao crescimento na carreira, faltam de creches para os filhos, muitas são demitidas logo após a licença-maternidade, e há sempre dificuldades de contratação quando há homens disputando a mesma vaga”, relata Adilma Nunes, diretora de Políticas Sociais da Fetraf-RJ/ES.