Fortalecer bancos públicos para gerar desenvolvimento e distribuição de renda

Carlos Cordeiro*



 
Especialista em especulação financeira, o ex-presidente do Banco Central no período final do governo FHC, quando elevou a taxa Selic para 24,9 % , Armínio Fraga, nome de Aécio Neves para ministro da Fazenda, tem uma antiga obsessão em desmontar os bancos públicos, para atender a um velho desejo dos bancos privados e dos neoliberais.



No dia 26 de junho de 2000, o jornal Valor Econômico publicou matéria de seu correspondente nos Estados Unidos, Cristiano Romero, com o título “Fraga anuncia debate para privatizar BB”, na qual informa que o então presidente do BC participou de “reunião fechada com um grupo de investidores em Nova York (…) organizado pelo banco americano Merill Lynch”, para “iniciar um debate sobre a possível privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal”.



Segundo o jornal, “Fraga revelou que o governo está preparando relatórios detalhados sobre as atividades dos dois maiores bancos federais”, um dos quais foi encomendado a um consórcio formado pelas consultorias Booz Allen, Hamilton & Fipe, na sequência das privatizações da Telebras, da Vale do Rio Doce e da CSN.



Depois de Nova York, acrescentou o Valor, Fraga manteve outra reunião com investidores em Boston, para “conversas preparatórias para a rodada de apresentação que a Petrobras e o BNDES farão no exterior, nas próximas semanas, sobre a venda das ações que excedem ao controle da União na estatal”.



Em áudio que circula atualmente pela internet, gravado no ano passado durante palestra no Instituto Liberal, Armínio Fraga voltou ao tema das privatizações. Disse ele: “Penso que os bancos públicos precisam ser administrados por padrões muito mais rígidos. Provavelmente vai chegar um ponto em que talvez não tenham tantas funções. Não sei muito bem o que vai sobrar no final da linha. Talvez não muito.”



Confira aqui a declaração



É mais ou menos o que já propunha em 2000 o estudo do consórcio Booz Allen, Hamilton & Fipe sobre o papel do BB, da Caixa, do BNDES, do BNB e do Banco da Amazônia. Entre as alternativas apontadas, estavam a fusão de alguns e a privatização pura e simples de outros.



A sociedade brasileira não pode permitir esse retrocesso à década neoliberal dos tucanos e abrir mão dos bancos públicos, cuja importância para o desenvolvimento econômico e social do país tornaram-se mais evidentes do que nunca a partir da crise internacional de 2008, provocada pela irresponsabilidade do mercado financeiro a que Armínio Fraga representa.



Foi graças à atuação dos bancos públicos que o Brasil superou a crise. Os bancos privados fecharam a torneira e encareceram o crédito. Por decisão do governo, os bancos públicos ampliaram a oferta de crédito. Antes da crise, eles detinham 36 % das operações de crédito de todo o sistema financeiro. Saltaram para 51 % do mercado, mantendo assim a roda da economia funcionando, o consumo aquecido e gerando empregos.



Sem o aumento da oferta de crédito do BB para a agropecuária, a agricultura familiar, para empresas e consumidores, o Brasil não teria saído da crise muito mais rápido que qualquer país do mundo. Sem o financiamento da Caixa, não estaria fazendo o maior programa de construção de moradia de toda a História. Sem os financiamentos do BNDES, o Brasil não estaria modernizando suas estradas, portos, aeroportos, retomando a construção de ferrovias, obras de metrô e corredores de ônibus, usinas hidrelétricas e eólicas, dentre tantas outras coisas.



Além disso, os bancos públicos atuaram na crise como reguladores do spread bancário, multiplicando suas bases de clientes com crédito mais barato.



Agora os bancos privados, que na crise preferiram especular com o dinheiro empoçado e não cumpriram sua função de intermediação financeira, exigem a retração dos bancos públicos e a elevação da Selic, para que possam retomar o espaço perdido e aumentar seus lucros com os juros da dívida pública.



E é isso que o “ministro da Fazenda” de Aécio, que se tornou conhecido como operador do megaespeculador George Soros e hoje é sócio do banco norte-americano JP Morgan na Gávea Investimentos, está oferecendo à banca nacional e internacional.



Por isso o mercado financeiro está fazendo esse verdadeiro terrorismo eleitoral para eleger o candidato que atenderá suas demandas, além de ganhar dinheiro com a especulação na Bolsa de Valores – entidade, aliás, cujo Conselho de Administração já foi presidido por Armínio Fraga.



Nós, bancários, ao contrário, acreditamos que somente os bancos públicos podem se contrapor a essa política predatória do mercado financeiro contra o orçamento público e contra a sociedade. E por isso precisam ser fortalecidos, para que ampliem ainda mais a sua participação no financiamento do desenvolvimento econômico e social do país, com geração de empregos e distribuição de renda.


 


* Carlos Cordeiro é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)

Fonte: Carlos Cordeiro