As perguntas abaixo foram feitas em uma lista de discussão sobre o terceiro setor e ajudam a derrubar alguns preconceitos que o cotidiano na cidade acaba incutindo às pessoas.É importante conhecer mais sobre a luta dos índios para poder apoiá-la.
1- O nome da cidade é ARACRUZ? O mesmo da empresa?
Sim, o nome da cidade e da empresa é o mesmo. A cidade era chamada de Santa Cruz até 1943, quando um decreto mudou a sede do município para uma localidade chamda Suassu e rebatizou a cidade para Aracruz.
2- Pelo que entendi esses 11.900 hectares de terra estão há 30 anos de posse da Aracruz Celulose. E os índios tinham inclusive um acordo financeiro firmado com a empresa desde 1998… por que ela foi invadida pelos índios em maio/2005, rompendo o acordo feito anteriormente? Queriam mais dinheiro? Qual foi a motivação real?
Há 30 anos atrás, quando a Aracruz tomou posse dessa área, já havia índios que moravam na mesma terra e foram deslocados. A disputa pela área entre a empresa e os índios não foi resolvida nesses 30 anos, só que às vezes torna-se mais visível como nas últimas semanas. O governo tem registros da presença dos índios Tupiniquim nessa área, datados de 1924. O texto a seguir, escrito por Carlos Augusto da Rocha Freire, do Museu do Índio, e publicado no site do Instituo Sócioambiental (www.isa.org.br) ajuda a entender o contexto histórico dessa disputa:
As áreas tradicionais de cultivo das aldeias Tupiniquim foram cercadas e reduzidas, quando foram plantados os eucaliptos pela Aracruz Florestal, no fim dos anos 60. Seu modo de vida – o padrão de convivência que resultava da ocupação territorial – sofreu as pressões originadas da enorme redução das áreas de plantio e da fixação em determinados limites, impedindo a tradicional rotatividade das roças.
Os poucos autores que escreveram sobre os Tupiniquim assinalam que os anos sessenta foram decisivos na alteração do panorama fundiário, marcando a entrada da empresa Aracruz Florestal na região, seguida da progressiva expulsão dos índios. Nessa ocasião, o sofrimento dos índios foi acompanhado por algumas manifestações de protesto. Ao estudar os diferentes ecossistemas do Espírito Santo em 1954, o biólogo Augusto Ruschi se defrontou em Caieiras Velhas, na margem esquerda do rio Piraquê-Açu, com “80 índios Tupi-Guarani”, vivendo numa área de 30.000 hectares de florestas virgens. Já em 1971 o mesmo Ruschi lamentava a forma como era arrasada a flora e a fauna, com o desmatamento atingindo os índios, pois mais de 700 famílias, entre índios e posseiros, foram desalojados da região reflorestada pela Aracruz Florestal. Foram destruídas antigas aldeias Tupiniquim como Araribá, Amarelo, Areal, Batinga, Braço Morto, Cantagalo, Guaxindiba, Lancha, Macaco, Olho d’Água e Piranema. Os índios até hoje relatam as cenas de violência e desrespeito que sofreram nas áreas visadas pela Aracruz Florestal.
3- Diz a matéria que os índios detém 3.000 hectares. Como cada hectare equivale a 10.000 metros quadrados, isso significa cerca de 30.000 metros quadrados de área, o que dá aproximadamente 1/4 do tamanho da minha cidade, onde moram cerca de 453 mil habitantes (Niterói). Como a matéria fala em 50 índios resistindo à ocupação… É preciso esclarecer: de quantos índios afinal estamos falando? E esse grupo pleiteia mesmo ocupar quase 15.000 hectares?? (Afinal são 150 km quadrados! é bem maior que minha cidade, que só tem 131,8 km2). Ou eles apenas na verdade pressionam por um reajuste no acordo anterior (de 1998)?
Não se pode comparar a área ocupada por uma pessoa no meio urbano com área ocupada por indígenas porquê o modo de vida e as necessidades dos dois são diferentes. Um exemplo: eu passo o dia trabalhando em meu computador e ocupo 4 metros quadrados para minha atividade profissional. Os empregados de uma fábrica, de uma fazenda, mesmo de uma universidade vão ocupar uma área bem maior do que a que eu ocupo. Isso não quer dizer, que eles não precisam dessa área, ou que sejam mais ineficientes do que eu. As atividades são diferentes. A propósito, há 2500 índios no Espírito Santo, todos nessa região.
4- Se a liminar foi concedida em 07/12/2005, e já havia uma outra (revogada) em 19/05/2005 (um dia após a invasão dos índios, que foi no dia 18/5/2005), será que esses índios foram pegos assim tão de surpresa? Mesmo ocupando uma área que é de propriedade de uma empresa há 30 anos? Eles não esperavam mesmo uma ordem de reintegração de posse? Mesmo tendo unilateralmente rompido o acordo que mantinham com a Empresa?
Sobre isso eu não posso fazer nenhum comentário. Quanto mais eu busco lógica e sentido nos procedimentos e decisões do Poder Judiciário, menos eu as entendo.
5- Que casas estão sendo destruídas pelas máquinas da empresa? Os índios agora constroem casas de alvenaria? Até pode ser que sim, já que a matéria afirma que eles só se comunicam através de celular… Afinal quantas e que tipo de casas foram construídas nesses últimos 7 meses que durou a invasão?
Não sei se eles têm celular e não sei se suas casas são de alvenaria. Se forem, creio que eles não podem ser considerados menos índios por causa disso. Em geral o que os índios acham que facilita suas vidas eles usam mesmo. Desde um chinelo até um celular. Aliás, ontem estava num bar onde a maioria das pessoas usava roupas de marcas americanas e italianas, mas que provavelmente foram produzidas na China. Ouvia-se música inglesa e comentava-se sobre o Big Brother (acho que a idéia é dos holandeses). Mas ninguém duvidava da brasilidade de todos que estavam ali. Aliás, sou brasileiro mas escrevo esse email agora num computador paraguaio.
6- Finalmente, quantos empregos para brasileiros (não-índios, suponho) são gerados pela Aracruz Celulose nessa área?
Esse é um raciocínio perigoso Elson. Se uma organização gera empregos, ela pode ultrapassar os limites do convívio social? Tráfico de drogas e crime organizado tambem geram emprego mas ninguém defende essas atividades por isso. Guerras também. Geram emprego e avanço científico. Acho que essa questão de número de empregos gerados é irrelevante.
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