A Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso) aprovou,por unanimidade, a proposta de destinar 5% das vagas acandidatos que se declararem negros ou pardos no concursopara docente. A medida pode ser estendida, pois o MECestuda implementá-la nas universidades federais. ODepartamento de Políticas da Educação Superior doministério analisa a viabilidade do tema. Apesar de as instituições terem autonomia, a pasta podeinduzir a adoção do sistema. A intenção de implementar cotaspara professor foi conseqüência da discussão para adoção dareserva para alunos, bandeira do governo Lula. “Legalmente, não vejo problemas. A questão é saber se asuniversidades vão querer implementar”, afirma ocoordenador-geral de legislação e normas da educaçãosuperior do MEC, Marilson Santana. Ele ressalta que aindanão há uma definição na pasta. O tema é polêmico. Apesar da cota para docente ter sidoaprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário daUnemat, a Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso aconsidera inconstitucional por ferir o direito de igualdade.Especialistas também se dividem sobre o assunto. Oscontrários consideram que devem ser selecionados osmelhores, independente da origem. O professor Paulo Alberto dos Santos Vieira, coordenador doNegra (Núcleo de Estudos sobre Educação, Gênero, Raça eAusteridade da Unemat), disse que a proposta começou a serestudada assim que a universidade criou cotas para alunos. Segundo ele, uma pesquisa por amostragem constatou quehá menos de 7% de alunos negros nas universidades doEstado, sendo que o IBGE aponta que 54% da populaçãolocal se autodeclara negra. “Se há tão poucos estudantes,imagine o número de professores”, avalia. Mesmo com o parecer contrário da Procuradoria, Vieira vaiinsistir na idéia. “O conselho universitário é o órgão supremoda universidade e aprovou a criação. Vamos provar que éválida.” Almir Arantes, vice-reitor da Unemat e presidente da comissãode concursos públicos, disse que haverá uma reunião napróxima segunda-feira com o conselho universitário e a reitoriapara discutir o parecer da Procuradoria. A Unemat tem hoje 277 professores efetivos e cerca de 700 substitutos e temporários. O concurso público vai abrir 427novas vagas. Atualmente, não há dados oficiais sobre a presença dedocentes negros no ensino superior do país. Mas há umacerteza: está muito abaixo da proporção de negros e pardosna sociedade, que chega a quase metade. Na USP, por exemplo, há 5.000 professores. “Não devemoster nem 50 negros [1%]”, afirma João Zanetic, vice-presidenteda Adusp (associação de docentes). O antropólogo Kabengele Munanga, 63, é um deles. Professorda principal universidade do país desde 1980, ele classificacomo “invisível” a presença de negros na instituição. “Adiminuição das desigualdades precisa de medidas práticas enão só de discurso”, diz. No Paraná, uma lei estadual de 2003 reserva aosafrodescendentes 10% das vagas em concursos públicos,inclusive para professor das universidades estaduais. Obenefício, porém, ainda não chegou a ser colocado em práticapela Universidade Estadual de Londrina porque o concurso épor área específica. “Para cada cinco vagas abertas, uma épara docente negro”, diz Rodne Lima, pró-reitor de RecursosHumanos da UEL.
(Por Fernanda Bassette e Fábio Takahashi – Folha de S.Paulo – em 4/fev)
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