RECIFE – Conhecido nacional e internacionalmente por suas praias e pelo Carnaval, Pernambuco é, desde 2002, líder de um ranking assustador. O estado é recordista nacional no número de mulheres assassinadas. Até hoje, 38º dia do ano, 44 mulheres foram mortas de forma violenta. Diante da gravidade do quadro – denunciado por organizações não governamentais ligadas ao movimento feminista de Pernambuco – a ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres do Governo Federal, Nilcéia Freire, esteve hoje em Recife para anunciar a decisão do governo federal de priorizar o fortalecimento de uma rede local de atendimento à mulher.
Entre as ações anunciadas estão a criação de centros de referências para atendimento psicológico e jurídico às vítimas de agressão e a ampliação do número de delegacias especializadas. “Para isso, o governo federal irá firmar parcerias com o governo estadual e prefeituras da Região Metropolitana do Recife”, explicou a ministra.
De acordo com dados coletados por entidades ligadas ao movimento feminista e da secretaria de Defesa Social, a maior parte dos crimes ainda é cometida por namorados, maridos e outros familiares, dentro do ambiente doméstico. Mas o percentual de homicídios que ocorrem à luz do dia e em espaços públicos – até mesmo em ruas de grande movimento, praças e em frente a hospitais – já representa cerca de 40% dos casos. O secretário de Defesa Social, João Braga, reconheceu o problema mas não detalhou as ações que serão adotadas pelo Estado. “Estamos prontos para auxiliar na transformação dessa realidade”, limitou-se a comentar.
Dispostas a chamar a atenção da opinião pública nacional para a questão, o Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE) – que reúne 67 entidades feministas – realizou, na semana passada, uma vigília no centro de Recife, com cerca de mil pessoas, para exigir a adoção imediata de políticas públicas de prevenção e enfrentamento da violência contra a mulher e de proteção às vítimas. Graças ao resultado obtido, as organizadoras do evento decidiram adotar um calendário fixo de manifestações desse tipo, que passarão a acontecer na primeira semana de cada mês.
Insatisfeitas com o tratamento dado ao assunto por parte do governo estadual as feministas alertam para um quadro ainda mais grave. “Infelizmente sabemos que os números oficiais são sub-notificados e isso significa que o problema é, certamente, muito mais grave”, sentenciou Ana Veloso, coordenadora do FMPE.
“Não temos apoio do poder público estadual. Já enviamos relatórios, denúncias e elaboramos diversas propostas. Participamos de inúmeras audiências com representantes do Legislativo, Executivo e Ministério Público. Todos nos recebem, prometem, mas não fazem nada”, reclamou Ana Paula Portella, da coordenação de pesquisa da Organização Não-Governamental SOS Corpo. Apontada pelas feministas como um exemplo de coragem, a professora Margarida Silva enfrentou o ex-marido – que durante anos cometeu agressões verbais, humilhando-a e ameaçando-a fisicamente – e buscou no movimento feminista uma outra forma de encarar a vida.
“Ele me xingava e dizia que eu estava saindo com outros homens. Isso tudo porque eu passei a trabalhar fora de cada e ganhar mais que ele. Sofri muito, mas depois que conheci o trabalho das entidades que defendem os direitos das mulheres tomei coragem e saí daquela vida. Hoje, eu ajudo outras mulheres a deixar para trás dias de sofrimento e dor”, contou Margarida.
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