Cadê o aluno?

Humberto Trezzi



O Rio Grande do Sul perdeu do dia para a noite cerca de 310 mil alunos registrados oficialmente, 12% do total matriculado nos estabelecimentos públicos e privados. O fenômeno ocorreu quando o governo federal checou a existência de cada estudante. Obrigou os colégios a elaborarem, além do censo escolar (no qual os diretores só informavam o número de estudantes), um cadastro que detalha nome, filiação, endereço e número de identidade de cada aluno.


O Rio Grande do Sul perdeu do dia para a noite cerca de 310 mil alunos registrados oficialmente, 12% do total matriculado nos estabelecimentos públicos e privados.


O fenômeno ocorreu quando o governo federal checou a existência de cada estudante. Obrigou os colégios a elaborarem, além do censo escolar (no qual os diretores só informavam o número de estudantes), um cadastro que detalha nome, filiação, endereço e número de identidade de cada aluno.


Para surpresa das autoridades, milhões de crianças e adolescentes não foram encontrados ou deles não se sabe dados básicos, como a identidade. As projeções do Ministério da Educação (MEC) – o cadastro está sendo tabulado – é de que os sumidos formam uma legião de 6 milhões de fantasmas, 310 mil deles no Estado. Os governantes investigam se a diferença decorre de descontrole ou é a ponta de uma fraude.


O desaparecimento de alunos será comunicado ao Ministério Público. O ministro da Educação, Fernando Haddad, acredita que fantasmas podem ter sido criados por gestores inescrupulosos. Algumas escolas teriam fraudado o censo realizado anualmente, inventando matrículas. É que quanto mais alunos um estabelecimento tem, mais verbas gerenciadas pelo MEC ele recebe.


Inflar o número de alunos seria uma estratégia de gestores que miram os R$ 35 bilhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef) e mais R$ 1,3 bilhão para compra de merenda, além de outras verbas. O dinheiro é distribuído conforme o número de alunos por escola.


O MEC aposta que a maior parte dos fantasmas não é caso de dolo e sim culpa da confusão reinante no universo escolar. Muitos desaparecidos seriam alunos evadidos, sobre os quais as escolas têm poucas informações. O censo antigo incluía os gazeteiros – o que garantia verbas, mesmo que eles não comparecessem às aulas. O novo cadastro exige que os evadidos sejam descartados.

Fonte: Zero Hora