Governo faz acordo com Japão sobre TV digital

O governo brasileiro anunciou ontem acordos com o governo japonês e a empresa Toshiba detalhando contrapartidas caso o país adote o sistema japonês de televisão digital. A Toshiba mostrou interesse em instalar uma fábrica de semicondutores no Brasil.


Ainda não foi feito um anúncio oficial sobre a escolha, mas o acordo assinado com o Japão reforça a tendência do governo brasileiro de escolher esse padrão.


Na edição do dia 8 de março, a Folha havia divulgado que o governo já escolhera o padrão japonês de TV digital, mas, desde então, o lobby do padrão europeu intensificou as suas ações.


O chanceler brasileiro, Celso Amorim, e seu colega japonês, Taro Aso, assinaram ontem memorando de entendimento para uma futura adoção do padrão japonês pelo Brasil. Amorim e os ministros das Comunicações, Hélio Costa, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, estão no Japão desde terça-feira com uma delegação brasileira para estudar o padrão japonês e negociar contrapartidas para a escolha do formato pelo Brasil.


Em seu primeiro posicionamento formal sobre o assunto, o governo brasileiro se declarou favorável ao modelo japonês de TV digital no acordo assinado com os japoneses. No texto do memorando, “o governo brasileiro manifesta seu forte desejo de implementar o SBTVD [Sistema Brasileiro de TV Digital], com base no ISDB [padrão japonês]”.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, já vinha dando declarações de apoio ao padrão japonês, mas não era corroborado por outros ministros.


O padrão é o preferido das emissoras de televisão, e, em ano eleitoral, o governo quer o apoio das principais redes. Além disso, o Japão foi o primeiro a negociar com o Brasil a possibilidade de implantação de uma fábrica de semicondutores no país.


Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não fez o anúncio oficial, o texto do memorando assinado em Tóquio tem essa ressalva: “Caso esta opção [padrão japonês] venha a ser adotada, este memorando terá como objetivo essa implementação [do padrão] e a construção das bases para a viabilização e o desenvolvimento conjunto da respectiva plataforma industrial eletroeletrônica brasileira”.


Em troca da opção pela tecnologia ISDB, o governo brasileiro quer a instalação de uma fábrica japonesa de semicondutores no país. O memorando assinado ontem também não formaliza a contrapartida industrial.


O texto do documento informa que “o governo japonês colaborará com o governo brasileiro na elaboração de um plano estratégico com o objetivo de desenvolver a indústria de semicondutores no Brasil”.


Os japoneses se comprometem a estudar a “possibilidade de investimentos futuros na indústria eletroeletrônica, incluindo a indústria de semicondutores e correlatos e a cooperação na capacitação de recursos humanos”.


No documento, foram ratificadas propostas que já haviam sido feitas pelos representantes do padrão japonês ao governo brasileiro durante as negociações: participação de representantes brasileiros no conselho que define a padronização do sistema ISDB, introdução de tecnologia inovadora desenvolvida pelo Brasil no padrão oriental, transferência de tecnologia e dispensa de pagamento, pelo Brasil, de royalties relativos a patentes das próprias tecnologias ISDB.


Além do padrão japonês, dois outros estão sendo analisados pelo Brasil: o europeu (DVB) e o norte-americano (ATSC)


 


Toshiba


Se a construção de uma fábrica de semicondutores da Toshiba no Brasil for confirmada, ficará cumprida a principal contrapartida que o governo brasileiro busca para adotar o sistema japonês.


A Toshiba mantém desde 1977 parceria no Brasil com a Semp. Hélio Costa, que anunciou o entendimento com a Toshiba, não deu detalhes sobre o acordo, mas disse que uma equipe da empresa vem ao Brasil avaliar o projeto.


“Há um compromisso assinado com a Toshiba, que já tem associação muito importante com a empresa brasileira Semp. A Toshiba está enviando ao Brasil delegação de especialistas para trabalhar imediatamente na instalação de uma fábrica de semicondutores no país”, disse Hélio Costa.


Ao ser questionado se isso significava que o Brasil havia praticamente decidido a favor do sistema japonês, o ministro respondeu: “Acredito que sim”. Mas completou: “Porém, essa é uma decisão que deve ser tomada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Nós somente preparamos o ambiente para que a decisão seja adotada”.


 


Frustração


A falta de um compromisso definitivo com o Brasil, no qual o país se comprometesse a adotar o modelo japonês de TV digital, frustrou o governo do país asiático, segundo a imprensa japonesa.


O Japão tinha a esperança de que a delegação brasileira comunicasse durante a visita a escolha do padrão de TV digital japonês.


Brasil está mais perto do padrão japonês para TV digital | 13.04.2006


Os dois países assinaram, nesta quinta-feira (13/4), um memorando de entendimento que prevê benefícios para o Brasil caso o sistema japonês seja escolhido


Exame


O anúncio oficial ainda não foi feito, mas o governo brasileiro deu um hoje (13/4) um importante passo rumo ao padrão japonês de TV digital. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, Taro Aso, assinaram, em Tóquio, um memorando de entendimento que prevê o trabalho conjunto entre os dois países.


O texto diz que, “no caso de o governo brasileiro decidir implementar o padrão japonês (ISDB-T), o Brasil e o Japão cooperarão para criar um sistema nipo-brasileiro de televisão digital… Para este fim, o governo brasileiro manifesta seu forte desejo de implementar o padrão ISDB-T”.


O governo brasileiro está praticamente decidido pelo modelo adotado no Japão. O que está em pauta, agora, é o que o país receberá em troca. A barganha envolve, por exemplo, a possível vinda de fabricantes de semicondutores para o Brasil, além de isenção no pagamento de royalties relativos à patente da tecnologia ISDB. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, também acompanha a comitiva, com o objetivo de conseguir outras vantagens comerciais ao Brasil.


Além do padrão japonês, também estão na disputa os sistemas americano (ATSC) e o europeu (DVB). Segundo informações do Ministério das Comunicações, o processo de transição do formato analógico para o digital levará pelo menos 10 anos.

Fonte: Folha de São Paulo, com Agência Brasil