Primeira rodada foi um festival de negativas

A negociação com os banqueiros começou na manhã de 08 de agosto e teve como tema saúde, condições de trabalho e segurança. Os membros do Comando Nacional usaram fitas pretas presas à roupa em referência à falta de respeito dos patrões com a vida e a saúde dos bancários. O gesto irritou os representantes dos bancos e Magnus Apostólico, que conduz a negociação pela Fenaban, chegou a reclamar: “Achei muito agressivo e inadequado para a mesa”, disse o negociador.


O primeiro tema a ser discutido foi a segurança bancária. E o Comando Nacional usou números como argumentos. Foi relatado que nos últimos sete dias houve sequestro de dez bancários nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e Pará. Gerentes e tesoureiros foram vítimas, por levarem as chaves das agências para casa. Mas banqueiros continuam não aceitando encarregar as empresas de segurança da guarda das chaves, alegando que esta medida é inviável.


Mas, para os banqueiros, os números da violência – outra pesquisa, realizada pelo Dieese para a Contraf-CUT, mostrou que 30 pessoas morreram no 1º semestre em assaltos envolvendo bancos – não demonstram uma situação alarmante. Os bancários, novamente, irritaram os patrões: “Os banqueiros só estão preocupados com a gestão dos lucros e não com a gestão das pessoas e a proteção da vida”, criticou Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.


Muita pressão


Os bancários fizeram relatos das condições de trabalho e da violência organizacional, ressaltando que estes problemas são causados pelas metas abusivas. Os sindicalistas ressaltaram que o assédio moral está extrapolando o horário de trabalho, com envio de e-mails e SMS aos trabalhadores. O suicídio de um bancário gaúcho, que responsabilizou o banco por seu gesto desesperado, foi lembrado na negociação.
Os bancários denunciaram o desrespeito dos bancos à cláusula 35 da CCT, que proíbe a divulgação de ranking de resultados. Os patrões ficaram de fazer ajustes. A discussão sobre assédio moral continuou, com a crítica dos sindicalistas ao acordo de combate à violência organizacional, que precisa de muitos ajustes. Um dos problemas apontados é o prazo muito largo – de 60 dias – para a apuração das denúncias. Para os bancários, este prazo deveria ser reduzido à metade. Também foi reivindicado que as entidades sindicais possam promover palestras sobre o tema nos locais de trabalho. Nilton ressaltou que os bancos também têm que dar tratamento diferente às denúncias recebidas. “É preciso acabar com as respostas padronizadas e principalmente com a responsabilização do gestor. Também somos contra a transferência do assediador para outro local de trabalho, às vezes até com um salário mais alto, porque isso só transfere o problema”, destacou o sindicalista. Os patrões não deram respostas e propuseram discutir na mesa temática, não durante o processo de negociação das CCT. Outra reivindicação é que o funcionário denunciante não possa ser demitido durante todo o período de apuração da denúncia. Magnus Apostólico admitiu que o problema é grave, mas destacou que esta não é uma orientação da Fenaban e que os casos devem ser resolvidos com o banco.


A conversa ficou difícil quando foi apresentada a reivindicação de acabar com as metas. “Os patrões não deram nenhuma importância à reivindicação e ainda disseram que as metas serão sempre crescentes. Os negociadores informaram que não estão dispostos a discutir este tema e que não adianta levá-lo para a mesa. Mas o Comando se posicionou, dizendo que pretendemos, sim, discutir este tema e que queremos resposta na próxima rodada”, relata Nilton Damião Esperança, representante da Fetraf-RJ/ES na negociação. Nesse ponto, os banqueiros interromperam a negociação e, ao voltarem, afirmaram que não aceitam discutir gestão.


Nada saudável


Esta foi outra discussão difícil. Um dos problemas relatados envolve o retorno dos trabalhadores afastados pelo INSS. Os sindicalistas denunciaram que muitos bancos estão entrando em contato com o bancário licenciado e convocando para o retorno ao trabalho antes da alta médica. Os exames médicos também são inadequados, com várias práticas negativas para os trabalhadores. Uma delas é o preenchimento do Atestado de Saúde Ocupacional – ASO antes mesmo da consulta. Outro problema relatado foi a realização de exames demissionais no ato da dispensa e no próprio local de trabalho. A Fenaban se posicionou contra a discussão destes tópicos na negociação da CCT e disse que só abordará os assuntos na mesa temática.


Mais uma vez, os bancários falaram firme com a Fenaban ao discutir a reabilitação do trabalhador que ficou afastado. “Não concordamos que o trabalhador deve ser adaptado ao ambiente que o adoeceu. Queremos discutir a prevenção, de modo que o bancário retorne ao trabalho, seja acolhido e não volte a adoecer”, defendeu Carlos Cordeiro. Os sindicalistas propuseram a realização de um estudo para tornar os ambientes de trabalho adequados ao trabalhador, mas os bancos não aceitaram discutir o assunto.


Mas a falta de sensibilidade ficou clara mesmo quando os sindicalistas propuseram incluir na convenção o abono das faltas dos bancários com deficiência. “Não aceitamos convencionar, e julgamos desnecessário, já que todos os bancos abonam as faltas”, respondeu Magnus Apostólico. O Comando manteve a reivindicação, destacando que isso teve ser um direito assegurado na CCT, não uma liberalidade.


Começou mal


Houve muito mais negativas que avanços nos dois dias da primeira rodada. Os bancos demonstraram que pretendem insistir no modelo de negociação já adotado nos últimos anos. Mas o Comando Nacional defende uma dinâmica diferente. “Mostramos aos banqueiros que nossa intenção é mudar a estratégia desta campanha. Queremos respostas a cada tema discutido. O que vem acontecendo é que os patrões deixam para apresentar uma proposta global para finalizarem a campanha, mas esta proposta trata apenas da remuneração. As outras questões acabam não tendo o tratamento adequado, e isso não é vantajoso para os bancários”, avalia Nilton Damião Esperança.


A próxima rodada de negociação está marcada para os dias 15 e 16. o tema abordado será emprego.


Confira abaixo as atividades já agendadas para o mês de agosto:























13 e 14 Mobilização em Brasília contra PL 4330
14 1ª rodada de negociação entre Comando Nacional e BB
15 e 16 2ª rodada de negociação com a Fenaban. Tema: Emprego
22 Dia Nacional de Luta, com passeatas dos bancários
Dia Nacional de Luta dos empregados da Caixa
28 Dia do Bancário
30 Paralisação Nacional das Centrais Sindicais

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES