Banqueiros continuam negando tudo


A segunda rodada de negociações entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban terminou sem nenhum avanço significativo. Os sindicalistas começaram a reunião cobrando respostas às demandas apresentadas na rodada anterior, que tratou de saúde, condições de trabalho e segurança. O objetivo do Comando é evitar que os bancos empurrem este debate e encerrem a negociação sem promover avanços no tema.
 
Foram novamente colocadas na mesa as reivindicações sobre proibição do assédio moral e celeridade na apuração das denúncias; medidas de prevenção a sequestros e melhor assistência às vitimas de sequestros e assaltos; e fim do prazo-limite de 120 dias para adiantamento do salário do bancário inapto que receber alta do INSS, entre outras reivindicações. Os patrões negaram tudo, dizendo que resolver estes problemas não está entre suas prioridades.
 
O único avanço foi a concordância dos banqueiros em criar um grupo bipartite, assessorado por especialistas, para analisar os afastamentos por saúde dentro dos bancos. Os sindicalistas propuseram que a primeira reunião seja realizada ainda durante as negociações da Campanha Nacional e que seja estabelecido um prazo para a conclusão dos trabalhos. A Fenaban ficou de analisar estas duas reivindicações e apresentar resposta na próxima reunião.
 
O Comando Nacional denunciou que vários bancos estão descumprindo sistematicamente algumas cláusulas da CCT. A proibição do transporte de valores por bancários, de expor ranking individual e a obrigatoriedade de reabilitação profissional adequada aos bancários que retornam de afastamento por saúde estão sendo desrespeitadas. A Fenaban ficou de cobrar dos bancos o cumprimento das cláusulas.
 
Ficou acordada a realização de uma reunião da Mesa Temática de Segurança Bancária no próximo dia 20 para apresentação dos dados sobre sequestros, assaltos e mortes ocorridos no primeiro semestre de 2013.
 
Os representantes dos trabalhadores cobraram que as mesas temáticas produzam mais resultados. Os banqueiros admitiram que as mesas não são eficientes e se comprometeram a rediscutir o formato. “O que queremos é a inclusão destes temas na CCT, mas os banqueiros mandam várias reivindicações para as mesas temáticas, argumentando que não é possível discutir estes temas na negociação principal. Só que, além de não entrarem na convenção, as discussões não avançam. Ano passado, foi convencionada a rotina de reuniões das mesas temáticas, mas, mesmo com os encontros freqüentes, a evolução foi pífia.”, critica Nilton Damião Esperança, representante da Fetraf-RJ/ES no Comando Nacional.
 
No tema do dia
 
Quando a discussão entrou no tema do dia – emprego – as respostas continuaram negativas. Os banqueiros não aceitam discutir a proibição da demissão imotivada e continuam negando a alta rotatividade nos bancos. Mesmo diante dos números, que mostram o encerramento de mais de dez mil postos de trabalho nos últimos 12 meses e a redução da remuneração média do bancário em 36 % com a rotatividade – contra 7 % da economia brasileira como um todo – os patrões se recusam a admitir a gravidade destes problemas.
 
Outra negativa veio à reivindicação de fim do horário estendido e respeito à jornada de 6 horas. Os bancos alegaram que o funcionamento das agências por mais tempo agrada tanto a clientes quanto a trabalhadores – por causa das horas extras. O longo tempo de espera por atendimento não é considerado um problema para os banqueiros. Os banqueiros adiantaram que não pretendem engessar o funcionamento das empresas convencionando estes temas e se limitaram a informar que é o Banco Central que regulamenta o funcionamento dos bancos. “Não estamos discutindo legislação e sim tentando humanizar o tratamento dado aos bancários e clientes. É preciso que haja na CCT uma previsão para que os sindicatos sejam avisados das mudanças que influenciam diretamente na vida de quem está nas agências, trabalhando ou usando os seriviços. Mas os patrões demonstraram que não dão a menor importância à sua força de trabalho ou aos clientes e usuários. As propostas de funcionamento bancário entre 09h e 17h, com dois turnos de trabalho, e a contratação de mais bancários para reduzir o tempo de espera nas filas foram sumariamente rejeitadas pelos bancos”, relata Nilton.
 
Abrindo o jogo
 
O Comando Nacional reivindicou que a terceirização de serviços bancários e de gestão, que está se espalhando rapidamente, seja suspensa. Tarefas de recursos humanos, compensação, tesouraria, caixa rápido, home banking, autoatendimento, teleatendimento, cobrança, cartão de crédito, retaguarda, concessão de crédito e atendimento direto ao cliente com produtos e serviços bancários estão cada vez mais sendo feitas por terceirizados. Estes trabalhadores não têm os mesmos benefícios dos bancários e, mesmo trabalhando ombro a ombro, realizando as mesmas tarefas, recebem salários menores. “Os banqueiros são totalmente a favor do PL 4330, que amplia a terceirização. Eles já estão praticando terceirização em atividades-fim e apostam na aprovação do projeto do Sandro Mabel para remover todas as barreiras para poderem terceirizar tudo. Se isso acontecer, não haverá mais bancários nos bancos, só terceirizados. A CCT dos bancários e todas as conquistas da categoria ao longo de nove décadas perderão o valor. E os banqueiros deixaram bem claro que estão se empenhando pela aprovação, fazendo lobby no Congresso”, relata Nilton. O sindicalista ressalta que a mobilização dos trabalhadores, que já adiou mais de uma vez a votação do projeto, tem que crescer para que o texto seja retirado de pauta definitivamente.
 
Mobilização também é o que vai pressionar os banqueiros a atenderem às reivindicações dos bancários. Diante do festival de negativas que vem acontecendo, é preciso que os bancários mostrem sua indignação e sua força. “Na próxima semana não haverá negociação. Por isso é importante que todas as nossas entidades intensifiquem a preparação do Dia Nacional de Luta no dia 22, com passeatas em todo o país, e da greve geral do dia 30 convocada pelas centrais sindicais”, convoca Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários.
 
Mudanças no setor
 
Os banqueiros também não deram importância às reivindicações sobre correspondentes bancários. Os sindicalistas ressaltaram que o objetivo inicial do Banco Central, de promover a bancarização da população dos rincões mais distantes, já foi há muito tempo abandonado. “Vemos hoje correspondentes bancários em locais onde há agências de todos os bancos. “Queremos que os bancos abram agências e PABs para atender a população com segurança e garantia de sigilo bancário, e oferecendo remuneração e condições de trabalho dignas aos trabalhadores. Os correspondentes precarizam o trabalhador e também o atendimento. Mas os banqueiros não se preocupam com isso. Para eles, o correspondente bancário é o lugar para onde mandam o cliente ou usuário que não dá lucro”, critica Nilton.
 
A preocupação dos bancários com as mudanças tecnológicas também foi desprezada pelos patrões. “Com a informatização, a categoria foi reduzida à metade e houve uma epidemia de LER/DORT. Agora, estamos diante da implantação do móbile paymente, o pagamento via celular, que também vai ter enorme impacto sobre os bancários”, preocupa-se o representante da Fetraf-RJ/ES no Comando. Os sindicalistas reivindicaram que seja criada uma comissão bipartite para discutir, acompanhar e propor intervenções nos processos de mudanças tecnológicas e organizacionais e reestruturação administrativa para reduzir os impactos negativos. “Mas os banqueiros não aceitaram criar a comissão, dizendo que cada banco tem sua própria política para este assunto, e propuseram que seja realizado um seminário”, relata Nilton.
 
Nada de igualdade
 
As reivindicações sobre igualdade de oportunidades também foram rechaçadas. O Comando Nacional apresentou a proposta de criação e divulgação dos critérios objetivos, transparentes e democráticos para ascensão profissional e encarreiramento. Com esta medida, todos os trabalhadores – independente de gênero ou raça – poderão ter as mesmas oportunidades de crescimento. Outra reivindicação é que os bancos passem a tratar o respeito e a igualdade de tratamento como um valor organizacional, reduzindo as práticas discriminatórias. Os banqueiros concordaram superficialmente, mas não apresentaram nenhuma proposta de medida concreta para resolver estes problemas.
 
A cláusula nova da minuta de reivindicações – criação de uma cota de 20 % para afrodescendentes – também foi rejeitada. “Eles disseram que isso é um problema do Estado, não das empresas, por isso não aceitam incluir a cláusula da cota na CCT. E ainda criticaram, dizendo que o Estado está transferindo a responsabilidade da inclusão para os empresários”, relata Nilton. O dirigente ainda critica a desfaçatez dos bancos, que afirmam que tem havido aumento da presença de negros e negras e que as mulheres têm alcançado cargos mais elevados nos bancos. “O papel de promover a inclusão não é só do Estado, as empresas também têm que agir para diminuir as desigualdades, este é seu papel social. A diversidade nos bancos pode até ter aumentado, mas ainda é inexpressiva. Dificilmente vemos bancários afrodescendentes no atendimento ao público e temos poucas mulheres nos cargos de comando”, aponta o sindicalista.
 
Mobilização
 
Os bancários têm pela frente uma pesada agenda de atividades. É preciso pressionar tanto os banqueiros, para obter sucesso na mesa de negociação, quanto os parlamentares, para que a ameaça do PL 4330 seja definitivamente afastada. No Rio de Janeiro, haverá também um dia de luta dos banerjianos, para arrancar do governador do estado a promessa de sanção do projeto que prevê o retorno à Previ-Banerj dos participantes que sacaram sua reserva de poupança. Confira, abaixo, o calendário de mobilizações:

 





























19/08 2ª Rodada de negociação com a Caixa
21/08 Ato dos Banerjianos em frente ao Palácio Guanabara
22/08 Dia Nacional de Luta, com passeatas dos bancários
23/08 2ª Rodada de negociação com o BB
26 e 27/08 3ª Rodada de negociação com a Fenaban
28/08 Dia do Bancário
29/08 3ª Rodada de negociação com o BB
30/08 Paralisação das Centrais Sindicais
03/09 Previsão de votação do PL 4330 na Câmara dos Deputados

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES