Bancárias do RJ e ES discutem participação política feminina e preconceito durante Encontro de Mulheres

No último dia 19 a Fetraf-RJ/ES realizou o 3º Encontro de Mulheres Bancárias do RJ e ES, como parte das comemorações do Mês da Mulher.

O evento começou com a exibição do documentário sobre o projeto “Carne – Patriarcado e Capitalismo”, produzido pela Kiwi Companhia de Teatro. Montado em 2010, o projeto inclui uma peça teatral, um ciclo de filmes, palestras e intervenções de rua, entre outras atividades.

Em seguida, a economista Marilane Teixeira apresentou a palestra “Organização e Participação Política das Mulheres nos Espaços de Poder”, onde analisou as dificuldades que as mulheres encontram para participar dos cargos eletivos e de postos mais elevados na hierarquia das entidades, inclusive sindicais. “As mulheres são cerca de 51 % da população e do eleitorado. Mas a das mulheres na política e nos espaços de poder não tem a mesma proporção. Ainda se mantém a antiga divisão sexual do trabalho onde fica definido que o espaço privado pertence à mulher e o espaço público, ao homem. Os papeis sociais ainda não mudaram. É preciso desnaturalizá-los”, aponta a pesquisadora. Marilane destaca também que é preciso que se modifique a forma de encarar a mulher na política. “Temos que rever a ideia de que as mulheres não participam de espaços políticos. Em espaços de política pública a participação da mulher é muito maior. Mas são postos sem autorização eleitoral”, aponta. Para buscar o equilíbrio na presença de mulheres nos cargos eletivos, a economista propõe que a reforma política que está sendo discutida inclua, além do fim do financiamento privado de campanhas, a adoção, pelos partidos políticos, de lista fechada de candidatos, com alternância entre homens e mulheres.

Em entrevista à nossa reportagem, a Marilane Teixeira destacou que o assédio moral, que passou a ter visibilidade no Brasil a partir das denúncias das entidades sindicais bancárias. A economista ressaltou também que o assédio sexual que ocorre nos locais de trabalho de todos os segmentos exige uma estratégia específica para enfrentamento. “O ambiente de trabalho  não é diferente da sociedade, mas acirra e reflete a situação de opressão das mulheres. É preciso empoderar as pessoas para que possam enfrentar o assédio sexual. Se não se consegue combater o agressor, a saída é empoderar a vítima para enfrentar a situação e denunciar”, recomenda.

Histórico e panorama

Na parte da tarde o trabalho foi conduzido por Andrea Freitas de Vasconcelos, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT. A sindicalista discorreu sobre Relações de Patriarcado e Feminismo, demonstrando o quanto as situações do dia a dia refletem a opressão que a sociedade patriarcal machista impõe sobre as mulheres.

Uma das evidencias de que a sociedade trata homens e mulheres de maneira distinta foi a baixa presença de mulheres nos cargos mais elevados da administração das empresas. “O BB não tem sequer uma mulher no quadro de executivos. Há muitas mulheres no mercado de trabalho, mas entre o ‘teto de cristal’ e o ‘chão pegajoso’ a diferença da proporção entre homens e mulheres é muito grande. É muito maior o número de mulheres ocupando cargos sem proteção social, com relações de trabalho precarizadas e remuneração menor”, aponta Andrea.

No caso específico do sistema financeiro, onde o número de mulheres já é maior que o de homens, esta situação é agravada pelo uso do apelo sexual como ferramenta de venda. “Os bancos usam a imagem da mulher para vender. Embora haja uma indicação das roupas indicadas, sempre há um elemento de sensualidade. Cabe às mulheres que são dirigentes sindicais construir estratégias para esclarecer as bancárias e buscar a criação de uma nova organização do trabalho para enfrentar esta situação”, recomenda.

O ambiente de trabalho nas empresas em geral também é propício à multiplicação do assédio sexual, principalmente por causa da impunidade. “Alguns homens têm necessidade de exibir virilidade para demonstrar poder sobre seus pares. No caso do assédio sexual, o patriarcado e o machismo operam para proteger o poder masculino, permitindo que o assediador transite livremente, sem ser denunciado”, avalia a sindicalista.

Eleição

O encontro também serviu para definir as sindicalistas que vão representar a Fetraf-RJ/ES no Coletivo Nacional de Mulheres Bancárias. Foram eleitas Iracini da Veiga, como titular, e Renata Soeiro, como suplente.

Participaram do encontro representantes dos sindicatos de Angra dos Reis, Baixada Fluminense, Campos, Espírito Santo, Macaé, Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Teresópolis e Três Rios.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES