Caixa: reunião discute condições de trabalho

Hora extra continua sendo o maior problema

A Contraf-CUT e a Comissão de Empresa da Caixa se reuniram com representantes do banco no último dia 28 para discutir as condições de trabalho no banco.

Como era de se esperar, uma das principais discussões foi sobre as horas-extras. O caso é mais grave nas agências com até 15 funcionários, que têm cláusula específica no Acordo Aditivo onde fica ressaltado o direito do funcionário escolher se prefere receber ou compensar as horas extraordinárias. O que vem ocorrendo é que o banco instrui seus gestores a limitar o pagamento e estimular a compensação, já que a dotação orçamentária para remunerar o serviço extra-jornada é restrita.

A CEE cobrou nova redação para os normativos internos, onde fique clara a orientação, já que tem havido problemas de descumprimento do acordo coletivo, mas a Caixa respondeu que não há choques. “Como não há choques, se há denúncias chegando de todo o país?”, questiona Ricardo Maggi, representante da base da Fetraf-RJ/ES na CEE/Caixa.

Mas o que os bancários querem, na verdade, não é a institucionalização da hora extra ou do banco de horas. “O que sempre reivindicamos é o respeito à jornada de seis horas. As horas extras têm que ser eventuais e, quando for necessário, devem ser pagas. A compensação tem que ser uma opção do bancário, não uma imposição do banco”, esclarece Maggi. Vale lembrar que a definição da jornada de seis horas para os bancários se deu na década de 1930, para reduzir os riscos à saúde dos trabalhadores, já que era grande o número de casos de tuberculose e transtornos mentais – chamados de neurose, à época.

Contratações

Os sindicalistas presentes cobraram da empresa o aumento do número de contratações, já que a convocação dos concursados tem acontecido em ritmo lento. “A Caixa alegou que, nos dois últimos anos, chamou vinte mil aprovados. Mas este número, embora expressivo, ainda não supre a demanda dos locais de trabalho. Com o corte dos trabalhadores terceirizados e o alto índice de adoecimento, há menos bancários do que o necessário para atender às necessidades das agências. A maior prova disso é a realização de horas-extras regularmente pela maioria dos empregados”, pondera Maggi.

O sindicalista aproveita para demonstrar que o número insuficiente de bancários prejudica a saúde e provoca sobrecarga. “Há algumas semanas, na base da Baixada Fluminense, o médico do trabalho foi a uma unidade para fazer exames nos bancários e, dos cinco caixas, três estavam com a pressão altíssima e foram mandados para casa. Os dois que ficaram tiveram que assumir todo o serviço. A que horas estes trabalhadores saíram da agência? O adoecimento é consequência e causa do excesso de trabalho”, avalia.

Conselho

Quanto à reivindicação de que os suplentes de representantes dos trabalhadores no Conselho de Administração, os representantes do banco informaram que não têm competência para decidir. A coordenadora da CEE, Fabiana Matheus, destacou que em outros colegiados, como o Conselho Deliberativo da Funcef, a participação dos suplentes dá direito, inclusive, a voz.

Competitividade

A Caixa adotou um modelo de Gestão de Desempenho que está acirrando a competitividade entre os bancários, já que abre a possibilidade de estabelecimento de metas individuais, ranqueamento e exposição dos piores desempenhos. “O banco alega que alguns segmentos, como o dos gerentes, seriam beneficiados, já que passariam a ter uma remuneração variável. Mas o empregado da Caixa já tem um salário bem acima de mercado”, argumenta Maggi. O sindicalista critica, ainda, que a novidade é incompatível com um banco como a Caixa. “Este programa, que não foi discutido com o movimento sindical, foi divulgado no ultimo dia 08, mas não temos ainda detalhes de como funciona. Ele foi desenvolvido por uma consultoria externa e contraria todos os conceitos de um banco público. Aqui, o funcionário fica muitos anos, faz carreira, se aposenta. Não é como um banco privado. Espero que não aconteça aqui o que está acontecendo no BB, que está cada vez mais parecido com um banco privado, inclusive com piora das condições e do clima nos locais de trabalho”, critica. Maggi destaca que o movimento sindical sempre defendeu que as avaliações de desempenho sejam coletivas, justamente para não expor nenhum bancário, nem estimular a competitividade entre os colegas.

Não vendeu, fica vendido

Embora não tenham chegado denúncias de casos na base da Fetraf-RJ/ES, a CEE colocou na mesa um problema que vem ocorrendo em outros estados: a demissão do bancário que está em estágio probatório por mal desempenho em vendas de produtos. “Isto vai contra tudo que defendemos no movimento sindical. O bancário tem que ser avaliado pelo serviço bancário, não por quantos produtos vendeu. Além de não receber o acompanhamento de um colega mais experiente, como deveria ser, o recém-contratado tem que desempenhar tarefas para as quais não está apto. O estágio probatório na Caixa é de apenas 6 meses e, neste espaço de tempo, nenhum bancário chega a assumir cargo comissionado. Portanto, não pode ser cobrado por seu desempenho em vendas. Na Caixa há muitas oportunidades fora da área comercial, nenhum funcionário pode ser considerado “sem perfil” para trabalhar no banco por não ser bom em vendas”, pondera Maggi.

Fórum de Condições de Trabalho

O movimento sindical defende que, além das instâncias de negociação nacional, sejam criados espaços para discussões no âmbito de cada Gipes para agilizar a solução de problemas relativos às condições de trabalho. “É preciso estreitar a relação entre os sindicatos e a Caixa. Às vezes um problema regional específico custa muito a ser resolvido porque precisamos esperar uma reunião da CEE para discuti-lo. Se cada Gipes estiver em contato com o sindicato local, este processo fica mais rápido. Mas é preciso que as pessoas da Caixa que forem designadas para desempenhar este papel tenham alçada para resolver os problemas”, propõe Ricardo Maggi. O sindicalista informa, ainda, que a proposta defendida pela CEE é de que estas reuniões aconteçam uma vez por mês ou com frequência maior, se for necessário.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES