O relatório do BIS – Banco de Compensações Internacionais publicado esta semana aponta que os bancos brasileiros estão em terceiro lugar em lucratividade, mas estão em primeiro em ineficiência. Mas a interpretação deste resultado não é o que parece a olhos leigos.
Para começar, o termo eficiência não é usado aqui no seu sentido geral. Em economês, índice de eficiência é uma taxa que resulta da ponderação entre a receita das atividades operacionais e a despesa. Quanto mais receita for gerada a partir de cada real empregado em custos, melhor para a empresa. O relatório do BIS está informando, portanto, que os bancos brasileiros são os que apresentam custos mais elevados.
O custo é formado por todas as despesas e investimentos necessários para que o banco realize suas operações. Uma das formas mais imediatas de reduzir custos é com o corte de pessoal. O Itaú, por exemplo, vem adotando uma agressiva política de demissões desde 2011 e não esconde que o objetivo é aumentar a eficiência. Outras medidas para redução de despesas são relativas à estrutura de funcionamento das empresas e, em sua maioria, são mais lentas. Para os banqueiros, demitir é a solução.
Mas não é só com a redução de despesas que se melhora o índice de eficiência. “A Caixa está indo no sentido oposto e, ao invés de cortar custos, está incrementando receita. O banco está aumentando a base de clientes e as operações de crédito”, informa Regina Camargos, técnica da subseção do Dieese na Contraf-CUT. Segundo a economista, a Caixa está investindo na captação de clientes entre a chamada nova classe média e os pequenos empresários, além de expandir a oferta de crédito tanto para pessoa física, quanto para jurídica.
Particularidades
A análise do BIS também peca por não considerar as especificidades de cada país. “O Brasil tem um sistema bancário muito mais complexo que os países citados pelo BIS – China e Rússia -, pois a sociedade brasileira se urbanizou há mais de 50 anos e demanda muito mais os serviços bancários. além disso, somos uma democracia, temos um movimento sindical forte e tradicional no setor bancário e uma legislação trabalhista que assegura uma série de direitos que não existem naqueles países. Por isso, é natural que os custos operacionais dos bancos, no Brasil, sejam mais elevados que na China e na Rússia”, pondera Regina Camargos.
Quanto à estrutura tecnológica, os sistema financeiro do Brasil é responsável por 18 % do mercado de TI, mesmo patamar da França, Reino Unido e EUA e maior que o de Japão e Alemanha (17 % ). Em 2013, os investimentos dos bancos neste setor chegaram a USD 11,1 bilhões, segundo dados da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária de 2013.
No que diz respeito aos custos com pessoal, os bancos brasileiros estão submetidos a uma legislação trabalhista que protege o trabalhador e garante uma série de direitos. E ainda enfrentam a força de uma das categorias mais organizadas do país, que tem obtido conquistas importantes que, mais tarde, são estendidas a trabalhadores de outros segmentos. “Estas comparações são feitas com países com história e estrutura diferentes. A China e a Rússia, são países onde o salário médio do trabalhador é muito baixo. Ninguém compara com Alemanha e França, por exemplo. A comparação foi feita com os EUA e com países que estão ou saíram há pouco tempo de regimes autoritários, onde a legislação protege muito pouco o trabalhador e os sindicatos são fracos”, pondera Regina Camargos. Vale destacar que, segundo pesquisa do Centro de Pesquisa e Educação do Trabalho da Universidade de Berkley-California, um terço dos caixas de banco norte-americanos dependem de algum tipo de ajuda governamental para complementar a renda familiar. Em Nova Iorque, o percentual chega a 40 % destes profissionais.
Outro dado que a pesquisa do BIS aponta é que o Brasil está em segundo lugar na provisão para devedores duvidosos, onde a dianteira é ocupada pela Itália. Há alguns anos, os balanços dos bancos brasileiros mostram o aumento da PDD em patamares bem superiores ao da inadimplência. Quando os calotes aumentam, as taxas de juros acompanham, e a tomada de crédito costuma sofrer retração. Com a inadimplência em queda há vários meses, resta saber que atitude os bancos vão tomar.
Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES