Bancários fazem greve, mas a culpa é dos patrões

Depois de sete rodadas de negociação, a proposta dos banqueiros, mais uma vez, decepcionou. Mesmo já tendo em mãos as reivindicações dos bancários desde o início de agosto, os empresários do sistema financeiro não se empenharam em agilizar o processo de negociação. E, como se não bastasse, continuam forçando o impasse e levando os bancários à greve.

Mesmo com a greve já decretada, depois das assembleias realizadas no último dia 25, os banqueiros não avançaram. Convocaram uma reunião para o sábado, dia 27, mas não apresentaram avanço expressivo. Além de uma elevação ínfima do índice proposto para reajuste, não fizeram nenhuma proposta para as cláusulas não econômicas.

Mas os lucros do sistema financeiro continuam altos. Os seis maiores bancos – BB, Caixa, Bradesco, HSBC, Itaú e Santander – que empregam mais de 90 % da categoria, tiveram um lucro total de R$ 28,4 bilhões somente no primeiro semestre de 2014. Este total excede em 14,3 % o resultado alcançado no mesmo período do ano passado.

A gente não quer só dinheiro

Além da proposta econômica rebaixada, o que está atravancando o avanço desta campanha salarial são as reivindicações sobre emprego, saúde, condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades. Os patrões não querem ceder garantias aos trabalhadores contra as demissões, mecanismos de controle e punição da prática de assédio moral, adoção de medidas e equipamentos que garantam a segurança de bancários e clientes ou nas condições iguais de remuneração e encarreiramento independente de gênero, raça ou orientação sexual.

As demissões continuam, trazendo não só a rotatividade, mas a redução drástica dos postos de trabalho. Dos seis maiores, somente a Caixa não cortou posições. Ao todo, 9.095 empregos foram encerrados pelos cinco demais bancos.

Já as metas de vendas de produtos bancários continuam subindo e levando os trabalhadores ao desgaste físico e emocional. Além das exigências cada vez maiores, o assédio moral praticado na cobrança por resultados está criando uma categoria de doentes. Se, há alguns anos, as LER/DORT eram a grande causa de afastamentos dos bancários, hoje são os transtornos mentais provocados pelo estresse os principais motivadores das licenças. Os remédios controlados, de tarja preta, são chamados de “tarjinha”, tamanho o consumo destas drogas pela categoria. Mas os banqueiros não querem discutir o assunto e se recusam a admitir que as metas e o assédio moral são os causadores do adoecimento.

Já a segurança é cada vez mais negligenciada pelos banqueiros. Nem o aumento do número de mortes em assaltos e saidinhas comove os patrões. Segundo levantamento feito pela Comissão de Segurança Bancária, formada pelas confederações nacionais dos Bancários e dos Vigilantes, 32 pessoas foram assassinadas no primeiro semestre em ações criminosas envolvendo bancos. Mas a adoção de medidas que garantam a vida e a saúde de bancários e clientes não acompanha o ritmo da escalada da violência. O projeto piloto de segurança que está em teste na Grande Recife já aponta resultados positivos, mas ainda não foi integralmente implantado.

Os patrões também se recusam a adotar medidas que garantam oportunidades iguais para todos os trabalhadores do sistema financeiro. É fácil perceber que os homens brancos estão no topo da pirâmide de remuneração e nos cargos mais elevados. Mulheres e não brancos recebem menos, mesmo em funções idênticas, têm progressão profissional mais lenta e dificilmente chegam a ocupar altos cargos.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES