Matéria publicada pelo jornal Tribuna de Petrópolis no último dia 8 de fevereiro revela depoimentos de familiares e de funcionários da administração do cemitério municipal que levantam a possibilidade de que Palhano pode ter sido enterrado na cidade da região serrana, com o nome falso de “José Neves Filho”. A versão contradiz a hipótese de que o bancário teria sido sepultado em São Paulo.
O ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio Aluizio Palhano, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), assassinado pelo regime militar e cujo corpo jamais foi encontrado, pode ter sido enterrado em Petrópolis, região serrana, pelas forças de repressão. Palhano foi sequestrado e mantido em cárcere privado, em 1971, durante o regime militar, tendo sido levado para a chamada Casa da Morte, no bairro do Caxambu. Após ser torturado, foi dado como desaparecido. A revelação foi feita por Mathilde Pedreira Pinheiro de Lemos, sobrinha do sindicalista, em entrevista ao jornal Tribuna de Petrópolis, publicada no último dia 8. Ela afirmou que Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da casa de tortura, relatou ter estado no mesmo período que Palhano no local de repressão. A família e os dirigentes sindicais ainda procuram resposta sobre sua morte e punição para os assassinos. “Não podemos aceitar anistia para crimes tão hediondos, covardes, com métodos fascistas de tortura, que levaram centenas de pessoas à morte, enterradas às escondidas. Não basta descobrirmos onde estão os corpos, mas queremos saber quem são os assassinos”, disse o presidente do Sindicato, Almir Aguiar.
As hipóteses
Segundo a matéria da Tribuna de Petrópolis, existem duas hipóteses acerca do desaparecimento de Palhano. Uma delas consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), entregue à presidente Dilma, em dezembro do ano passado, que afirma que depois de o sindicalista ser reconhecido por Fernando Ayres da Motta (seu concunhado), ex-interventor da Prefeitura de Petrópolis, ele teria sido transferido e morto no Centro de Operações de Defesa Interna, em São Paulo (DOI-Codi/SP). A outra suposição é que ele tenha sido enterrado clandestinamente no cemitério municipal de Petrópolis. A Secretaria de Direitos Humanos fez uma investigação na cidade em 2012. Na ocasião, a partir de uma lista de 30 militantes desaparecidos no Rio e em São Paulo, foram vasculhados os livros dos sepultamentos realizados no cemitério entre 1970 e 1974. Com base em atestados de óbito, foram constatadas pelo Ministério Público grandes coincidências entre as datas de prisão de 17 militantes e as de enterros de corpos realizados no local.
Aluizio pode ter sido enterrado no cemitério de Petrópolis com o nome de “José Neves Filho”, uma vez que ele tinha os mesmos 49 anos da certidão de óbito. O enterro aconteceu em 14 de maio de 1971. No atestado de óbito, a causa da morte é “hemorragia cerebral e acidente vascular cerebral”.
A Tribuna entrou em contato com a administração do cemitério municipal e confirmou o sepultamento de José Neves Filho na mesma data, na cova rasa número 88.335. Além disso, a administração informou que Palhano morreu no Hospital Municipal Nelson de Sá Earp (HMNSE)”. Outra informação revelada pela equipe do cemitério é que, se a família não procurar o morto após três anos, é permitido que o corpo seja exumado e colocado no ossário geral. Desta forma, os militares teriam tornado impossível a identificação dos restos mortais das pessoas que foram assassinadas durante o regime e enterradas clandestinamente.
Traição
Palhano pode ter sido “dedurado” por José Anselmo dos Santos, conhecido como “Cabo Anselmo”, agente infiltrado pelo governo militar nos movimentos de esquerda, com quem era visto frequentemente em Ipanema, na capital fluminense. Algum tempo depois, o bancário foi preso e dado como desaparecido.
Comissão Estadual
O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV), Wadih Damous, comentou que as hipóteses levantadas pelo relatório da CNV podem estar erradas. Além disso, ele destacou que a CEV vai assumir todas as investigações relativas ao Rio de Janeiro que não foram concluídas pela Comissão Nacional. “Elas podem estar erradas, mas também podem estar certas. Nós temos que encontrar elementos que as comprovem”, ressaltou. Wadih destacou ainda que é humanamente impossível que a comissão saiba de algum fato, se ele não for contado. “Não dá para sabermos sobre o que aconteceu em Petrópolis, se os agentes que participaram do regime militar não contarem”, declarou.
Fonte: Seeb-Rio