Foto: Seeb-Curitiba
A venda do HSBC está mobilizando sindicalistas de todo o Brasil, que buscam apoios para evitar que os cerca de 21 mil bancários do banco britânico saiam prejudicados. Os dirigentes sindicais bancários procuraram dois dos órgãos que podem dificultar o processo: o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, vinculado ao Ministério da Justiça, que atua impedindo a concentração de atividades econômicas, e o Banco Central, autarquia encarregada de regular e fiscalizar o sistema financeiro. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PA) e a vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves foram articuladoras do encontro.
O presidente do Conselho do CADE, Vinícius Marques, informou que o conselho está atento à operação. “Vamos analisar a fusão do HSBC. Iremos fazer com que o banco cumpra suas responsabilidades para sair do mercado brasileiro. O principal fiscalizador desse processo é o Banco Central, mas nós também vamos analisar a fundo todo o processo” afirmou.
Já o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que, embora o poder do órgão seja restrito, o processo já está sendo acompanhado. “Deixamos bem claro para Tombini que o BaCen não pode mais ser um mero homologador, e sim um regulador do sistema financeiro. Ele demonstrou que concorda, mas informou que só poderá agir depois que o acordo de venda for fechado e anunciado”, esclarece a representante da Fetraf-RJ/ES na COE/HSBC, Renata Soeiro. A dirigente relatou ainda que o presidente do BaCen afirmou que a autarquia vai aplicar remédios para diminuir a concentração do sistema bancário e minimizar os prejuízos sociais. “Tombini alegou que há uma convergência nas preocupações dos sindicalistas e do BaCen e que ele entende que a sinergia positiva para o comprador deve ser compartilhada com a sociedade”, relata Renata.
Bagaço
O HSBC praticamente ganhou de presente o Bamerindus, adquirido em 1997 por R$ 384 milhões poucos meses depois do banco paranaense receber um aporte de R$ 5,8 bilhões, via Proer, para sanear as contas. Nos primeiros dois anos, foram 3.382 demissões e fechamento de 165 agências e 211 postos de atendimento.
Agora, depois de vários anos de lucro bem inferior aos demais bancos – e sem PLR para os funcionários – o HSBC decide sair do país. Deixa para trás milhares de bancários com doenças ocupacionais e processos na Justiça do Trabalho.
Nebuloso
Um detalhe pouco comentado é que o HSBC, por ter sede no exterior e não negociar ações no Brasil, não é obrigado a publicar seu balanço de atividades no país. Mas estava previsto no acorde de aquisição do Bamerindus que o comprador passaria a publicar o balanço vinte anos após a compra. Como em 2015 se completam 18 anos da aquisição do banco paranaense pelo HSBC, a obrigatoriedade de abertura das contas está próxima. Com o envolvimento do banco britânico em fraudes financeiras mundo afora – inclusive com a remessa ilegal de dinheiro não tributado do Brasil para a Suíça – a abertura do balanço pode revelar mais do que o banco deseja.
Outro aspecto de que pouco se sabe é o real montante do lucro do banco. Segundo a vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, o banco paga ao município cerca de R$ 85 milhões anuais de ISS. “Se só de ISS, que é apenas um dos tributos que as empresas pagam, o HSBC paga esse valor, como pode anunciar lucros baixos e até prejuízo, como foi em 2014? Esta desproporção tem levantado muitas desconfianças”, questiona Renata Soeiro.
Senadores
A CPI do HSBC, presidida pelo senador Paulo Rocha (PT-PA), também tem recebido atenção dos sindicalistas. Os dirigentes apresentaram requerimento para participar das reuniões e aproveitaram para se reunir com Rocha, de quem ouviram relatos sobre o andamento dos trabalhos da comissão. Segundo o senador, é o momento dos movimentos sociais participarem da CPI, já que os trabalhadores são os maiores ameaçados.
Além da reunião com Rocha, os sindicalistas percorreram outros gabinetes de senadores, em busca de apoios. Um dos que já se manifestaram solidários aos empregados do HSBC foi Roberto Requião (PMDB-PR).
Também participaram da reunião com o BaCen os deputados federais paranaenses Enio Verri (PT), João Arruda, (PMDB) e Toninho (PT).
A caravana de sindicalistas que se reuniram com o BaCen, o Cade e os senadores incluiu a coordenadora da COE/HSBC, Cristiane Zacarias, diretora do Seeb-Curitiba; Renata Soeiro, da Fetraf- RJ/ES; Raimundo Dantas e Paulo Frazão; do Sindicato dos Bancários de Brasília; o presidente da Fetec-PR, Júnior Cesar; e o presidente do Seeb-Curitiba, Elias Jordão.
Fonte: Da Redação, com Seeb-Curitiba