O Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, retoma com a Fenaban, nesta quinta-feira (3), a segunda rodada negociação sobre saúde e condições de trabalho. Também estão na pauta as reivindicações sobre segurança. Toda a quarta-feira (2) foi tomada pelo debate sobre saúde, mas os bancos não apresentaram propostas concretas para resolver o aumento dos casos de adoecimento na categoria.
O presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários, Roberto Von der Osten, iniciou a negociação ressaltando que saúde é um direito fundamental e que os bancos precisam assegurar este direito no local de trabalho. “A saúde do trabalhador não pode ser negociada como um mero elemento da produção e nem podemos admitir que o trabalho adoeça as pessoas, como temos visto nos dados de afastamento do trabalho”, reforçou.
Com uma rotina de trabalho cada vez mais estressante com metas abusivas e muita pressão pela cobrança de resultados, a categoria bancária está entre as que mais apresentam problemas de saúde com causas nas condições de trabalho. Os casos de transtornos mentais e comportamentais estão crescendo muito mais rapidamente na categoria bancária e já superam os adoecimentos relativos a LER/Dort. Entre janeiro e março do ano passado, 4.423 bancários foram afastados do trabalho, sendo 25,3% por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e síndrome do pânico.
O INSS ainda não divulgou os dados do ano todo de 2014 sobre o setor bancário, mas tabelas completas de anos anteriores reforçam este aumento. Em 2009, foram 2957 afastamentos por transtornos mentais e comportamentais. Já em 2013, os números chegaram a 5042 bancários. Um crescimento de 70,5%, conforme estudo do Dieese com base nos benefícios previdenciários e acidentários concedidos pelo INSS. No mesmo período, nas outras categorias, o crescimento foi de 19,4%.
“Reforçamos junto à Fenaban que o trabalhador não quer emprego para adoecer. Quer sustentar a família e temos de achar meios de mudar esse quadro que mostra mais de 18 mil bancários afastados em 2013 (últimos dados anuais disponibilizados pelo INSS)”, afirmou a vice- presidenta da Contraf-CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira.
Fim das metas abusivas e do assédio moral
O Comando Nacional dos Bancários também destacou a convenção 161 da OIT, que tem o Brasil como signatário, estabelecendo objetivos, princípios e diretrizes de uma política nacional de saúde a partir do diálogo social com os trabalhadores. Os bancários reivindicam que as metas sejam estabelecidas com a participação dos trabalhadores, com critérios para a estipulação, levando em conta o porte da unidade, a região de localização, número de empregados e carteira de clientes.
“Os bancos continuam dizendo que as metas são expectativa de resultados e fazem parte da gestão. Mas o que vemos é uma relação direta com a avaliação de desempenho. Os bancários se sentem pressionados e obrigados a cumprir a meta a qualquer preço. Eles ficam angustiados e estressados para conseguir resultados e adoecem num ambiente de trabalho extremamente competitivo”, disse Roberto Von der Osten.
Durante a negociação, o Comando Nacional reivindicou o aprimoramento do instrumento de prevenção e combate ao assédio moral, uma conquista da campanha de 2011. O movimento sindical acredita que o tempo de resolução dos casos precisa ser mais rápido.
“Atualmente, os bancos têm 45 dias e durante este período assediador e assediado convivem no mesmo local de trabalho. Isso intensifica o quadro de depressão e de outras doenças pelo assédio. O tempo de apuração da denúncia tem que ser o menor possível”, reivindicou o presidente da Contraf-CUT.
Os representantes dos patrões também apresentaram uma postura contrária à do movimento sindical no que diz respeito à prática do assédio moral. Os bancários entendem que se trata de uma prática de gestão, já que a pressão por desempenho aumenta cada vez mais, seguindo o crescimento das metas estipuladas pelos bancos. Mas os banqueiros rechaçam esta visão. “A Fenaban continua insistindo em responsabilizar os administradores pelo assédio, alegando que se trata de decisões pessoais, e propõe que sejam corrigidas as posturas deste e daquele gestor que assediam. Mas nós sabemos que o assédio acontece em cascata, de cima para baixo, não é uma decisão espontânea e individual”, argumenta Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da entidade no Comando Nacional.
Os patrões ainda vão além ao negar a reivindicação de que as metas sejam coletivas. “Magnus Apostólico, o negociador da Fenaban, também negou esta reivindicação e insistiu que, em pesquisas realizada nas empresas, os trabalhadores demonstraram que preferem metas individuais”, relata Nilton.
Mais temas
A negociação com a Fenaban continua nesta quinta-feira (3) com as discussões sobre o GT do adoecimento, grupo de trabalho bipartite que tem a função de analisar as causas dos afastamentos dos empregados do ramo financeiro. Outra reivindicação dos bancários é a alteração da redação da cláusula do programa de “reabilitação” do trabalho, para “retorno” ao trabalho, já que reabilitação é uma atribuição do Estado e não pode ser executado pelas empresas, como os bancos têm feito. A extensão integral dos benefícios para os bancários afastados também está na pauta.
Além das reivindicações de saúde e condições de trabalho, a segunda rodada também debaterá as demandas sobre segurança bancária.
O Comando Nacional reivindica melhores condições de segurança para bancários e clientes e assistência às vítimas de assaltos, sequestros e extorsão. Também estão na pauta a permanência de dois vigilantes por andar nas agências e pontos de serviços bancários, conforme legislação; a instalação de portas giratórias com detector de metais na entrada das áreas de autoatendimento e biombos nos caixas; o fim da revista íntima, ainda praticada por muitas agências no país; abertura e fechamento remoto das agências; o fim da guarda das chaves por funcionários.
Este último item é um dos maiores fatores de preocupação para o movimento sindical, conforme aponta Nilton Damião Esperança. “Somos terminantemente contrários à guarda das chaves das agências por bancários. A responsabilidade por unidades, cofres e acionadores de alarmes deve ser das empresas especializadas em segurança. O transporte de numerário também tem que ser feito por profissionais especializados e em carro forte, mas é comum bancários e bancárias transportarem malotes em seus próprios veículos.
Mas o movimento sindical bancário não se preocupa somente com a segurança da categoria. Além da instalação de dispositivos de segurança nas agências, também faz parte da minuta de reivindicações uma medida que reduziria o risco de saidinha de banco, um tipo de crime que atinge os clientes e usuários. “Já há alguns anos incluímos a reivindicação da extinção das tarifas para transferência de valores através de DOC e TED, para que os clientes e usuários não precisem fazer saques de valores elevados e, assim, não se exponham ao risco da saidinha”, aponta o presidente da Fetraf-RJ/ES.
O modelo de segurança que os bancários consideram satisfatório já existe e foi aplicado em forma de projeto-piloto na Grande Recife e, mais tarde, estendido a outras regiões do país. “Este modelo prevê medidas que aumentaram a segurança dos trabalhadores e da população. Mas os bancos não se preocupam com esta questão. Tanto é que o gasto com publicidade e propaganda é muito maior que o montante aplicado em medidas de segurança, aponta Nilton Damião.
Levantamento realizado pela Contraf-CUT e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com apoio técnico do Dieese, aponta que 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2014, uma média de 5,5 vítimas fatais por mês.
Calendário de Negociações com a Fenaban
9 de setembro – Igualdade de Oportunidades
16 de setembro – Remuneração
Fonte: Fetraf-RJ/ES, com Contraf-CUT