O não continua sendo a palavra usada pelos banqueiros na hora de negociar as reivindicações dos funcionários da Campanha Nacional 2015. Foi assim nas duas primeiras rodadas, sobre emprego, saúde, segurança e condições de trabalho. Na mesa sobre igualdade de oportunidades, que aconteceu nesta quarta-feira, 09, a Fenaban manteve as negativas. As reivindicações apresentadas visam corrigir discriminações históricas de gênero, raça, e orientação sexual e deficiência nos locais de trabalho.
O II Censo da Diversidade, conquistado pela categoria e divulgado em 2014, pela própria Fenaban, revelou que as mulheres ganham 22,1% a menos que os homens. A remuneração dos trabalhadores negros também permanece desigual, 12,7% mais baixa na comparação com brancos, apesar de 74,5% terem curso superior. Do universo de 511 mil bancários, apenas 3,4%, ou 17 mil trabalhadores, se autodefiniram como pretos na pesquisa.
Mulheres
As mulheres apresentam melhor qualificação educacional que os homens nos bancos. O II Censo da Diversidade identificou que 82,5% têm curso superior completo, contra 76,9% dos homens. As bancárias também estão em menor número nos cargos de direção. De acordo com a Rais, Relação Anual de Informações Sociais, referente ao ano de 2013, elas representam, apenas, 8,4% da diretoria dos bancos.
“No ritmo de correção das distorções vai demorar 88 anos para que as mulheres passem a receber salários iguais aos homens nos bancos. E, na região Sudeste, onde a diferença salarial de gênero é ainda maior, demoraria 234 anos para as mulheres atingirem a mesma remuneração”, disse Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
“Apesar do número de bancárias ter aumentado, isso não mudou a realidade da distorção salarial entre as mulheres e os homens. Elas continuam ganhando menos e ocupando poucos cargos de direção”, ressaltou o secretário de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Fabiano Junior.
Em relação às mulheres negras, a discriminação se acentua ainda mais. Na apresentação do segundo censo, a Fenaban não havia disponibilizado os dados sobre a situação das bancárias negras ao movimento sindical. Cobrados, os negociadores dos bancos ficaram de apresentar, o quanto antes, estas informações específicas da pesquisa.
PCS
Diante da falta de igualdade nos bancos, o Comando Nacional propôs debater um Plano de Cargos e Salários (PCS) para todos, para corrigir as distorções de mobilidade nas carreiras e um processo seletivo interno para promoções. Reivindicaram que os critérios passem a ser objetivos para que todos os funcionários tenham igualdade de oportunidades. A Fenaban usou de levantamento próprio para negar discriminação, argumentando que das últimas promoções de cargos, executadas pelos bancos, 54% foram de homens e 46% de mulheres, muito próximo das porcentagens de distribuição de gênero no emprego bancário.
Mas, para os sindicalistas, esta argumentação não se sustenta. “Os números mostram que a política de pessoal dos bancos não tem critérios semelhantes ao de um PCS e, por conseguinte, as discriminações permanecem. Se a ascensão acontecesse somente por competência e meritocracia, não encontraríamos, nas pesquisas e nos dados oficiais, aspectos que explicitam a prática discriminatória”, argumenta Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da entidade no Comando Nacional.
Os bancários também defenderam o reajuste anual de 1% (um por cento) para os funcionários a cada ano completo de serviço. Os bancos responderam que promoções por tempo de serviço não são mais utilizadas pelas corporações. O critério certo, segundo a Fenaban, é a avaliação das competências e a meritocracia.
“O reajuste anual é visto por nós como uma possibilidade objetiva de combater as desigualdades. Mas os bancos deixaram claro que tempo de casa é coisa do passado, demonstrando sua falta de comprometimento com a valorização dos funcionários que prestam bons serviços por anos a fio para a instituição” criticou Roberto von der Osten.
Pessoas com deficiência (PCD)
Os trabalhadores com deficiência representam, atualmente, apenas 3,6% da categoria bancária, comprovando que os bancos não estão respeitando a cota de 5%, prevista na Lei Federal 8.213, promulgada há 24 anos. O Comando reivindicou mais contratações e solicitou que as instituições parem de incluir os reabilitados que tinham sido afastados por motivo de saúde na cota de PCD, como tentativa de demonstrar que estão cumprindo a legislação.
“O espírito da lei é que as empresas procurem no mercado pessoas com deficiência para serem contratadas, uma responsabilidade social com a inclusão, que os bancos afirmam que têm, mas que continuamos identificando problemas”, explicou o presidente da Contraf-CUT.
Além de não apresentar nenhuma proposta para expandir estas contratações, os negociadores da Fenaban negaram o desrespeito à lei, ao dizer que podem efetuar tal manobra, sem esclarecer o número de trabalhadores reabilitados.
Outra reivindicação negada foi a de abono de folga para pessoas com deficiências que forem buscar reparos para próteses, cadeiras de rodas e demais aparelhos. A Fenaban respondeu que não aceita incluir esta folga na Convenção Coletiva. “Magnus disse que cada banco deve definir como tratar a situação e que, na prática, isto já acontece. O negociador dos banqueiros ficou de resolver qualquer dificuldade que os sindicatos identifiquem neste sentido. Mas, esta solução é muito superficial e, no fim das contas, significa que a Fenaban passa a bola para os gestores, já que, como acontece hoje, a folga para reparos e revisões de equipamentos vai continuar dependendo da decisão dos gerentes de agência”, critica Nilton Damião.
Assédio sexual
A Consulta Nacional dos Bancários 2015 identificou que o assédio sexual preocupa 12% dos bancários que responderam ao questionário. Para avançar no combate ao problema, os trabalhadores querem instalação de um grupo de trabalho para produzir uma campanha de prevenção, em conjunto com os bancos. Além de acompanhar o processo de apuração e solução dos casos.
Os representantes dos patrões argumentam que há poucas denúncias de assédio sexual pelos canais responsáveis pela solução de conflitos no ambiente de trabalho, mas Fabiano Júnior argumenta que nem sempre os números de denúncias apontam a real situação. “Os resultados da consulta aos bancários, feita por sindicatos de todo o país, revelaram um aumento significativo da preocupação com o tema. Se, nos anos anteriores, tínhamos 1 a 2% de trabalhadores apontando este problema, este ano o número subiu para 12%. E o assédio sexual envolve questões muito complexas que extrapolam o local de trabalho e envolvem a vida pessoal tanto da vítima quanto do assediador. Por isto, as denúncias são mais difíceis, embora os casos venham aumentando”, esclareceu.
A realização da campanha ainda precisa ser mais discutida, já que os banqueiros apontaram alguma resistência. “A Fenaban alegou que não quer causar pânico diante do tema. Mas a campanha que estamos propondo é de caráter pedagógico e de prevenção educacional. O assédio sexual deve ser uma preocupação de todos nós, representantes dos bancários e dos bancos”, explicou Fabiano Junior.
Ausências remuneradas
A pauta dos bancários também quer garantir aos pais o direito a um dia de ausência remunerada, a cada seis meses, para participar de reuniões escolares com os professores para cada filho, seja natural, adotado ou enteado, em idade escolar.
Identidade visual
O Comando Nacional cobrou respeito à expressão de personalidade e identidade visual dos empregados, defendendo que já passou da hora dos bancos deixarem de interferir no corte de cabelo, na barba e até nas roupas dos funcionários. As características físicas expressam o direito de personalidade de cada um, que tem sido negado há muito tempo, reclamaram os representantes dos trabalhadores.
A Fenaban se recursou a colocar esta cláusula na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e preferiu passar o bastão para cada banco, sem levar em conta a importância que o debate merece, ao tratar do combate à discriminação no ambiente de trabalho.
“Os nossos sindicatos e federações, com a nossa histórica unidade, tem conversado muito com os bancários e as bancárias nos locais de trabalho, estão mobilizados para a luta. Com isso, tenho certeza que vamos continuar o nosso ciclo de ganhos reais e vamos avançar em novas conquistas sociais. Juntos somos fortes”, declarou o presidente da Contraf-CUT.
Calendário de Negociações
Fenaban | |
15/09 | Saúde (mesa extra) |
16/09 | Remuneração |
Caixa | |
11/09 | Carreira, isonomia e organização do movimento |
18/09 | Contratações, condições das agências e jornada |
Banco do Brasil | |
11/09 | Cláusulas sociais e previdência complementar |
18/09 | Remuneração e plano de carreira |
Fonte: Fetraf-RJ/ES, com Contraf-CUT