Marcelo Rodrigues*
O projeto derrotado nas urnas em 2014 parece ter sido o vencedor na área econômica. Não apenas o projeto econômico, mas o ódio de classe amplificado pela mídia brasileira também dá sinais de ter se enraizado na sociedade.
Chegamos a um segundo semestre de campanhas salariais duras para os trabalhadores e, embora não tenha do que reclamar com relação ao seus lucros, os patrões escondem-se atrás dessa crise especulativa para manter sua intransigência.
O governo optou por um conservadorismo na economia que nem os ideólogos mais à direita esperavam. Levy, como ministro da Fazenda, e a falta de uma pauta política de esquerda, fazem com que as medidas do chamado ajuste fiscal pareçam uma mera correção de rumos da política neoliberal.
O capitalismo no mundo todo mostra claros sinais de fracasso, e os chamados países desenvolvidos são sacudidos dia após dia por ondas de revolta popular contra o status quo de uma sociedade que privilegia um pequeno percentual da população em detrimento dos mais pobres.
Segundo um estudo do Instituto Mundial de Pesquisa Econômica do Desenvolvimento, que faz parte da Universidade das Nações Unidas, a renda pessoal está distribuída de maneira tão desigual no mundo que os 2% mais ricos da população adulta detêm mais de 50% dos ativos mundiais, enquanto 50% das pessoas mais pobres ficam apenas com 1% da riqueza do planeta.
E os ricos, os donos dos meios de produção, não pretendem mudar isso e farão de tudo para manter as coisas como estão. A FUP – Federação Única dos Petroleiros – iniciou sua campanha salarial agora no segundo semestre com uma pauta política muito clara e direta, em defesa da Petrobrás e contra todo e qualquer desinvestimento.
Os petroleiros entenderam que garantir uma Petrobrás forte é a pauta necessária. Os ataques da grande mídia brasileira à empresa são constantes e não vão parar. Se o governo tucano chegou a transformar a Petrobrás em Petrobrax, para preparar a venda da estatal, a retomada dos investimentos na empresa e a recuperação da autoestima do seu corpo funcional no governo Lula foram fatores fundamentais para o crescimento da companhia, tornando-a uma das maiores petroleiras do planeta.
Também em campanha salarial os bancários e bancárias de todo Brasil, uma categoria que tem um acordo coletivo nacional e muita unidade em todos os cantos desse país, se vêem empurrados para uma greve pela ganância do sistema financeiro. Os banqueiros chegaram a uma proposta de 5,5% de reajuste frente a uma inflação de 9,8%. Ou seja, os bancos acham que os seus funcionários devem ter seus salários defasados em 4,4%, mesmo com o aumento dos lucros. O Bradesco, por exemplo, registrou lucro líquido de R$ 4,473 bilhões, no segundo trimestre de 2015, valor 18,4% superior ao registrado no mesmo período de 2014.
Cada vez mais os trabalhadores precisam de consciência de classe para o enfrentamento do grande capital. A greve dos bancários deve começar na primeira semana de outubro e não há dúvidas de que o ódio de classe disseminado pela mídia brasileira se fará presente.
Não é de hoje que assistimos tentativas de criminalização dos movimentos sindical e social. Este ano temos que estar bastante atentos a isso. Não abaixaremos a cabeça para os golpistas de plantão e levaremos a bandeira da CUT a cada ato, a cada greve, na porta de cada banco. É hora de demonstrarmos a nossa disposição de luta.
Mas, sobretudo, a greve desse ano deve ser uma greve de diálogo, de convencimento. É preciso mais do que simplesmente fechar as unidades bancárias. Faz-se necessário dialogarmos em casa, com a família e os amigos, explicar-lhes os motivos da nossa greve.
É fundamental fazermos com que a sociedade reflita sobre o tipo de país que estamos construindo e que sonhos e esperanças devemos deixar como legado. Não vamos aceitar que a nossa reivindicação por mais direitos e mais dignidade no trabalho seja criminalizada. Não podemos permitir que o discurso do ódio avance ainda mais na sociedade.
Nós não detemos os meios de produção, nem dispomos da mídia, mas temos uns aos outros. Vamos à luta, vamos à greve e vamos disputar muito mais do que salários. Vamos disputar os corações e as mentes das pessoas.
Somos fortes, somos CUT!
* Marcelo Rodrigues é bancário da Caixa e presidente da CUT-RJ