As mulheres negras enfrentam dupla discriminação e estão entre os grupos com maior risco social entre a população brasileira. Sofrem discriminação racial, de gênero e social, estão mais expostas à violência doméstica e sexual e recebem menos atenção do Estado através de políticas públicas, inclusive de saúde.
Idealizada em 2011 durante um evento paralelo ao Afro XXI – Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes, a Marcha das Mulheres Negras é o maior evento do país para articular conjuntamente questões de racismo e gênero.
A Marcha das Mulheres Negras 2015 já vem acontecendo desde o início do mês e terá seu ápice em 18 de novembro, em Brasília. A concentração será a partir das 09h nas proximidades do Ginásio Nilson Nelson e segue até o Congresso Nacional. O encerramento será no Complexo Cultural do Museu da República.
Por que marchar?
De acordo com o IBGE, as mulheres negras representam 25% do total da população brasileira, o que corresponde a cerca de 49 milhões de pessoas. Apesar dos avanços das últimas décadas, como a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, as mulheres negras ainda amargam os piores índices no que se refere o acesso às políticas públicas de uma forma em geral. Com a criação destes importantes órgãos no primeiro mandato do então presidente Lula, foi possível avançar no que tange o enfrentamento das barreiras para a igualdade de direitos. Apesar que, as marcas das desigualdades e da segregação étnico-racial ainda sustentam modelos econômicos de caráter racista em todo o mundo, baseados apenas em seus interesses em manter a exploração e a opressão de determinados grupos sociais.
Quando mulheres vencem a barreira do desemprego, passam a vivenciar a divisão sexual do trabalho, a violência doméstica, o assédio sexual. As mulheres negras são ainda mais discriminadas, já que historicamente tem convivido com o desrespeito histórico ao seu corpo que ainda é violado e marginalizado, alimentando cada vez mais os índices de agressões, estupros e assassinatos.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Aplicadas – IPEA, 62% das vítimas do feminicídio são mulheres negras, grande parte vive em condições de subemprego, mesmo com formação escolar e capacitação e, ainda, respondem por grande parte da chefia das famílias. Segundo o DIEESE, no trabalho formal, protagonizam uma amarga diferença salarial de cerca de 19% com a mulher não negra e de 46% se comparado com homens não negros. E, apesar dos avanços na legislação trabalhista, as mulheres que atuam no trabalho doméstico, cerca de oito milhões de mulheres, não contam com as mesmas condições e oportunidades que os demais trabalhadores urbanos.
No que diz respeito à violência, dados do IPEA, entre 2009 e 2011, estimam que mulheres negras, jovens e pobres são as maiores vítimas da violência doméstica. No Brasil, 61% dos óbitos são de mulheres negras, as principais vítimas em todas as regiões do país, à exceção da Sul. Merece destaque a elevada proporção de óbitos de mulheres negras nas regiões Nordeste (87%), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%). Dados de 2012 apontam, ainda, que 63% das mulheres em situação de prisão são de mulheres negras.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 60% da mortalidade materna ocorre entre mulheres negras. No que diz respeito ao atendimento pelo SUS, 56% das gestantes negras e 55% das pardas afirmam ter realizado menos consultas pré-natal do que mulheres brancas. No que tange a amamentação, as orientações só chegaram a 62% das negras, enquanto 78% das brancas tiveram acesso.
Ressalta-se que no escopo das Metas de Desenvolvimento do Milênio, que propunha erradicar a mortalidade materna, o Brasil não conseguiu alcançar as metas, e o fator predominante para os altos índices se deu, sobretudo, por conta dos dados negativos da mortalidade materna das mulheres negras.
Além da Marcha, está prevista a realização de uma Feira de Empreendedoras Negras, debates, conferências, mostra cultural e shows no Complexo Cultural do Museu Nacional da República, no período de 13 a 17 de novembro.