Por André Singer*
Diferentes razões apontam para a dissolução da coalizão produtivista e a formação de uma frente única burguesa antidesenvolvimentista. Com a intenção de acelerar o passo do lulismo, Dilma cutucou muitas onças com varas curtas. O ativismo estatal alienou camadas de empresários, resultando na unidade antidesenvolvimentista. Sustentar a ofensiva demandaria aliança interclassista e/ou mobilização dos trabalhadores, o que não foi feito.
“A política desenvolvimentista continua. A presidente Dilma não fará uma política neoliberal, uma política conservadora. Sabemos que foi praticada no passado e não deu certo.”
Guido Mantega, 2 de outubro de 2014
Do céu ao inferno em 36 meses
Na noite de 30 de abril de 2012, o tradicional discurso dos presidentes lulistas aos trabalhadores por ocasião do Primeiro de Maio veio com sabor diferente. Em lugar do cardápio algo insosso de avanços lentos sem confronto político, a primeira mandatária mulher ofereceu ao público prato apimentado. Dilma Rousseff dedicou o pronunciamento a atacar os bancos. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo”, asseverou em rede nacional de rádio e TV. Do alto dos 64% de aprovação de que então dispunha2, concluiu confiante: “Não vamos abrir mão de cobrar com firmeza de quem quer que seja que cumpra o seu dever”. No caso, o dever era a redução dos juros para garantir o crescimento da economia. O gesto presidencial funcionava como ponta do iceberg da guerra desenvolvimentista, centrada naquele momento na “batalha do spread”, etapa decisiva da conflagração.
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* André Singer é professor do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da FFLCH-USP.