A Fetraf-RJ/ES promoveu na última quinta-feira, dia 18, uma palestra sobre “Os desafios dos trabalhadores da Argentina e do Brasil” com a presença da socióloga argentina Paula Lenguita, do técnico do Dieese-RJ Jardel Leal e do secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia. O evento é fruto de uma parceria da Federação com o Amorj – Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro, órgão ligado ao Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.
As falas dos três palestrantes ressaltaram a gravidade da conjuntura política do continente latino-americano. A professora Paula destacou a característica ideológica do governo Macri que surpreendeu a sociedade: “Pensávamos que as mudanças seriam só no campo econômico, com a volta de políticas neoliberais, e que estávamos diante de uma esquerda moderna, semelhante à europeia. Mas o Macrismo é muito pior que isto. Já tivemos em apenas dois meses de governo retrocessos graves nos direitos humanos e civis, demissão de 25 mil trabalhadores, a prisão sem julgamento de ativistas importantes, a repressão brutal a manifestações, além de medidas inconstitucionais como a anulação da Lei de Medios, ataques ao Legislativo, mudanças na nomeação de juízes da Corte Suprema”, aponta a socióloga. Paula também salienta que, além de promover retrocessos, o novo governo ainda ameaça tomar medidas que ajudem a lançar na obscuridade toda a história da ditadura que foi duramente reconstituída nos anos de democracia.
Jardel Leal, do Dieese-RJ, destacou, entre vários assuntos, que a ofensiva da direita brasileira contra o governo Dilma começou em junho de 2013, quando as manifestações de rua fizeram afundar a popularidade da presidenta. “Eles aproveitaram a redução da aprovação do governo para começar a campanha contra o governo, falando em crise. Em 2014 a campanha ficou mais forte e Dilma venceu a eleição por pouco”, lembra o economista. Jardel destaca que as grandes corporações, os empresários, estão por trás de todo este esforço pelo retorno de governos com viés neoliberal.
Mário Raia trouxe um panorama dos acordos bilaterais de cooperação comercial, destacando todas as ameaças que estes arranjos representam. “Alguns acordos têm cláusulas que preveem a não interferência de leis locais e até o sigilo dos termos do documento por até cinco anos”, aponta o sindicalista. Ele destaca ainda que em todas estas iniciativas os direitos trabalhistas e sindicais são ignorados e as cláusulas que tratam da proteção social e ao meio ambiente são vagas, o que os torna ainda mais graves. Raia destacou, ainda, que a ALCA, tentativa dos EUA de montar um bloco de comércio e cooperação para todo o continente americano, não foi levada adiante não só por pressão social, mas principalmente porque não se chegou a consenso em algumas questões de interesse dos industriais e do agronegócio.
O debate deixou clara entre a audiência, a impressão de que é preciso mobilizar os movimentos sociais para enfrentar a ofensiva da direita. Embora forte e com vários instrumentos que lhe dão vantagem, a direita pode ser enfrentada. Mas isso vai exigir muito empenho dos ativistas para que não voltemos no tempo.
Estiveram presentes ao evento os sindicatos de Angra dos Reis, Campos, Itaperuna, Macaé, Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Sul Fluminense, Teresópolis e Três Rios.