Por que querem vender a BR Distribuidora e outras subsidiárias da Petrobrás?

Ligia Deslandes*

 

Você já parou para questionar o real interesse em quererem vender a BR, a empresa distribuidora de derivados de petróleo do Sistema PETROBRAS? Por que uma empresa de energia, como a PETROBRAS, pretende voltar a ser uma simples produtora de petróleo?

E por que uma PETROBRAS, que dizem “quebrada”, sempre que lança títulos para vender no mercado, a fim de se financiar, obtém uma procura de compra muito maior que a oferta? Será que os investidores estrangeiros comprariam esses títulos se a PETROBRAS estivesse mesmo quebrada?

Vender a BR, e ativos como a TRANSPETRO, a LIQUIGAS, entre outros, por conta dos momentâneos problemas financeiros do Sistema PETROBRAS, é o “mote” defendido pelo mercado, em parceria com a grande mídia, com a desculpa de “salvar” a PETROBRAS. Mas, na verdade, por traz dessa pretensa “salvação” da empresa, há um fortíssimo projeto para desmonte da cadeia de petróleo do Brasil, cujo foco está voltado para a venda da BR DISTRIBUIDORA, da TRANSPETRO e da LIQUIGAS, o que fatalmente nos regredirá à condição de “colônia explorada”.

Ora, é fato que a PETROBRAS, hoje, possui o maior endividamento das empresas do setor petrolífero do mundo. Contudo, também é fato que o Brasil possui reservas de petróleo suficientes e a sua maior empresa nacional possui a expertise, mais que reconhecida, para explorar essas reservas, saldando as suas dívidas e continuando crescendo como nos últimos anos!

Outra questão é que a BR é a própria “PETROBRAS” para o povo brasileiro, pois é nela que a população reconhece fisicamente e visualmente a PETROBRAS no seu dia a dia, uma vez que as demais atividades da PETROBRAS não estão presentes na vida dos brasileiros como os postos de combustíveis da BR. Portanto, o plano de vender a BR busca simplesmente tirar a “imagem” da PETROBRAS da cabeça da população! Tornando, obviamente, muito mais fácil rebaixar a PETROBRAS a apenas uma empresa fornecedora de matéria-prima, com baixo valor agregado, o que prejudicaria a nossa hegemonia e comprometeria o crescimento do Brasil.

Somado a isso, há, também, outro aspecto atuando fortemente no interesse do mercado pela BR, um “braço” extremamente lucrativo da PETROBRAS. Afinal, mesmo em meio a todos os processos decorrentes da Lava-Jato, a empresa obteve lucro líquido na ordem de 3 bilhões reais no período de 2013 e 2014! E, no ano de 2015, apenas apresentou prejuízo de R$ 1,2 bilhões por considerar “contabilmente” o débito das térmicas, na ordem de R$ 2,6 bilhões, cuja negociação não conseguira concluir a tempo de fechar seu balanço (talvez, forçada pelos próprios interessados em vendê-la). Caso tivesse conseguido, a retirada desse montante das térmicas do balanço reverteria o prejuízo apontado para um lucro da ordem de R$ 1,4 bilhões!

Há, por fim, um grande trunfo na escolha desses ativos para privatização. Sabemos que as atividades de exploração e produção de petróleo possuem um alto risco associado e uma necessidade de investimentos e imobilizados de grandes proporções. Mas, no caso da BR, o risco da atividade comercial é baixo, já que o mercado de venda de combustíveis está consolidado e o consumo de derivados do petróleo brasileiro cresceu significativamente nos últimos 12 anos. Por outro lado, o ativo imobilizado estratégico necessário para operacionalizar a BR é reduzido, uma vez que mais de 90% dos seus postos de gasolina são de terceiros. Logo, comprar a BR é um excelente negócio para qualquer investidor estrangeiro que procura, num mercado de distribuição de derivados do petróleo maduro e robusto: baixo risco, alta rentabilidade e quase nenhuma necessidade de investimentos em imobilizados.

E, basta replicar essas mesmas questões para entender as verdadeiras intenções em vender a TRANSPETRO, a LIQUIGAS, a Rede de Postos da Argentina/Chile e as térmicas: desmontar o Sistema PETROBRAS, com a finalidade de entregar o Brasil definitivamente ao capital estrangeiro.

Privatizar seria reconhecer a nossa incompetência em consertarmos o que existe de errado em nosso país e administrarmos bem o que é nosso! É nos reconhecermos como “menores” e nos submetermos às ordens do mercado internacional.

Portanto, é hora dos brasileiros lutarem por uma PETROBRAS integrada e melhor para o Brasil!

 

* Ligia Deslandes é pedagoga, mestra em educação, funcionária da BR Distribuidora e presidenta do SITRAMICO-RJ.