Na última rodada de negociação entre a Fenaban e o Comando Nacional dos Bancários ficou claro que a campanha salarial vai ser dura e exigir intensa mobilização dos bancários. Os banqueiros continuam achando que os trabalhadores não têm do que reclamar e já deram a entender que não pretendem avançar nas cláusulas econômicas. “Os representantes dos bancos já sinalizaram que não haverá aumento real e ainda falam que a inflação está em queda, o que justificaria um reajuste menor. Nós, do Comando, não vamos discutir inflação futura, pois, apesar da crise, os bancos brasileiros continuam lucrando. Eles também não querem discutir valorização do piso salarial, porque acham que o valor está adequado ao mercado de trabalho”, relata Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da entidade no Comando Nacional. Para os representantes dos trabalhadores, estes argumentos não se sustentam, uma vez que os bancos acumulam crescimento de 156% de 2003 para cá, enquanto o piso cresceu somente 14,9% no mesmo período. A Fenaban também já adiantou que pretende manter a mesma regra de PLR aplicada no acordo passado.
Quanto aos tíquetes, os banqueiros não querem rediscutir o reajuste, alegando que já concederam um índice mais alto para o benefício no ano passado. “Mas a inflação dos alimentos está mais alta que a dos outros itens e o poder de compra dos tíquetes dos bancários está caindo. A realidade é que a remuneração total média da categoria não cresce proporcionalmente aos lucros das empresas”, pondera Nilton.
Além de não haver avanços, a Fenaban ainda aponta um retrocesso preocupante: o fim do vale-cultura. “Os banqueiros já informaram que, se o governo retirar o incentivo fiscal, vão suspender o benefício. Mas o vale-cultura dos bancários está garantido na convenção coletiva, não somente pela legislação. Defendemos que, caso o governo realmente cancele a isenção para as empresas, o benefício deve ser renovado na CCT deste ano e pago até, pelo menos, setembro do ano que vem”, argumenta Nilton Damião Esperança. O dirigente também pondera que o vale-cultura não deveria ser visto pelos bancos como despesa, mas como investimento. “Os bancos exigem cada vez mais informação e cultura dos bancários. Estas qualidades são adquiridas, principalmente, através de livros, jornais e revistas, que são os produtos culturais mais consumidos com o uso do vale”, justifica.
Conjuntura
A instabilidade econômica já provocou perdas para os trabalhadores. O balanço das negociações salariais do primeiro semestre mostra um grande número de acordos em que não houve reposição salarial, com reajustes abaixo da inflação. Com a ligeira melhora da economia nos últimos meses, as categorias que estão em campanha no momento têm alguma chance de fechar acordos com índice igual ao INPC, que acumula alta de 9,5% até agosto.
A situação política, no entanto, é a maior preocupação. “Sabemos que estamos numa conjuntura atípica, com o golpe contra a presidenta Dilma Roussef, eleita com mais de 54 milhões de votos. Temos que ter em mente que não estamos apenas reivindicando cláusulas de interesse específico dos bancários, mas que estamos numa luta para preservar direitos da classe trabalhadora como um todo. Temos que esquecer o ‘eu, no presente’, e projetar o ‘nós, no futuro’. O imediatismo não é a postura mais adequada. É preciso construir a mobilização, alertando não só os bancários, mas toda a sociedade e o conjunto dos trabalhadores sobre os riscos da perda de direitos”, recomenda Nilton.
Fonte: Fetraf-RJ/ES