Por Almir Aguiar*
“Desistir… eu já pensei nisso, mas nunca levei realmente a sério: é que tem mais chão nos meus olhos, do que cansaço nas minhas pernas; mais esperança nos meus passos, do que peso nos meus ombros; mais estrada no meu coração, do que medo na minha cabeça”.
Cora Coralina (1889 – 1985)
Desde a nossa velha conhecida Eva, da Bíblia dos cristãos, passando pela revolucionária Rosa Luxemburgo, a admirável filósofa marxista do Século 19, pelas mulheres simples das ruas esquecidas do interior, até as mulheres presidentas do nosso Século 21, que desafiam as imposições neoliberais do FMI, muitos costumes mudaram. Mas permanece firme, em quase todos os cantos do planeta, o preconceito contra a mulher.
Era costume citar-se, até pouco tempo, que “na mulher não se bate nem com uma flor”, o que gerou no Brasil, depois de muitos anos de atraso e de agressões físicas masculinas, a conhecida Lei Maria da Penha para defendê-la. Com a concorrência no mercado de trabalho e a liberação dos costumes, a flor da qual se falava no ditado popular mudou de nome e passou a se chamar claramente de preconceito.
O 8 de Março que comemoramos hoje, Dia Internacional da Mulher, foi criado para homenagear o que ocorreu nesta data, em 1857. Naquele dia, 130 tecelãs norte-americanas, aquelas guerreiras de Nova Iorque que trabalhavam quase 18 horas por dia enquanto os homens estavam na Guerra de Secessão, morreram queimadas, trancafiadas em um galpão, porque a intransigência dos patrões lhes negou salários iguais aos dos homens e condições mais dignas para trabalhar.
Tantos anos passaram e vemos que as estatísticas ainda nos mostram que no Brasil de hoje as mulheres ganham salários menores do que os homens e as mulheres negras ganham ainda menos. Para todas existe a dificuldade de acesso a cargos de maior poder decisório, ainda que qualificadas, e isto é bem visível no ramo financeiro. Este é um dos nossos maiores enfrentamentos contra os patrões banqueiros, que nós combatemos como Sindicato-Cidadão aliado a outros setores da sociedade.
A elite conservadora tem feito a luta caminhar mais lenta, levando-nos a repetir, a cada ano, nas homenagens à mulher, que o preconceito contra ela precisa acabar. E a gente sente que a corrida por direitos iguais tem de recomeçar a cada dia. Se no Congresso Nacional as bancadas reacionárias paralisam a luta por seus direitos, brilha no Planalto a atenção diferenciada que os governos do PT, de Lula e Dilma, vêm dando à mulher trabalhadora, chefe de família, com suas políticas de inclusão social Bolsa família e Minha casa Minha Vida, especialmente dirigidos a ela e às crianças.
Cresce no Brasil o número de mulheres empregadas nas regiões metropolitanas, assim como o número de lares que elas chefiam. Pesquisa recente mostra que elas chegam a ser chefes de família em 45,5 % dos lares do Sul e do Sudeste brasileiro, já que a cada ano aumenta o número de homens que abandonam suas famílias, provocando outros graves problemas sociais. A jornada dupla de trabalho da mulher empregada e chefe do lar é fato comum em quase todas as cidades.
Nós, do Sindicato dos Bancários e da Contraf-CUT, que no mundo sindical tomamos a dianteira da luta pela igualdade entre homens e mulheres, por toda parte levamos nossa mensagem de luta pelo fim dos preconceitos: de gênero, de raça e de preferência sexual. E o Brasil começa a reconhecer nossa liderança, com a importante premiação da Casa de Cultura Laura Alvim ao nosso Sindicato, o Décimo Primeiro Prêmio Arco Iris de Direitos Humanos, que recebi.
A todas as mulheres trabalhadoras, em especial às bancárias, o meu agradecimento pela importante colaboração que têm dado à luta pelo fortalecimento da democracia. E aos parlamentares, um aviso: que se preparem, porque vamos intensificar ainda mais a pressão, no Rio de Janeiro e em Brasília, pelo fim do preconceito e em defesa da cidadania.
* Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro
Fonte: Almir Aguiar