A declaração do prefeito de São Paulo, José Serra, segundo a qual o presidente Lula “comanda o país como se fosse presidente de uma ONG” poderia ser interpretada como um grande elogio ao presidente da República, não fosse a explícita vinculação que o prefeito Serra estabelece entre presidir uma ONG e ser incapaz de fazer com que a instituição dirigida funcione. Tomamos nota do julgamento acerca das ONGs implícito na declaração do prefeito José Serra, mas acreditamos que sua declaração não vai alterar em nada a avaliação feita pelas ONGs do papel político do prefeito e eventual candidato à presidência da República. Este tem sido avaliado de forma justa e equilibrada, e conseqüentemente negativa, pelo seu compromisso com as políticas tucanas que tanto contribuíram para o aprofundamento das desigualdades sociais no Brasil. Gostaríamos de saber qual das características da atuação de um bom dirigente de ONG mais incomoda ao Sr. José Serra: a) O compromisso com a defesa dos direitos dos setores excluídos da população?; b) A defesa de alternativas sustentáveis e democráticas de desenvolvimento para a sociedade brasileira?; c) O empenho na radicalização da democracia e na ampliação da participação popular?; d) A imprescindível capacidade de diálogo com lideranças populares, representantes de órgãos governamentais e da cooperação internacional?; e) A coerência na defesa das causas de interesse coletivo abraçadas pelas ONGs sem a qual sua credibilidade não se sustenta e a ONG não consegue sobreviver (coerência esta infelizmente ausente na ação de tantos políticos)?; f) O compromisso de prestar contas à sociedade da atuação de sua ONG? (Por Jorge Eduardo Saavedra Durão, diretor geral da Abong – em 1º/Fev)
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