A discriminação racial nos bancos consegue ser ainda mais contundente do que em outros setores do mercado de trabalho. Essa é a conclusão dos dados apresentados por Frei David Raimundo dos Santos, da ONG Educafro, nesta quinta-feira (14), durante o II Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, realizado no Hotel São Francisco, no Rio de Janeiro.
Segundo ele, apenas 26 % dos bancários negros conseguem ser promovidos nos bancos. Para ingressar no mercado de trabalho, os negros e negras também estão em desvantagens: se cada 100 brancos que trabalham nas instituições financeiras, apenas 8 são negros.
O evento, iniciado ontem, foi promovido pela Contraf-CUT em parceria com o Sindicato dos Bancários do Rio e a Fetraf RJ-ES.
Mobilização
Frei David apresentou ainda as ações e mobilizações da Educafro junto aos diversos setores, como supermercados, comércio, indústria e bancos. No setor financeiro, a entidade ocupou, em 2003, uma unidade do Itaú para exigir a inclusão de mais negros no quadro de funcionários.
“Policiais fortemente armados cercaram os manifestantes durante mais de 3 horas. Mas nossa pressão levou a direção do Itaú a abrir um canal de negociação. Nosso passo seguinte foi pedir ao Ministério Público ações contra a empresa”, lembrou.
Ele criticou a decisão judicial das ações em defesa da igualdade de oportunidades e de ações afirmativas. “Os juízes trabalhistas que rejeitaram todas as nossas ações devem sentir vergonha de suas decisões. Alegaram que a estatística não prova a discriminação”, criticou.
Febraban
A Educrafo entrou com uma representação contra a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
“Nossa mobilização apresentou resultados no Itaú. Os funcionários negros no banco representavam em 2003 cerca de 5 % do quadro funcional. Em 2005, o índice saltou para 24 % e em 2006 chegou a 27 % “, disse.
Nas promoções, os índices também apresentaram avanços: em 2003 8 % dos funcionários promovidos eram negros, em 2004 o índice subiu para 8 % chegando a 10 % em 2005 e 14 % em 2006.
“Os poderes econômicos e políticos só funcionam com pressão e a Febraban só vai avançar se houver mobilização dos bancários”, afirmou.
Frei David disse também que já há um plano de inclusão de negros, mas é preciso cobrar resultados. “Já notificamos a Febraban para que os bancos prestem contas dos números de negros contratados pelas empresas do setor. Queremos saber se os banqueiros estão cumprindo as metas de inclusão”, ressaltou.
Ele acrescentou ainda que o embate da questão racial não se dá apenas com as empresas, mas também em relação aos governos municipais, estaduais e federal.
Cotas nos serviços públicos
Para Frei David, as cotas no serviço público estão entre os mais importantes instrumentos de transformação na sociedade proposta pela comunidade negra. A proposta chegou a ficar 3 anos e 90 dias engavetada no Ministério do Planejamento do governo Dilma.
“A Dilma enviou a proposta para o Congresso Nacional, quando poderia ter feito através de decreto-lei. Corremos o risco do projeto ser adulterado por emendas parlamentares ou mesmo de não ser aprovado”, denunciou.
A proposta tem 45 dias para ser votada pela Câmara e vai em seguida para o Senado, tendo mais 45 dias para análise. A expectativa é de que a decisão sobre o projeto seja concluída no início de fevereiro de 2014.
“O êxito desta Lei vai depender da pressão e da articulação política dos trabalhadores junto aos parlamentares”, destacou.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb Rio