Banqueiros continuam dizendo não


A terceira rodada de negociações entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban, realizada nos dias 26 e 27 de agosto, terminou sem respostas positivas às reivindicações colocadas. Não foram apresentadas propostas para os temas das reuniões anteriores – emprego, em 15 e 16/08 e condições de trabalho, em 08 e 09/08 – nem para a reunião desta semana, que tratou de Remuneração.


Não houve proposta de índice e os banqueiros já adiantaram que não pretendem mudar o modelo de PLR. Os bancários levantaram a questão do aumento das Provisões para Devedores Duvidosos – PDD, que alguns bancos adotaram, que reduziu a PLR dos bancários. “Os negociadores da Fenaban disseram que não faria sentido elevar a PDD acima do patamar real, porque isto reduziria a credibilidade dos bancos. Mas, de fato, vimos que a PLR foi menor nos bancos que aumentaram o provisionamento”, pondera Nilton Damião Esperança, representante da Fetraf-RJ/ES no Comando Nacional. Nilton relata, ainda, que os banqueiros concordaram em rever o modelo de PLR em mesa específica após o fechamento da Campanha Nacional, mas que uma eventual mudança só valeria para o ano que vem.


Mesmo diante da insistência dos sindicalistas por respostas para os temas já discutidos, os patrões ficaram de apresentar uma proposta global no próximo encontro, marcado para 05 de setembro.


Férias, gratificação e tíquetes


Os bancários reivindicam que o desconto do adiantamento de férias seja feito em parcelas, para que, no retorno, não fiquem sem receber. Esta já é uma prática comum em alguns bancos e a reivindicação é que se estenda para todos, com a inclusão na CCT. Mas os banqueiros só aceitam fazer o parcelamento do desconto se o adiantamento também for parcelado, o que não interessa aos trabalhadores.


Também foi reivindicado que a gratificação semestral, que já é paga por alguns bancos, seja estendida a todos os bancários, com inclusão na CCT. Mas os banqueiros não aceitaram incluir, alegando que já pagam PLR. “Os banqueiros misturam duas coisas que não têm nenhuma relação, usando a PLR para justificar o não pagamento da gratificação semestral. Usando este argumento, deixam claro que querem acabar com ela, assim como já fizeram com o anuênio. O pagamento da gratificação é uma forma de promover a valorização do trabalhador e a postura dos patrões demonstra que eles não têm intenção de valorizar ninguém”, critica Nilton Damião Esperança.


A reivindicação de aumento diferenciado para o tíquete refeição e a cesta alimentação, justificada pela alta dos alimentos, também foi negada. “O negociador da Fenaban, Magnus Apostolico, alegou que este item deveria ter sido previamente discutido para que se chegasse a um índice capaz de acomodar custos e benefícios. E também já adiantou que o valor de um salário mínimo para a cesta alimentação é inviável. De acordo com os representantes dos bancos, estes dois benefícios e também o auxilio para filhos com deficiência será nos mesmos moldes do acordo do ano passado”, relata Nilton. A reivindicação de pagamento dos tíquetes aos bancários afastados por mais de 180 dias também foi negada, sob alegação de que se trata de um público muito pequeno.


Educação, creche e previdência


Outro item que os bancários querem ver incluído na CCT é o auxílio-educação. Também foi reivindicado que haja definição clara dos critérios de seleção e abrangência mais ampla. “Apesar de todos os bancos exigirem que os bancários sejam qualificados, nem todos oferecem auxílio-educação. E os que o fazem concedem somente para alguns cursos e a bolsa não é integral. Além das limitações, ainda há o problema dos critérios para concessão, que não são transparentes e objetivos, como seria correto. Ora, se o patrão quer que o funcionário seja qualificado, nada mais lógico que investir na sua formação. Por isso queremos que seja incluído na CCT o direito a auxílio-educação para todos os bancários, com bolsa integral para cursos de graduação e pós-graduação”, esclarece Nilton Damião Esperança.


Mas os banqueiros já adiantaram que não querem incluir este beneficio na CCT e responderam que a discussão continue sendo feita banco a banco. “É muito ruim levar esta resposta para os bancários, principalmente os do Bradesco, já que o banco é o único que não tem nenhuma política de qualificação dos funcionários”, critica o sindicalista.


Foi colocado também na mesa que o auxílio creche/babá seja elevado até o valor de um salário mínimo, de modo a permitir que o benefício seja realmente capaz de contribuir com a despesa. Mas os negociadores responderam que o público é muito pequeno, que o valor do auxílio é por filho e que não se destina ao pagamento integral dos custos com cuidado das crianças. “Sabemos que o Brasil tem carência de creches públicas e que as privadas são muito caras. Já as babás, finalmente conquistaram plenos direitos trabalhistas com a aprovação da PEC das Domésticas. Como uma família pode arcar com estas despesas recebendo somente R$ 306,21 por criança? Este valor é fora da realidade”, critica o representante da Fetraf-RJ/ES.


Os banqueiros também negaram a reivindicação de criação de fundos de pensão ou concessão de planos de previdência complementar para todos os bancários. Os representantes dos patrões responderam que não há nenhuma possibilidade disso ser concedido. “A previdência complementar é uma forma de reter talentos na empresa. Mas os banqueiros não querem discutir este assunto e citaram as categorias que não têm o beneficio como justificativa para não inclui-lo na convenção”, critica Nilton Damião Esperança.


Hora de mobilizar


A postura dos bancos irritou os sindicalistas. “Ficou evidente que os banqueiros não querem conceder nenhum avanço e pretendem deixar nossa convenção estática. Ano passado comemoramos 20 anos da CCT Nacional dos bancários, mas ela está estagnada, sem novas conquistas, em razão da intransigência e da ganância dos patrões”, critica o representante da Fetraf-RJ/ES no Comando Nacional.


Diante do festival de negativas, o Comando Nacional concluiu que é hora de construir uma mobilização forte dos trabalhadores. “Deixamos claro para os patrões que queremos respostas diretas e objetivas para todas as reivindicações já colocadas e não somente uma proposta global – que, como sabemos, abrange somente as cláusulas econômicas. A próxima reunião será dia 05 e esperamos que as negociações comecem a fluir. Se isso não acontecer, os bancários vão cruzar os braços”, anuncia Nilton Damião Esperança.


A atitude da Fenaban mostra que é preciso que a organização dos trabalhadores seja sempre forte e que a ampliação da terceirização vai trazer enormes prejuízos não só aos bancários, mas a toda a classe trabalhadora. “Temos que lembrar que, mesmo com a intransigência patronal nas negociações, a possibilidade de reivindicarmos melhores salários e condições de trabalho só existe porque temos uma organização sindical forte. Se o PL 4330 for aprovado, os sindicatos perdem a razão de ser e as conquistas das categorias organizadas, que custaram muita luta e mobilização ao longo das décadas, vão para o lixo. Por isso é preciso que todos os bancários se mobilizem para lutar contra este projeto nefasto que escancara a terceirização e retira direitos dos trabalhadores”, convoca Nilton.


Veja, abaixo, o calendário de atividades para os próximos dias:


















29/08   3ª rodada de negociação com o BB
  3ª rodada de negociação com a Caixa
30/08   Paralisação Nacional das Centrais Sindicais
03 e 04 /09   Mobilização contra o PL 4330 na Câmara
05 / 09   4ª rodada de negociação com a Fenaban


Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES