Em comunicado enviado aos funcionários no início desta semana, o Diretor de Relações com Funcionários e Entidades Patrocinadas do BB, Carlos Eduardo Leal Neri, expõe uma série de argumentos para estimular os “colegas” a esvaziar a greve.
O executivo começa informando que o andamento das negociações específicas depende dos resultados da mesa da Fenaban, cuja proposta final desconhecem. Neri continua, alegando que o “espírito público” do banco deve ser levado em conta, e argumenta que as paralisações prejudicam a população. O diretor também apela para o argumento da “crise” para destacar que os interesses do banco são de toda a sociedade, dando a entender que as reivindicações econômicas dos bancários não são prioridade para o BB. Neri destaca o respeito do banco pela democracia e termina convidando os empregados a se informarem sobre o andamento das negociações através de hotsite montado pelo banco e os estimula a participar das assembleias que decidem o rumo do movimento. Com estes argumentos, o executivo deve esperar convencer os “colegas” a votarem contra a realização de greve.
A abnegação que Neri pretende inspirar no funcionalismo seria fruto de argumentos que parecem válidos, mas não são. O Coletivo do BB do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro escreveu uma carta-resposta aberta em que refuta, um a um, todos os argumentos de Neri. O primeiro, de que o BB não conhece as posições da Fenaban, é desmontado pela informação de que o banco tem representante na mesa única – e, inclusive, o próprio hotsite montado pelo banco informa o nome da negociadora, que é a mesma tanto para as negociações gerais, quanto para as específicas. A carta-resposta destaca também que o BB “ocupa posição importante dentro de sua (da Fenaban) direção e qualquer decisão tomada dentro da âmbito da mesma com certeza terá de passar pela direção do Banco do Brasil”.
Em seguida, os sindicalistas derrubam a imagem do BB como banco público preocupado como bem estar social destacada por Neri, alegando que a empresa respeita cada vez menos a população mais pobre, que é empurrada para os correspondentes bancários. Outro argumento para refutar esta suposta preocupação social é que o banco pratica tarifas e juros cada vez mais altos, o que dificulta o acesso do povo aos serviços bancários e ao crédito.
Quanto ao espírito democrático com que o banco afirma conduzir o processo de negociação, o coletivo de dirigentes do BB destaca que este fica ausente durante a greve, já que o banco instala operações de contingência. Nestes espaços, que os sindicalistas comparam a bunkers de guerra, o acesso de representantes sindicais é vedado, o que constitui prática antissindical e infringe a legislação trabalhista. O esforço que o banco diz fazer por construir o acordo coletivo sem confrontos também é refutado pelo fato dos funcionários que participam das greves sofrerem retaliações, sobretudo na progressão profissional. “O mérito tem sido substituído pelo medo”, afirmam, na carta, os sindicalistas.