Depois vários reuniões marcadas e adiadas, finalmente a Contraf-CUT, o Seeb-Rio e a Comissão de Negociação dos funcionários do BNDES se reuniram com a direção do banco para dar andamento à negociação sobre o novo plano de carreira. Mas as notícias foram poucas e ruins.
O principal retrocesso foi a proposta apresentada para o segmento Nível Médio. Havia sido acordado que o cargo de Secretário de Área, que tinha atribuições indefinidas e trazia muitas distorções, seria extinto e substituído por dois cargos técnicos com atribuições claras. Mas a empresa voltou atrás da decisão, acordada em novembro de 2013 em mesa de negociação. Embora a manutenção da função fosse compensada financeiramente, os empregados de nível médio não a viram com bons olhos e se colocaram contrários à medida. “Eles entenderam que não vale a pena, porque a mudança implicaria em melhores perspectivas profissionais, o que significa valorização dos empregados. Manter o cargo é manter também a distorção e a estagnação na carreira”, relata Luciana Vieira, diretora de Bancos Públicos do Seeb-Rio.
O cerne do problema é que o cargo de Secretário de Área funciona como curinga, sem atribuições definidas, servindo para recompensar o empregado e segurá-lo na casa, mas não da maneira como deveria, porque apenas remunera, mas não reconhece a competência do funcionário. A expressão “a gente não que só dinheiro”, referência a uma famosa música da banda Titãs, foi usada pelos funcionários do segmento durante a apresentação dos argumentos para rejeitar a proposta do banco. “A compensação financeira é uma solução imediatista, enquanto a extinção do cargo e a definição de um modelo de encarreiramento é uma perspectiva de longo prazo. Além disso, a mudança permite que o funcionário, além de ter uma perspectiva definida de crescimento profissional, também pode ter a expectativa de fazer algo que lhe permita realizar-se profissionalmente”, pondera Miguel Pereira, representante da Contraf-CUT na negociação com o BNDES.
Surpresa
Outro problema foi a proposta de adoção de cotas para a concessão de adicional de senioridade. A proposta anterior definia que os empregados que fizessem jus ao acréscimo no salário por tempo de serviço o receberiam automaticamente. Mas a direção apresentou um retrocesso, informando que haverá restrições. “O boato da adoção de cotas já estava circulando. Em reunião com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, na semana passada, tivemos a impressão de que o banco nos apresentaria os critérios já nesta reunião. Mas, além do assunto ter entrado sem aviso, porque não fazia parte das pautas de reuniões anteriores, ainda veio assim, incompleto”, relata Miguel Pereira. Esta falta de definição dos critérios impede que o ponto seja sequer negociado, já que os funcionários não podem aprovar ou rejeitar sem conhecer todos os detalhes. “Esta situação nos leva até a acreditar na hipótese de que os executivos que não estão empenhados ou não são favoráveis à implantação do novo GEP tenham apresentado esta proposta incompleta como uma tática para atrasar todo o processo e impedir que ele seja concluído no prazo legal’ avalia o sindicalista, fazendo referencia à data-limite para conclusão de negociações em ano eleitoral.
O banco também não apresentou definição sobre a questão dos impactos previdenciários do novo plano de carreiras. Uma questão difícil é relativa à incorporação das gratificações. “Se não incorporar, esta verba vira pó no momento em que o empregado se aposenta. Por um lado, o funcionário não contribui sobre este valor, mas, por outro, esta parte da remuneração também não entrará no cálculo da complementação da aposentadoria. Isto contraria a lógica do fundo de pensão, que serve para evitar que o poder aquisitivo caia quando da aposentadoria”, pondera Miguel Pereira.
Uma situação delicada que se estabeleceu foi o descompasso nas negociações para segmentos diferentes. Desde fevereiro, as propostas para os empregados de nível universitário avançaram, mas retrocederam para o nível médio, já que os detalhes acordados em novembro já contemplavam as necessidades deste grupo. “Embora possa não ser uma estratégia da direção, é claro que, se um grupo se vê contemplado e o outro, prejudicado, eles vão ter comportamentos diferentes numa assembleia, quando a proposta de acordo for submetida a votação. Mas me parece que o retrocesso para o grupo de Nível Médio tem mais a ver com reserva de poder de alguns executivos, que não querem perder determinados funcionários ou o poder de nomear”, especula Miguel.
Tem que valer o escrito
Para Luciana Vieira, não se trata só uma negociação empacada, mas de uma questão mais séria. “Vínhamos caminhando lentamente num processo que já estava atrasado, negociando uma questão que constava do Acordo Coletivo de 2013 e que vinha sendo discutida na casa há mais de três anos. O problema é a forma como o banco está se colocando diante de acordos já assinados. Não é aceitável que, num governo democrático e popular, tenhamos um banco publico burlando os acordos coletivos que assina. Que interesses estão movendo este banco para protelar a apresentação de uma proposta definitiva para resolver o impasse?”, questiona a sindicalista.
Luciana Vieira também coloca outro ponto que não pode ser esquecido. “Seja qual for a proposta apresentada, ela vai ter que retroagir a 2013. É o mínimo que o banco tem que fazer, e vamos exigir, não podemos abrir mão. Há uma expectativa e uma angustia entre o funcionalismo, e o banco precisa dar uma resposta a isto”, adianta a dirigente.
A comissão de negociação deixou claro que a proposta de manutenção do cargo de Secretário de Área não contempla as necessidades do segmento Nível Médio e que as demais propostas também geram insatisfação. Não foi agendada uma data para nova reunião.
Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES