Caixa mantém intransigência quanto à contratação de empregados e fim do GDP

Na reunião realizada com representantes do funcionalismo nesta quarta-feira, em Brasília, a Caixa voltou a ignorar o fato de que mais de 3 mil trabalhadores se aposentaram por meio do PAA. A Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa), que assessora a Contraf/CUT nas negociações com o banco, voltou a cobrar um posicionamento da empresa sobre mais contratações de empregados. Até agora, o Conselho Diretor da Caixa não definiu como será a reposição dos trabalhadores que se desligaram no primeiro semestre por meio do Plano de Apoio à Aposentadoria (PAA).

Na reunião, os interlocutores da Caixa alegaram que o banco vai cumprir o que está previsto no Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015, ou seja, a contratação de mais 2 mil empregados até dezembro de 2015. No entanto, ao fixar este número durante a campanha salarial do ano passado, não havia perspectiva de realização do PAA, o que acarretou a saída de mais de 3 mil trabalhadores.

O representante da Fetraf-RJ/ES na CEE/Caixa, Luís Ricardo Maggi, considera inadmissível a atitude do banco. “A Caixa lesou o movimento sindical com a implantação do PAA. As consequências disso foram a piora no atendimento, o aumento da sobrecarga de trabalho e também do número de empregados que adoecem. E, para piorar, ainda houve o corte de horas extras, prejudicando os clientes e os usuários que buscam atendimento nas agências da Caixa”, critica o sindicalista.

Em 2014, quando o ACT foi fechado, a Caixa já havia atingindo a marca de 101 mil empregados, o que significa que o total chegaria a 103 mil no final deste ano. Na prática, porém, aconteceu exatamente o contrário. No último dia 30 de junho, a empresa informou no Diário Oficial da União que o seu quadro de pessoal era de 97.975 providos, implicando em uma redução considerável do número de empregados.

“Se levarmos em conta esses dados, o déficit hoje é de cinco mil trabalhadores”, destaca Genésio Cardoso, diretor do Sindicato dos Bancários de Curitiba e integrante da CEE/Caixa. Segundo ele, é inadmissível que o banco sequer discuta a reposição dos desligamentos ocorridos com o PAA. E acrescenta: “A carência de pessoal é responsável pela precarização das condições de trabalho e pelo adoecimento dos trabalhadores, que sofrem com a sobrecarga de trabalho e a cobrança de metas abusivas”.

A única forma de dar uma solução definitiva é contratar novos bancários. “Reivindicamos a reposição imediata de todos os funcionários desligados, seja pelo PAA ou por outros motivos, e o cumprimento do que foi acordado no ACT, que é a nomeação de 2 mil concursados, para suprir a carência de pessoal nas unidades. O DEST já autorizou a Caixa a aumentar seu corpo funcional de 101 mil para 103 mil funcionários, não há nenhum empecilho às contratações”, acrescenta Maggi.

Inversão da tendência

Conforme dados da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB), realizada pela Contraf-CUT com apoio do Dieese, divulgados nesta quarta-feira (22), a Caixa Econômica Federal apresentou, nos primeiros seis meses de 2015, a maior redução de pessoal, com o corte de 2.058 postos de trabalho. Esse levantamento é elaborado com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.

Este resultado reverte a tendência que a Caixa vinha demonstrando nos últimos anos, quando era o único dos grandes bancos que, ao invés de encerrar postos de trabalho, abria novas vagas. Até o final de 2014 o saldo positivo de empregos na Caixa estava em cerca de 2.600 postos de trabalho, enquanto os outros bancos só demitiam. Com o PAA, a tendência se inverteu acentuadamente, num movimento que só traz preocupação aos trabalhadores.

A CEE/Caixa convocou para 6 de agosto o Dia Nacional de Luta por Contratação Urgente na Caixa. Cartazes já foram enviados para as agências e entidades sindicais de todo o país. Um abaixo-assinado pode ser baixado em www.fenae.org.br/maisempregadosja. Após o recolhimento das assinaturas, o documento será encaminhado à presidenta Dilma Rousseff e à presidenta do banco, Miriam Belchior. Também há no site uma Carta aos Clientes e Usuários da Caixa, que reforça que todos os brasileiros são afetados pela falta de empregados nas unidades.

“O banco é, hoje, um parceiro estratégico do Estado brasileiro na execução das políticas públicas. Reforçar o quadro de trabalhadores é apenas uma das formas de valorizar o forte papel social da Caixa, instituição que deve estar a cada dia mais forte e a serviço da população”, lembra o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira.

Não ao GDP!

A CEE/Caixa voltou a cobrar, na mesa permanente, o fim do programa GDP – Gestão de Desempenho de Pessoas. O banco informou que vai manter o GDP, mas admitiu a possibilidade de apresentar detalhes sobre o programa para discutir com os trabalhadores. Para as representações dos empregados, o GDP representa uma ameaça a conquistas históricas como a PLR Social e a promoção por mérito. Desde que surgiu o programa está sendo implantado em ciclos, e a meta é atingir todos os empregados até 2016.

“O GDP estipula contrato individual entre o trabalhador e sua chefia e impõe acordo, no qual ele deve se comprometer com metas a serem cumpridas em determinado período. Isso é inadmissível”, explica Dionísio Reis, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e membro da CEE/Caixa. “Com a implantação do GDP a Caixa abandona definitivamente o seu papel socialm incorporando práticas perversas de mercado que afrontam todos os princípios coletivos de relação de trabalho. O GDP estimula uma competição interna entre os funcionários em detrimento do trabalho em equipe, gerando conflito nos locais de trabalho e causando aumento do adoecimento pela pressão por metas inatingíveis”, avalia Luiz Ricardo Maggi.

Além de contribuir para a piora do ambiente de trabalho, o programa desrespeita a CCT dos bancários. “O GDP aumenta o assédio moral quando o gestor através do celular envia mensagens cobrando resultados, desrespeitando a cláusula 36 da Convenção coletiva, além da cláusula 56 alíneas A e D”, completa o representante da Federação.

Outros pontos

Também foi debatido o Processo de Seleção Interna por Competência (PSIC). Em ofício enviado à Caixa no dia 22 de junho, a Contraf-CUT reivindicou a criação de um comitê paritário para acompanhar e sugerir melhorias no PSIC para formação de banco de habilitados, após receberem denúncias sobre problemas na aplicação das provas, em abril deste ano. A empresa rejeitou a reivindicação das entidades.

“Não concordamos com esse posicionamento intransigente do banco e, por isso, levamos o assunto para ser debatido novamente na mesa de negociação permanente”, conta Genésio Cardoso. Os representantes da Caixa alegaram, mais uma vez, que as reclamações que chegaram ao conhecimento da empresa estão dentro da normalidade e que o processo pode passar por aprimoramento, mas mantiveram a posição de não criação do comitê paritário.

A Contraf-CUT reivindicou que seja suspensa a trava de seis meses, para garantir que todos os empregados, independentemente de estar no banco de habilitados, possam fazer o PSIC. A Caixa ficou de avaliar o pleito.

Foi exigido, ainda, que seja revisto o corte de ponto dos empregados que participaram das mobilizações nacionais ocorridas no dia 27 de fevereiro (Dia Nacional de Luta pela Caixa 100 % Pública), 15 de abril e 29 de maio (Dia Nacional de Paralisação contra o PL 4330 da Terceirização, MPs 664 e 665 e o ajuste fiscal).

Para a representação dos trabalhadores, o posicionamento do banco representa uma prática antissindical, ao penalizar quem participou de mobilizações em defesa de direitos. Além de cortar o ponto, a empresa classificou como falta não justificada, o que traz reflexos na carreira funcional. As representações dos trabalhadores alegaram que se a medida for mantida, poderão recorrer à Justiça. A Caixa ficou de avaliar o assunto.

Outro ponto sem avanço foi a valorização dos profissionais da TI. Os interlocutores do banco reiteraram a resposta encaminhada à CEE/Caixa, por meio de ofício, com a indicação de que a empresa não pretende cumprir o compromisso assumido no fechamento da campanha salarial do ano passado, no que diz respeito à valorização dos empregados da área.

Esteve em pauta também a visita feita por técnicos da Caixa e do Sindicato dos Bancários do Pará à agência Barco Ilha de Marajó. Essa inspeção aconteceu entre os dias 7 e 9 de julho, em atendimento à solicitação feita na mesa permanente, ocorrida em 26 de maio, com o objetivo de verificar as condições de trabalho naquela unidade. Os representantes da Caixa alegaram que ainda não receberam o relatório final da visita e que, na próxima negociação, devem apresentar as medidas que serão tomadas para solucionar os problemas encontrados.

Ao ser questionada sobre o retorno do adiantamento odontológico, a Caixa informou que ainda não tem previsão de quando isso ocorrerá. O benefício foi suspenso por conta de uma troca de sistema que visa aperfeiçoar o atendimento aos empregados.

Ainda, com relação à saúde, os membros da CEE/Caixa denunciaram as dificuldades que os trabalhadores estão enfrentando para validar atestados médicos. A Caixa informou que vai apurar as denúncias.

Na reunião, foi abordada também a Licença de Interesse Pessoal (LIP). A Caixa estava deixando de repor a vaga do empregado licenciado para assegurar que ao voltar ele possa assumir posto na unidade de origem. Os trabalhadores são contra esse encaminhamento e, na negociação, argumentaram que, ao não fazer a reposição, o banco dificulta o acesso ao LIP nas unidades que sofrem com carência de pessoal, porque os gestores não autorizam a liberação do empregado. A empresa informou que vai analisar a reivindicação.

Participaram da reunião representando a Fetec-SP, Dionisio Siqueira; Fetraf-SP/MS Paulo/Carlos Augusto Silva; Fetec-SC,Gilmar Aguirre; Fetec-PR; Genésio Cardoso; Fetraf-RJ-ES; Luiz Ricardo Maggi; Fetrafi-MG; Selim Oliveira; Fetec-Centro-Norte; Elenilson Silva; Fetec-NE; Anabele Silva; Contraf-CUT; Fabiana Uhera (Seeb Brasilia) e FenaCEF; Edgard Lima.

Fonte: Fetraf-RJ/ES, com Fenae