Câmara elege um estranho no ninho

Almir Aguiar *


Em uma semana na qual a História da América perde um líder da estatura de Hugo Chávez, um estadista gigante que uniu os latino-americanos em torno de um ideal libertário e de integração, vem a Câmara colocar uma nódoa em nossa história, elegendo para a presidência da Comissão de Direitos Humanos um parlamentar descomprometido com as minorias, justamente as que ela deveria defender. Está há dois dias a presidi-la um deputado racista e homofóbico, Marcos Feliciano, publicamente apoiado por um deputado carioca, inimigo da democracia, defensor da tortura e da ditadura militar, o conhecido Jair Bolsonaro.


Circulam na rede social milhares de manifestações contrárias à sua escolha, algumas delas vinculadas à opção religiosa do parlamentar. Não defendo a crítica sob esta ótica, pois respeito todas as crenças, e em todas elas há bons e maus seguidores. O nosso repúdio deve ir mais longe e, como cidadãos e eleitores, é fundamental fazermos uma fiscalização severa dos atos desta Comissão, de vital importância para a cidadania.


Quando a notícia caiu como uma bomba, começaram a pipocar nas redes sociais os vídeos mostrando quem é o novo presidente da CDH, fazendo declarações públicas ofensivas á nossa população negra (“Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome… Etc”).


Vivemos em uma sociedade laica e sou contrário a que qualquer parlamentar use o seu mandato para legislar fazendo proselitismo religioso, querendo impor à sociedade, sua visão religiosa de mundo. O deputado Marcos Feliciano encaixa-se exatamente neste perfil. Ele não atende aos pressupostos do cargo, pois sua visão é estreita e se opõe á abertura de idéias da nossa época. Suas declarações sobre negros e homossexuais nos deixam antever novos pronunciamentos destemperados, em dissonância com o papel que se exige da Câmara dos Deputados.


Que o Congresso Nacional, como um todo, fique atento a esta lamentável eleição interna da Câmara, possivelmente fruto de alianças partidárias. Porque nós, como Sindicato-Cidadão, iremos exigir que a Comissão de Direitos Humanos cumpra a sua função constitucional.


 


*Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro

Fonte: Almir Aguiar