Na missa celebrada hoje na Catedral da Sé para comemorar o aniversário de 452 anos da capital, o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, reabriu, com cobranças à Prefeitura e ao governo do Estado, a discussão sobre um tema que tem provocado muita polêmica na cidade: o tratamento (ou a falta dele) dado aos moradores de rua pelo poder público. Da primeira fileira de bancos da igreja, o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin acompanharam todo o sermão, de cerca de dez minutos.
Em tom sutil, d. Cláudio criticou a falta de diálogo do Município com os representantes do povo de rua e cobrou de Alckmin resposta para o massacre de mendigos ocorrido em agosto de 2004 – que acabou com sete mortos – e, até hoje, não foi esclarecido. “Os pontos de vista de todos os implicados na questão do povo de rua muitas vezes divergem; é natural. Por isso, a necessidade de diálogo e, nessa busca de soluções, devem participar os próprios interessados, os moradores de ruas”, disse o cardeal. Logo depois, acrescentou: “Sinto a obrigação ainda de lembrar a chacina de moradores de rua que manchou a cidade em agosto de 2004 e ainda não foi esclarecida nem seus autores punidos.”
As cobranças foram feitas durante a homilia – tradicional sermão feito aos fiéis durante a missa. No entanto, o momento mais constrangedor foi quando d. Cláudio elogiou o trabalho realizado pelo padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, que travou no ano passado um embate público entre as entidades representantes do povo de rua e o governo Serra. A gota d’água foi a construção da rampas para afastar os mendigos do viaduto que liga a Avenida Paulista à Doutor Arnaldo. Nessa briga, Serra acabou saindo com o rótulo de “higienista”. “A preocupação do d. Cláudio não é em absoluto diferente da minha”, disse o prefeito sobre o sermão. “Não vi crítica, nem cobrança”, acrescentou.
(Fonte: Agência Estado – em 25/Jan)
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