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COLÉGIO BÚLGARO INSTALA SACOS DE BOXE COM FOTOS DE PROFESSORES

SÓFIA – Professores de um colégio búlgaro não gostaram nada da idéia do diretor da instituição, que resolveu instalar sacos de boxe com fotografias dos docentes, dele próprio e de seus assessores, informou a imprensa de Sófia, capital da Bulgária. Um desrespeito à categoria ou uma forma criativa de livrar o estresse de alunos? A medida provoca polêmica, reconhece o diretor Samuil Sheinin, mas ele se mostrou orgulhoso ao dizer que foi o primeiro a inserir numa escola búlgara o método japonês para combater o estresse.


– As crianças poderão se desprender das emoções negativas e sairão da sala de musculação prontas para novas tarefas nas aulas – defende o diretor, cujo instituto fica na cidade de Pernik, próxima à capital búlgara.


As sessões de boxe terão horários diferentes para alunos, funcionários e professores interessados. Segundo Sheinin, a divisão impede que se saiba o alvo preferido de cada um.


– Já compramos os primeiros quatro sacos – conta o diretor, adiantando que serão instalados pelo menos dez deles porque se espera “uma grande participação”.


A sala também terá um sistema especial para registrar o número de golpes, com o objetivo de “conhecer a atitude em relação aos diretores e ao corpo docente” e “tomar medidas”, caso surja algum problema, diz Sheinin.

 


(Fonte: Globo Online – em 3/fev)

 

 

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LÍDER FEMINISTA BETTY FRIEDAN MORRE AOS 85 ANOS

A autora feminista Betty Friedan, que se tornou famosa nos anos 60 por seu livro “A Mística Feminina”, morreu neste sábado, aos 85 anos, em razão de um problema cardíaco, informou a rede de televisão americana CNN.

“As mulheres americanas estão impedidas de crescer até atingir sua capacidade humana total”, afirmou Friedan nessa obra, publicada em 1963, que deu um novo impulso ao feminismo nos Estados Unidos.

“Este problema sem nome é mais grave para a saúde física e mental de nosso país que qualquer doença conhecida”, disse Friedan, que completou 85 anos justamente neste sábado.

Nascida de uma família judia na cidade de Peoria, em Illinois, Friedan estudou no Smith College e no campus da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Sua paixão era o jornalismo, e ela trabalhou na área até 1952, quando foi demitida quando estava grávida de seu segundo filho.

A idéia para “A Mística Feminina” surgiu de um encontro de ex-alunos Smith College, onde comprovou que suas antigas colegas estavam tão insatisfeitas em sua vida do lar como ela, que tinha se casado em 1947 com Carl Friedan, de quem se divorciou em 1969.

O livro se tornou um êxito de vendas, apesar de a minuta inicial, em forma de artigo, ser rejeitada por várias revistas para mulheres.

Na obra, Friedan se queixava da perda de potencial das mulheres dos EUA pela discriminação social, e denunciava que elas eram vítimas de um sistema que as forçava a encontrar satisfação pessoal de forma indireta, através do êxito de seus maridos e filhos.

Depois desse livro, ela escreveu outras obras, e também fundou com Pauli Murray a Organização Nacional de Mulheres dos EUA, uma associação que promove a igualdade de oportunidades para a mulher.

 


(Fonte: Folha Online – em 4/fev)

 

 

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LABORATÓRIO ENCONTRA VERMES, INSETOS E PÊLO DE RATO EM KETCHUP

Uma análise em laboratório realizada pela associação de defesa do consumidor Pro Teste com marcas de ketchup vendidas no Brasil encontrou pêlos de rato, pedaços de pena de aves, insetos, ácaros e vermes nos produtos. Segundo a avaliação, cinco das 16 marcas avaliadas colocam em risco a saúde do consumidor, e devem ser retiradas do mercado.

Segundo reportagem da revista da Pro Teste, a avaliação foi feita duas vezes para eliminar a possibilidade de contaminação acidental nos lotes. Os problemas se repetiram.

No ketchup da marca Extra – da rede de supermercados do Grupo Pão de Açúcar – foram encontrados um pêlo de roedor e duas cabeças de larvas em um frasco. No lote seguinte, foram encontrados três ácaros, cinco fragmentos de insetos e 17 pedaços de larvas.

Já no ketchup Great Value, marca própria do supermercado Wal-Mart, foi constatada a presença de três fragmentos de insetos e um ácaro. Nos lotes seguintes, pêlos de rato, mais sete fragmentos de insetos e sete pedaços de larvas.

A marca Predilecta foi reprovada por conter um pedaço de pena de ave e quatro fragmentos de produtos não identificados. Em um frasco do ketchup Scooby-Doo, produzido sob encomenda para o Carrefour, foram encontrados dois pêlos de roedor e nove fragmentos de insetos. A marca Tomatino também foi reprovada por conter ácaros, pedaços de inseto e larvas.

Pela legislação atual, os produtos da marca Tomatino, Scooby-Doo, Extra, Great Value e Predilecta deveriam ser considerados impróprios para o consumo, considerando-se a avaliação da Pro Teste.

A associação já notificou o Ministério Público Federal, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária em Goiás e São Paulo, solicitando a retirada do mercado desses produtos.

Na avaliação da Pro Teste, o problema está no controle de qualidade do fabricante. Apesar de cinco marcas terem sido eliminadas, vale ressaltar que a Predilecta é responsável, também, pela fabricação dos ketchups Scooby-Doo, Extra e Great Value.

 


(Fonte: Invertia – em 6/dez/05)

 

 

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UNIVERSIDADE QUER COTA PARA PROFESSOR NEGRO

A Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso) aprovou,
por unanimidade, a proposta de destinar 5% das vagas a
candidatos que se declararem negros ou pardos no concurso
para docente. A medida pode ser estendida, pois o MEC
estuda implementá-la nas universidades federais. O
Departamento de Políticas da Educação Superior do
ministério analisa a viabilidade do tema.
 
Apesar de as instituições terem autonomia, a pasta pode
induzir a adoção do sistema. A intenção de implementar cotas
para professor foi conseqüência da discussão para adoção da
reserva para alunos, bandeira do governo Lula.
 
“Legalmente, não vejo problemas. A questão é saber se as
universidades vão querer implementar”, afirma o
coordenador-geral de legislação e normas da educação
superior do MEC, Marilson Santana. Ele ressalta que ainda
não há uma definição na pasta.
 
O tema é polêmico. Apesar da cota para docente ter sido
aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário da
Unemat, a Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso a
considera inconstitucional por ferir o direito de igualdade.
Especialistas também se dividem sobre o assunto. Os
contrários consideram que devem ser selecionados os
melhores, independente da origem.
 
O professor Paulo Alberto dos Santos Vieira, coordenador do
Negra (Núcleo de Estudos sobre Educação, Gênero, Raça e
Austeridade da Unemat), disse que a proposta começou a ser
estudada assim que a universidade criou cotas para alunos.
 
Segundo ele, uma pesquisa por amostragem constatou que
há menos de 7% de alunos negros nas universidades do
Estado, sendo que o IBGE aponta que 54% da população
local se autodeclara negra. “Se há tão poucos estudantes,
imagine o número de professores”, avalia.
 
Mesmo com o parecer contrário da Procuradoria, Vieira vai
insistir na idéia. “O conselho universitário é o órgão supremo
da universidade e aprovou a criação. Vamos provar que é
válida.”
 
Almir Arantes, vice-reitor da Unemat e presidente da comissão
de concursos públicos, disse que haverá uma reunião na
próxima segunda-feira com o conselho universitário e a reitoria
para discutir o parecer da Procuradoria.
 
A Unemat tem hoje 277 professores efetivos e cerca de 700
 substitutos e temporários. O concurso público vai abrir 427
novas vagas.
 
Atualmente, não há dados oficiais sobre a presença de
docentes negros no ensino superior do país. Mas há uma
certeza: está muito abaixo da proporção de negros e pardos
na sociedade, que chega a quase metade.
 
Na USP, por exemplo, há 5.000 professores. “Não devemos
ter nem 50 negros [1%]”, afirma João Zanetic, vice-presidente
da Adusp (associação de docentes).
 
O antropólogo Kabengele Munanga, 63, é um deles. Professor
da principal universidade do país desde 1980, ele classifica
como “invisível” a presença de negros na instituição. “A
diminuição das desigualdades precisa de medidas práticas e
não só de discurso”, diz.
 
No Paraná, uma lei estadual de 2003 reserva aos
afrodescendentes 10% das vagas em concursos públicos,
inclusive para professor das universidades estaduais. O
benefício, porém, ainda não chegou a ser colocado em prática
pela Universidade Estadual de Londrina porque o concurso é
por área específica. “Para cada cinco vagas abertas, uma é
para docente negro”, diz Rodne Lima, pró-reitor de Recursos
Humanos da UEL.

 

(Por Fernanda Bassette e Fábio Takahashi – Folha de S.Paulo – em 4/fev)

 

 

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A CRISE DO IMPERIALISMO É A OPORTUNIDADE DA AMÉRICA LATINA

A esquerda avança na América Latina: a revolução bolivariana na Venezuela, a vitória de Evo Morales na Bolívia, o fortalecimento dos movimentos sociais em diversos países. Nos Estados Unidos, a falta de apoio da população às políticas do governo de George W. Bush enfraquece o imperialismo. “Esse é o momento para que os povos do Sul reúnam forças e enfrentem os Estados Unidos”, acredita o presidente do parlamento cubano, Ricardo Alarcón. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, concedida em Caracas durante o Fórum Social Mundial, o cubano diz que “os Estados Unidos podem vencer militarmente qualquer adversário, mas não podem governar o mundo”. O parlamentar alerta para a existência de bases militares estadunidenses na América Latina e afirma que a sociedade civil precisa “se mobilizar para exigir dos governos de suas regiões uma postura mais rígida no trato com a questão da militarização. É uma questão de soberania”. Especialista em relações Estados Unidos/Cuba, Alarcón também discorre sobre a nova etapa da revolução cubana e o crescimento da economia da ilha socialista. “Cuba conseguiu sair da crise econômica em que caímos quando desapareceu a União Soviética e sua produção petroleira e conseguimos aumentar nossa produção petroleira. Passamos muitos anos buscando isso e hoje temos associação com algumas empresas estrangeiras, do Canadá e da Europa”.

 

 

Brasil de Fato – Como o senhor avalia o processo da revolução bolivariana? Diferentemente do que aconteceu em Cuba, não foram feitas mudanças na estrutura da propriedade privada na Venezuela. No entanto, houve mudanças sociais siginificativas. Podemos dizer que o país está vivendo um processo revolucionário?

Ricardo Alarcón – Sim, eu penso que sim. Uma revolução autêntica não pode ser idêntica às outras que já foram feitas. Acredito que esse é um dos ensinamentos mais importantes que o movimento revolucionário deve tirar das experiências do século 20. A tentativa de copiar um modelo não dá certo. Por exemplo, a Europa Oriental seguiu mais ou menos o padrão da União Soviética, e vimos como isso acabou sendo um castigo para eles. Sem dúvida, a revolução cubana só não desapareceu porque ela foi autêntica, não foi importada da União Soviética. Cada processo tem que se explicar segundo as suas condições, suas especificidades. No caso cubano, por exemplo, o que se pode chamar de burguesia era um setor muito pequeno, débil economicamente, muito atado ao capital estadunidense. Os Estados Unidos intervieram quatro vezes em Cuba, chegaram a ocupá-la com forças militares e tudo. Com a revolução, esta burguesia saiu do país atemorizada, pois tinha certeza de que as tropas estadunidenses iam intervir mais uma vez. Mas isso foi há 47 anos.

 

BF – E na Venezuela, como isso aconteceu?

Alarcón – Na Venezuela, há uma burguesia muito mais forte em comparação com a que havia em Cuba. E continua aqui. Eles têm seus partidos, meios de comunicação e tratam de se opor à revolução internamente. Esse é um dado que tem que se levar em conta. No nosso caso, por exemplo, houve muitas nacionalizações. O Estado tomou posse de algumas empresas, que foram abandonadas por seus donos, que deixaram o país por acreditarem que aquele governo duraria muito pouco. Ou seja, não dissemos “vamos nacionalizar tudo” . Há uma grande parte das terras da reforma agrária em Cuba que eram áreas abandonadas por seus donos. Creio que aqui há uma revolução em curso que segue por um caminho diferente do nosso. E não tem por que ser igual. Deve ser diferente. Deve ser próprio e venezuelano.

 

BF – Mas quais são os pontos caracterizam esse processo como revolucionário?

Alarcón – Houve mudanças importantes, como a alfabetização, o desenvolvimento dos programas sociais. Colocou-se fim a uma casta política que foi tirada do jogo na prática. Foram criadas condições e dados passos para que o povo possa exercer seus direitos democráticos de uma maneira que nunca pôde, por meio dos programas de educação, de saúde. Essas coisas não mudam a estrutura básica da sociedade, mas criam condições para que isso possa acontecer e para que o povo possa exercer a democracia, a autoridade, e ser capaz de governar a si mesmo. Creio que isso é um feito revolucionário. Os momentos, os ritmos que se dão os processos revolucionários não têm que ser iguais. Por exemplo, se tivéssemos tido a oportunidade de fazer a reforma agrária cubana de um outro jeito, teríamos feito.

 

BF – Mesmo que o modelo cubano não possa ser copiado na Venezuela, pois são tempos históricos diferentes, alguns críticos dizem que o que está acontecendo aqui não é uma revolução, e sim uma reforma, visto que, como o senhor disse, a burguesia saiu de Cuba, mas continua na Venezuela.

Alarcón – Isso é um ponto importante. Não acredito que para um processo histórico ganhar o título de ser revolucionário tenha que corresponder a alguns manuais. Em uma primeira instância, uma revolução significa a emancipação das pessoas, das massas para que se coloque fim à exploração. Por onde isso começa, como se faz e com que ritmo, varia. Por exemplo, um revolucionário pode tomar o poder em um dado momento e não fazer a revolução. O Partido Comunista cubano, por exemplo, não se propunha o socialismo. Não o via como uma tarefa imediata, havia uma aspiração a longo prazo. E isso não era apenas uma característica do partido cubano, isso se passava em vários países, pois se acreditava que não havia as condições para se chegar naquele sistema. Não se pode dizer arbitrariamente, “vou proclamar o socialismo, vou fazer o que me der vontade”. Isso tem que ser feito em sintonia com as pessoas, as massas. Agora, no caso da Venezuela, se não há uma revolução, se não se mudou nada, por que a burguesia e o imperialismo estão contra? Porque não são bobos, sabem que por aí vem algo que mudará definitivamente a sociedade venezuelana, pois é uma revolução.

 

BF – Após a queda da União Soviética e do fortalecimento do bloqueio dos Estados Unidos, a economia cubana entrou em crise. Hoje, o país está vivendo um novo período na economia, com um crescimento de cerca de 11% no ano passado. Essa é uma nova etapa da revolução?

Alarcón – Sim, mas seria um erro superestimá-la. Cuba conseguiu sair da crise econômica em que caímos quando desapareceu a União Soviética, mas não podemos dizer que a superou completamente. Mas o que explica isso? Uma série e fatores e muitos são inteiramente cubanos, como o setor turístico que cresceu cerca de 13%, por exemplo. O mais importante é que Cuba conseguiu aumentar sua produção petroleira- algo muito significativo. Passamos muitos nos buscando isso e hoje temos associação com algumas empresas estrangeiras, do Canadá e da Europa. Fomos encontrando cada vez mais petróleo, e a produção foi crescendo substancialmente. Outra é a produção de níquel, que atingiu recordes nos últimos anos. Esse é um dado cubano, não em nada a ver com os vínculos externos. Externamente, temos que falar da vinculação econômica com a República Popular Chinesa, com quem firmamos créditos a longo prazo, sem juros, o que ajudou a oxigenar a economia cubana. Com a Venezuela há acordos que envolvem petróleo.

 

BF – E quais foram as conseqüências do bloqueio econômico dos Estados Unidos?

Alarcón – O desaparecimento da URSS e o recrudescimento do bloqueio dos EUA nos ajudaram a acumular uma experiência que nenhum outro povo tem. Nenhum outro povo viveu meio século sob bloqueio dos EUA. Nós sabemos como resistir e como se pode buscar vias para enfrentá-lo. Uma delas é economizar. Os cubanos têm uma capacidade de economizar que outros povos não têm. Nós nos acostumamos há muito tempo a reparar, a cuidar, a preparar. Outro ponto importante é o desenvolvimento da indústria biotecnologica e farmacêutica. Pouco a pouco, esse setor foi crescendo e agora Cuba exporta medicamentos, produtos tecnológicos, instrumentos médicos. Exportamos vacinas que não há em nenhum lugar do mundo. A economia cubana foi se transformando de um país agroexportador, que vendia açúcar, tabaco, rum e pesca. Continuamos produzindo e vendendo esses produtos – mas passamos a ser uma economia de bens de serviço. Temos dezenas de milhares de cientistas, pesquisadores. Alcançamos um grau de desenvolvimento que não é o mesmo  o que tínhamos quando começamos a revolução. Isso também unindo a outros esforços em matéria de organização, de uso mais racional dos recursos. E isso explica como a economia cubana se recuperou. Quando caiu a URSS, as conseqüências para nós foram terríveis. Tudo foi cortado em cerca de 35%, da noite para a manhã. Nesse momento se recrudesceu o bloqueio e ironicamente podemos dizer que um dia vamos agradecer isso que se passou com os cubanos. Imagine se dependêssemos a vida toda da exportação de petróleo da URSS a baixos preços em troca da nossa produção de açúcar. Esse não é o caminho para o desenvolvimento de Cuba. O caminho certo é o que estamos seguindo agora. Mas é um caminho difícil, especialmente se não tivéssemos sofrido esse golpe.

 

BF – Nas palestras que fez durante o Fórum Social Mundial o senhor falou na crise do imperialismo. Que crise é essa?

Alarcón – O imperialismo está enfraquecendo, principalmente devido à falta de apoio da população estadunidense ao governo Bush e às suas políticas antiterroristas. Onde estão os estadunidenses que engrossam as filas daqueles que querem ir para a Guerra do Iraque, combater o terrorismo, o eixo do mal? O governo dos EUA está pagando soldados para ir para o Oriente Médio. Isso lembra o Império Romano, em sua etapa final, quando teve início sua decadência. Nesse momento, os Estados Unidos são a única potência nuclear do mundo e podem atacar a qualquer país, como fizeram com o Iraque. Mas a tragédia para os EUA é que podem vencer militarmente, mas não podem governar o mundo. O ponto de partida dos neoconservadores que hoje governam os EUA é precisamente esse: querem reverter a tendência, o curso da História, de cima para baixo. Eu não digo que podem vir a ser um país miserável, porque militarmente seguem sendo muito poderosos. Mas o grande problema é: de onde vão tirar os soldados? O império está enfraquecendo, mas ainda assim, os povos da América Latina têm que lutar.

 

BF – Hoje vemos um crescimento de governos progressistas na América Latina. Como as organizações populares e novos governos podem se unir para enfrentar o imperialismo que vive esse momento de crise?

Alarcón – Há dois processos de transcendência histórica nesse momento, na Venezuela e na Bolívia. Uma estratégia importante seria apoiar esses novos processos que surgem na América Latina e que enfrentam abertamente o governo dos EUA, para que se possa reunir forças na luta contra o imperialismo. Por outro lado, os movimentos sociais precisam ser sensíveis aos sentimentos do povo, da sociedade e à necessidade de resistir à hegemonia estadunidense no campo internacional. Pelo menos nisso estamos avançando. Claro que com as diferenças. Nós falamos de governos populares, progressistas, de esquerda, mas somos diferentes. E acho que assim que deve ser. Esperar que todos pensem da mesma maneira seria dogmatismo. O ideal é que seja o oposto; deve ser somar, incorporar. O que tem que existir, o mínimo em cada uma das muitas forças sociais nos muitos governos, é a defesa da independência, da soberania, da integração latinoamericana. Para mim, o símbolo está em Mar del Plata, quando houve grandes manifestações nas ruas, grandes conferências dos povos contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

 

BF – Outro tema bastante discutido durante o Fórum Social Mundial foi a integração da América Latina. Como isso pode ser feito, na prática?

Alarcón – Há acordos muito importantes, como o firmado entre os governos do Brasil, Venezuela e Argentina, sobre o gás. Esse é um exemplo. Outro é a comunicação territorial com o Peru. Será a primeira vez que vocês vão chegar ao Pacífico pela terra, via Peru. Se não há integração física é muito difícil. Fala-se muito na integração da América Latina, mas a pergunta é: como se integrar-se não há comunicação física? Houve avanços nisso. Veja as iniciativas de Chávez: Petrocaribe, Petrosul (iniciativas para integrar as estatais petrolíferas da região). São coisas que estiveram avançando pouco a pouco, mas que têm a ver também com as mudanças políticas. Não havia como conceber isso anteriormente com a Bolívia, por exemplo, que tem um papel importante, com a crise que passava. A Telesul (rede de televisão lançada por Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai) é um exemplo concreto da necessidade de integração. É um projeto de vários países latino-americanos para construir uma alternativa que rompa o monopólio. O grande problema do mundo de hoje é a informação, de acordo com Noam Chomsky. O lingüista disse que é necessário atravessar as nuvens da distorção e do engano para poder apreciar a verdade do mundo, da realidade objetiva, para a partir daí poder organizar-se para mudar. Os movimentos sociais têm um papel fundamental em tudo isso, na educação das pessoas. De mobilização para criar consciência para combater o dano que faz o controle midiático cuja hegemonia segue sendo, repito, o controle estadunidense. Isso lhe permite a distorção e o engano com o objetivo de neutralizar e ganhar. Mas com a luta dos movimentos sociais é possível se chegar a mudar governos, e aí está a vitória de Evo Morales como prova.

 

BF – Há um crescimento de bases militares na América Latina. Como o senhor vê isso e de que maneira os governos da América Latina deveriam se posicionar quanto à questão?

Alarcón – Este é um dos temas que mais foi discutido durante o Fórum, as bases militares e a militarização na América Latina. Os EUA são o único país que tem bases militares neste continente. É a única potência nuclear também, a única nação que tem tropas suas em outros países. Claro, há a exceção lamentável das tropas latino-americanas que estão no Haiti, mas na verdade esses militares estão fazendo o trabalho dos EUA, encobertos pela Nações Unidas. Os EUA são a única potência que tem barcos militares e aviões que se movem por essa área. É o único país que está realizando constantemente exercícios e ensaios militares em várias áreas. A sociedade civil precisa se mobilizar para exigir dos governos de suas regiões uma postura mais rígida no trato com a questão da militarização. É uma questão de soberania. Já os movimentos sociais devem educar a população com o objetivo de eliminar todas as bases militares dos Estados Unidos na América Latina. A começar por uma luta conjunta pela independência de Porto Rico. De todas as nações latino-americanas, são os únicos que ainda são colônias deles. Lá há um movimento de massas amplíssimo em Porto Rico contra as bases militares estadunidenses. Como no restante da América Latina não podem haver movimentos ao menos parecidos com o de Porto Rico, com relação às bases que têm aqui e ali em seu território? Elas são muito perigosas, porque ninguém estabelece uma base por nada. A pergunta final desse tema é por que os Estados Unidos se utilizam dessas estratégias? Para eles, a corrida armamentista ainda não terminou. A única diferença é que agora correm sozinhos.

 

BF – Com qual objetivo?

Alarcón – Não é uma coincidência que os Estados Unidos tenham bases militares no continente onde há dois aqüíferos importantíssimos. Há um informe da CIA de 2000, que pode ser encontrado na página da agência na internet, intitulado “Tendências Globais para o ano 2020”. Neste informe, a CIA diz que para o ano de 2020 o problema mais importante do mundo será a água, e não os conflitos étnicos e militares. Os problemas entre palestinos e Israel não serão nada comparado a esse problema. Haverá uma zona que vai do norte da África até o centro da Ásia onde vão viver bilhões de pessoas sem água. Neste informe, a CIA também explica que há empresas privadas que estão se dedicando a adquirir terras, onde não há minerais, onde não se pode cultivar nada, mas que sabem que há água embaixo. Este é um dos temas mais importantes – segundo eles – e que está ligado aos recursos naturais, que são nossos. Esse é outro tema que se tem que seguir explorando e denunciando.

 

BF – E como está o caso de Luis Posada Carriles?

Alarcón – A Venezuela o reclama há mais de 20 anos. Sem extraditá-lo, os EUA desrespeitam a soberania da Venezuela. Haveria duas opções para que os EUA lidassem dignamente com a questão. Sua extradição é uma delas; outra seria julgá-lo no próprio EUA. Mas não é isso que eles querem fazer. A idéia é enviá-lo para outro país, com a intenção de escondê-lo. Isso é uma infração grave contra o povo venezuelano.

 


(Por Tatiana Merlino e Mariana Tamari – Brasil de Fato – em 2/fev)

 
 

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ALDO CRIA COTA DE PRESENÇA ENTRE PARTIDOS PARA GARANTIR TRAMITAÇÃO DE MATÉRIAS

Irritado com a recorrente falta de quorum nas sessões marcadas para as segundas e sextas-feiras, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), decidiu estabelecer cotas mínimas de presença para as bancadas partidárias. A ausência dos deputados tem provocado atrasos na contagem de prazos para a votação de emendas constitucionais e processos de cassação de deputados.

Nas sessões não deliberativas dessa segunda-feira, 30/01, e da sexta passada, 2701, por exemplo, não se atingiu o quorum mínimo de 51 deputados. Com o baixo comparecimento dos parlamentares, emendas constitucionais aprovadas em primeiro turno na semana passada, como a que cria o Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb) e a que acaba com a verticalização das coligações partidárias, só poderão ser votadas na próxima semana.

A decisão de Aldo foi comunicada nesta terça-feira, 31/01, aos líderes dos partidos em reunião no gabinete da Presidência da Câmara. No entanto, não haverá punição para quem não respeitar a cota, já que nas segundas e sextas-feiras não há votações e não é exigida presença.


A cota respeita proporcionalmente o tamanho das bancadas. Com isso, o PT terá de manter 10 deputados, no mínimo, nesses dois dias da semana. Para os demais partidos, as cotas são as seguintes: nove deputados do PMDB, sete do PFL, seis do PSDB e PP, cinco do PL e PTB, três do PDT e PSB, dois do PSD, e um do PCdoB, do PV, do PSOL e do PSC. Informações do Congresso em Foco.

 


(Fonte: Agência DIAP – em 1º/Fev)

 

 

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ABONG RESPONDE AO PREFEITO DE SÃO PAULO


A declaração do prefeito de São Paulo, José Serra, segundo a qual o presidente Lula “comanda o país como se fosse presidente de uma ONG” poderia ser interpretada como um grande elogio ao presidente da República, não fosse a explícita vinculação que o prefeito Serra estabelece entre presidir uma ONG e ser incapaz de fazer com que a instituição dirigida funcione. Tomamos nota do julgamento acerca das ONGs implícito na declaração do prefeito José Serra, mas acreditamos que sua declaração não vai alterar em nada a avaliação feita pelas ONGs do papel político do prefeito e eventual candidato à presidência da República. Este tem sido avaliado de forma justa e equilibrada, e conseqüentemente negativa, pelo seu compromisso com as políticas tucanas que tanto contribuíram para o aprofundamento das desigualdades sociais no Brasil.


 


Gostaríamos de saber qual das características da atuação de um bom dirigente de ONG mais incomoda ao Sr. José Serra:


 


a) O compromisso com a defesa dos direitos dos setores excluídos da população?;


 


b) A defesa de alternativas sustentáveis e democráticas de desenvolvimento para a sociedade brasileira?;


 


c) O empenho na radicalização da democracia e na ampliação da participação popular?;


 


d) A imprescindível capacidade de diálogo com lideranças populares, representantes de órgãos governamentais e da cooperação internacional?;


 


e) A coerência na defesa das causas de interesse coletivo abraçadas pelas ONGs sem a qual sua credibilidade não se sustenta e a ONG não consegue sobreviver (coerência esta infelizmente ausente na ação de tantos políticos)?;


 


f) O compromisso de prestar contas à sociedade da atuação de sua ONG?


 


(Por Jorge Eduardo Saavedra Durão, diretor geral da Abong – em 1º/Fev)

 

 


 

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FÁBRICA EXPELE GASES TÓXICOS E PREJUDICA CRIANÇAS DA IMBIRIBEIRA

Moradores das ocupações Dorothy Stang e Manuel Didier, no
bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, fizeram um protesto,
ontem, contra a emissão da fumaça tóxica proveniente da fábrica
de tubulações de aço Icomacedo. Segundo a comunidade,
dezenas de crianças e alguns adultos têm tido problemas de
saúde, freqüentemente problemas respiratórios e inflamações
na pele, devido à inalação de fumaça e a exposição ao cheiro
forte de tinta expelido pela empresa, localizada a poucos
 metros das casas. Em uma das residências, próxima à
fábrica, três crianças estão, com várias feridas pelo corpo,
segundo os pais, causadas pela poluição da indústria.
Durante o protesto, os manifestantes bloquearam com sacos
de lixo, tonéis e plantas a Rua Jorge de Lima que dá acesso
ao prédio da Icomacedo, impedindo a entrada e saída dos
caminhões da empresa. As atividades da indústria foram
paralisadas durante o dia de ontem. O diretor do
estabelecimento Manoel Macedo garantiu que, em 40 dias,
ficará pronto um estudo de reformulação de emissão de gases.
Ele explicou que já existe um processo de lavagem da fumaça
expelida durante o processo de fabricação dos tubos, filtrando
a maior parte dos poluentes, porém os gases mais ofensivos
são exalados no momento da pintura dos canos, pois são
utilizadas tintas à base de petróleo. A coordenadora do
Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTTL), Danúzia Maria
dos Santos, disse que o problema com a indústria é antigo,
no entanto, nos últimos meses, houve maior despejo de
poluentes no ar. Os moradores vão formar uma comissão para
 levar o caso ao Ministério Público de Pernambuco.  Segundo
o diretor da CPRH, Geraldo Miranda, os fiscais da agência
foram ao local e aconselharam os donos a realizar um
melhoramento no processo industrial. Segundo Miranda, para
a empresa voltar a funcionar, os fiscais da CPRH devem
retornar hoje e verificar a situação.
 
(Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco, Jornal do Commercio, 02/02/06)
 

 

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LOBBY POR VERBAS PÚBLICAS INCENDEIA O CINEMA NACIONAL

Nunca fui muito fã do político Gilberto Gil, desde os tempos em que, como vereador de Salvador, apoiou ACM.

Acho que seu ministério é ausente em muitas áreas. Ainda que parte disso se deva aos míseros 0,25% do orçamento federal que ele maneja, também é verdade que faltam projetos e quadros qualificados.

Por outro lado, tenho que reconhecer que o atual ministro da Cultura mudou a pauta do cinema nacional e se cercou de uma competente equipe para o setor do audiovisual.

Primeiro foi a tentativa de re-regular o setor através da proposta de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav). O projeto vazou antes do tempo, tinha furos, mas avançou para a primeira tentativa oficial de regulamentar o conjunto do setor do audiovisual desde o Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962. A proposta foi destruída em praça pública pelo lobby organizado a partir dos interesses convergentes da Globo Filmes e dos estúdios norte-americanos.

Tais interesses foram vocalizados por uma série de cineastas que afirmam representar a “indústria do cinema brasileiro” em contrapartida aos “novatos” e “experimentalistas” que estariam sendo agraciados pelo novo governo. A verdade, contudo, é que muitos não filmam há anos e outros lutam sem sucesso para conseguir uma boa bilheteria. E que não se pode falar de uma “indústria” que sobrevive de renúncia fiscal e não do mercado.

Outra medida importante foi a mudança dos critérios de financiamento do cinema nacional. É verdade que o governo manteve vários dos vícios da renúncia fiscal, que permite o uso de dinheiro público (que deveria virar imposto) por empresas privadas para as suas estratégias privadas no cinema nacional. Mas, a gestão de Gilberto Gil avançou um pouco na construção de uma consciência de que verbas públicas devem ser usadas segundo critérios públicos.

A mola-mestra destas mudanças foram os editais da Petrobrás para o cinema nacional. Foi criada uma comissão plural para aprovar quais filmes devem receber recursos da estatal, assim como foram adotados critérios de incentivo à diversidade. São apoiados filmes de várias regiões do Brasil, de diretores experientes e iniciantes, longas e curtas metragens, animações e documentários.

Agora, às vésperas da divulgação de mais um edital (desta vez do BNDES), os ânimos se acirram.

Vazou para a imprensa que nomes consagrados como Hector Babenco e Jorge Furtado devem ser agraciados, junto com uma turma muito mais jovem e menos influente. Além de não pertencer ao portfólio da Globo Filmes.

Os boatos fizeram com que a “indústria do cinema brasileiro” passasse a visitar a grande imprensa quase que diariamente com críticas ao ministério da Cultura. Com receio de trombar de frente com o prestígio do ministro-cantor, escolheram como alvos seus assessores.

E tiveram todas as desculpas do mundo quando o secretário de políticas culturais, Sérgio Sá Leitão, resolveu bater boca publicamente com o poeta Ferreira Gullar, amigo de longa data do senador José Sarney, afiliado da emissora dos Marinho.

Até mesmo Caetano Veloso resolveu criticar a gestão do amigo e se colocar do lado de sua ex-esposa, a produtora cinematográfica Paula Lavigne, que já manifestou publicamente saudades da antiga chefe de patrocínio cultural da estatal de petróleo, Eleonora di Martino Salim.

Mas, que ninguém se iluda. Por detrás de críticas vagas como “dirigismo cultural” e “centralismo” repousa mesmo a velha, e não tão boa, disputa por verbas públicas para a produção de filmes. A “indústria do cinema brasileiro” não sobreviveria um dia sem os editais e a renúncia fiscal.

Em ano eleitoral, o governo Lula deve viver um dilema. Não pode se arriscar a fritar Gilberto Gil, dono de fama e admiração que extravasam o Brasil. Por outro lado, até quando resistirá à enxurrada de entrevistas, reportagens e editoriais que passaram a freqüentar as páginas dos grandes jornais?

O ministro Gil, apesar de criticar o destempero verbal de Sá Leitão, chamou o caso para si e afirmou que os críticos deveriam pedir a sua cabeça ao presidente. Mas, até quando o ministro irá resistir ao ataque?

O que seus críticos esperam já está claro. O ministro recuaria e discretamente mudaria as comissões julgadoras dos editais. E a turma da “indústria do cinema brasileiro” voltaria a reinar sozinha nos cofres públicos.

 


(Por Gustavo Gindre – em 1º/Fev)

 

 

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SPIELBERG ALERTA PARA O PERIGO

Muitos “Mas o que o autor da mais polêmica peça sobre a situação dos gays nos EUA faz em um thriller político ligado à questão Israel x Palestina?” foram ouvidos pelo dramaturgo nova-iorquino Tony Kushner desde que aceitou escrever o roteiro de “Munique”. Preconceito? Talvez. Mas, aos 49 anos, o homem que ganhou fama no teatro internacional (mais o cobiçado prêmio Pulitzer) com a peça “Angels in America” — que virou minissérie da HBO — já está suficientemente escaldado para saber que colaborar com o mais controverso filme de Steven Spielberg faria dele alvo de cobranças.


— As pessoas que atacam “Munique” politicamente, descrevendo-o como uma “traição a Israel”, não prestaram atenção às recentes mudanças de direção política daquele país. Todas as discussões sobre as políticas de segurança israelenses precisam ser revistas. De alguma forma, Ariel Sharon (ex-primeiro ministro de Israel, substituído por Ehud Olmert em janeiro após sofrer um derrame) as colocou em xeque com suas atitudes, que resultaram em massacres — afirma o roteirista de “Munique” (co-assinado por Eric Roth) em entrevista por telefone ao GLOBO, referindo-se ao bafafá gerado em torno da abordagem de Spielberg para a retaliação de Israel à célula terrorista palestina que assassinou 11 atletas da delegação israelense durante as Olimpíadas de Munique, em 1972.


 


“Munique” atesta que Spielberg gosta do risco


Filmado entre junho e setembro de 2005, com um orçamento de US$ 75 milhões (dos quais US$ 37 milhões já foram recuperados em menos de um mês só nas bilheterias americanas), “Munique” recebeu anteontem cinco indicações ao Oscar. Entre elas, as de melhor filme, direção e roteiro adaptado, contemplando o trabalho de Kushner e Roth. A dupla usou como base o livro “A hora da vingança” (recém-editado pela Record), de George Jonas, transposto para a TV em 1981, dirigido pelo inglês Michael Anderson. Kushner, que não viu o longa de Anderson, choca-se quando perguntam a um judeu como ele, autor de indignados ensaios políticos como os de seu livro “Save your democratic citizen soul!”, qual é seu interesse numa briga que já ceifou milhares de vidas.


— Não há um senso na comunidade judaica americana sobre o conflito em Israel. Alguns admiram Sharon. Outros, como eu, enxergam Sharon como uma figura problemática, um político reacionário que representa o que há de pior na vida política de Israel. Recentemente, ele teve uma mudança radical. E agora que está acamado, passa por um revisionismo histórico. E isso não é um acidente. Um furacão político varre o mundo. “Munique” é um presságio de mudanças que estão por vir — diz.


Kushner vê “Munique” como “um ensaio coletivo” sobre o episódio que levou cinco agentes do Mossad, o serviço secreto de Israel — vividos por Eric Bana, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, Ciarán Hinds e Daniel Craig, o novo 007 — a correr o mundo atrás dos palestinos.


— Estive em territórios ocupados várias vezes. Mas não é essa experiência que guia “Munique”. Steven queria fazer da trama um somatório dos pontos de vista de toda a equipe, principalmente o de Eric Bana (que vive Avner, líder da missão) . Steven gosta do risco. Esse não é um filme característico dele, nem um assunto que ele domine. Mas ele o fez de modo ousado e sombrio. Não creio que “Munique” seja um enorme sucesso de bilheteria, pois dura 2h44m e não tem nenhum grande astro. Mas é um filme adulto, diferente das porcarias que Hollywood faz.


Apesar dos elogios, Kushner sabe que o Oscar 2006 será de “O segredo de Brokeback Mountain”.


— Dizer que a vitória do filme de Ang Lee é a afirmação do poder gay supõe institucionalização da homossexualidade. Torço por “Brokeback Mountain” porque é um filme tocante. Mas sua premiação não vai pôr um fim no preconceito contra homossexuais.

 


(Por Rodrigo Fonseca – Jornal O Globo – em 02/fev)

 

 

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