Comando considera proposta de 6,1 % provocação e aponta calendário de luta

Nada de aumento real de salário. Nada de aumento real sobre os pisos. Nada de melhoria da PLR. Nada sobre emprego. Nada de avanços para a saúde dos trabalhadores. Nada de melhorar as condições de trabalho. Nada que aponte para o fim das metas abusivas e do assédio moral. Nada para melhorar a segurança bancária. E nada para promover a igualdade de oportunidades. A proposta apresentada nesta quinta-feira 5 pela Fenaban ao Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, é de apenas reajuste de 6,1 % (reposição da inflação prevista) sobre os salários, os pisos, a PLR e demais verbas de caráter salarial.

Indagados pelos representantes dos bancários se essa era a última proposta, os negociadores da Fenaban responderam que “é a proposta final, pra fechar acordo”, e que não há mais como avançar porque a categoria bancária já tem a melhor Convenção Coletiva do país.

A postura patronal foi de total descaso com as reivindicações apresentadas. “Os representantes dos banqueiros abriram a reunião dizendo que a cada ano nossa convenção está mais estruturada e mais complexa e que é difícil avançar. Disseram que temos remuneração e PLR elevadas e qualidade no emprego, com permanência do trabalhador na empresa maior que as outras categorias. Mas nós sabemos que não é bem assim. Os salários e PLR não acompanham a lucratividade do setor, as condições de trabalho estão cada dia piores e temos a maior rotatividade entre todas as categorias do país”, pondera Nilton Damião Esperança, representante da Fetraf-RJ/ES no Comando Nacional.

O Comando Nacional rejeitou a proposta já na mesa de negociação e aprovou um calendário de luta que aponta para a realização de assembleias na próxima quinta-feira, dia 12, em todo país para aprovar greve a partir do dia 19, se até lá os bancos não apresentarem uma nova proposta que contemple as expectativas da categoria.

Além da proposta econômica inaceitável, a Fenaban demonstrou que não dá nenhuma importância às outras cláusulas da minuta de reivindicações. “Os patrões não sinalizaram nenhum avanço em relação às demissões, à rotatividade e à contratação de mais bancários. Quanto à saúde, não levaram em conta o adoecimento da categoria. Com relação à segurança, lembrei que na reunião anterior relatei a morte de um bancário e uma vigilante num PAB do Santander em Angra dos Reis e que as medidas que os bancos adotam não são suficientes. Para os bancários que sofrem o risco constante não é satisfatória a resposta dada pelos banqueiros, de que pretendem esperar os resultados do projeto piloto implantado em Recife para, então, aplicar novas medidas”, relata Nilton.

Resposta

“A proposta dos bancos é uma provocação, um total desrespeito aos bancários, partindo de um segmento que continua batendo recordes de lucro e de rentabilidade”, critica Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. “A proposta não tem aumento real, nem valorização do piso e nenhuma resposta para nossas reivindicações sobre emprego, saúde e condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades. Isso é inadmissível. Só uma forte mobilização da categoria em todo o país fará os bancos melhorarem a proposta”, acrescenta Carlos Cordeiro.

Nilton Damião Esperança acrescenta que só com pressão se alcança novas conquistas na CCT. “Tivemos aumento real por vários anos seguidos, conquistamos a 13ª cesta alimentação, a extensão do plano de saúde a parceiros homoafetivos e a ampliação da licença-maternidade. Estes e outros benefícios não vieram por bondade dos patrões, foi com muita pressão que arrancamos deles estes avanços. Se os bancários têm, como pensam os banqueiros, a melhor convenção do país, é porque sempre lutamos. Precisamos continuar lutando, para avançar ainda mais. E a nossa luta se faz com uma greve forte”, conclama o sindicalista.

Calendário de luta

O Comando Nacional, reunido ao final da reunião com a Fenaban, aprovou o seguinte calendário de luta:


 


 















12/09 Assembleias para rejeitar a proposta e decretar greve por tempo indeterminado a partir de 19/09
17/09 Mobilização em Brasília para pressionar os deputados federais durante a audiência pública sobre o PL 4330
18/09 Assembleia organizativa para encaminhar a greve
19/09 Greve nacional por tempo indeterminado

 Confira, abaixo, a discrepância entre o que os bancários reivindicaram e o que os banqueiros ofereceram: 










A proposta da Fenaban


As reivindicações dos bancários


– Reajuste – 6,1 % (previsão da inflação pelo INPC) sobre salários, pisos e todas as verbas salariais (auxílio-refeição, cesta-alimentação, auxílio-creche/babá etc.)


– PLR – 90 % do salário mais valor fixo de R$ 1.633,94, limitado a R$ 8.927,61 (o que significa reajuste de 6,1 % sobre os valores da PLR do ano passado)


– Parcela adicional da PLR – 2 % do lucro líquido dividido linearmente a todos os bancários, limitado a R$ 3.267,88


– Adiantamento emergencial – Não devolução do adiantamento emergencial de salário para os afastados que recebem alta do INSS e são considerados inaptos pelo medico do trabalho em caso de recurso administrativo não aceito pelo INSS


– Prevenção de conflitos no ambiente de trabalho – Redução do prazo de 60 para 45 dias para resposta dos bancos às denúncias encaminhadas pelos sindicatos, além de reunião específica com a Fenaban para discutir aprimoramento do programa


– Adoecimento de bancários – Constituição de grupo de trabalho, com nível político e técnico, para analisar causas dos afastamentos


Inovações tecnológicas – Realização, em data a ser definida, de Seminário sobre Tendências da Tecnologia no Cenário Bancário Mundial.


– Reajuste salarial de 11,93 % (5 % de aumento real mais inflação projetada de 6,6 % )


– PLR: três salários mais R$ 5.553,15


– Piso: R$ 2.860,21 (salário mínimo do Dieese)


– Auxílios alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá: R$ 678 ao mês para cada (salário mínimo nacional)


– Melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoece os bancários


– Emprego: fim das demissões, mais contratações, aumento da inclusão bancária, combate às terceirizações, especialmente ao PL 4330 que precariza as condições de trabalho, além da adoção dos termos da Convenção 158 da OIT, que proíbe as dispensas imotivadas


– PCCS (Plano de Cargos, Carreiras e Salários) para todos os bancários


– Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós-graduação


– Prevenção contra assaltos e sequestros, com o fim da guarda das chaves de cofres e agências por bancários


– Igualdade de oportunidades para bancários e bancárias, com a contratação de pelo menos 20 % de negros e negras.

Fonte: Fetraf-RJ/ES com Contraf-CUT