A Secretaria de Políticas Sociais da Fetraf-RJ/ES realizou na manhã do dia 26 um debate sobre racismo com a presença de Elói Ferreira, ex-ministro da SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Durante o evento também aconteceu a criação do Coletivo de Combate ao Racismo da Fetraf-RJ/ES.
A secretária de Políticas Sociais da Fetraf-RJ/ES, Adilma Nunes, abriu o evento destacando que o racismo não é uma exclusividade brasileira e que a discriminação nunca traz bom resultado. “Preconceito é um mal que afeta todos os povos e traz como sintoma o medo, a intolerância, a segregação e o ódio. No caso específico do preconceito racial, apesar de sermos todos seres humanos, temos características diferentes e, ao invés destas características gerarem encantamento, elas nos separam. Esta separação se transforma em violência e tenta-se destruir a identidade do outro”, pondera a sindicalista.
Em seguida, Eloi Ferreira falou, destacando a importância do combate ao racismo em todas as suas formas e em todas as situações da vida humana. “Situações como a que aconteceu na Tijuca, do gerente do restaurante que deu bananas a um motorista negro, são tipificadas, estão na lei, há punição prevista. Mas não se pode considerar racismo o pequeno número ou a ausência de negros e negras nos ministérios, nas secretarias estaduais e municipais, no STF, no STJ? E também nas empresas, nos bancos, não só nas agências, mas também nos cargos mais elevados de diretoria. Não é racismo a falta de igualdade de oportunidades?”, questiona o ministro. Ferreira destacou também que o Estatuto da Igualdade Racial é uma poderosa ferramenta para promover a inclusão dos negros e negras na sociedade e até mesmo para reduzir as mortes de jovens afrodescendentes.
O pouco destaque dado às personalidades negras da história do Brasil é um problema que deve ser combatido, para que a população afrodescendente tenha exemplos com que se identificar. “Escondem-se os heróis, as lutas e as vitórias da comunidade negra. “Há poucos dias tivemos o dia da Revolta da Chibata, movimento muito importante que aconteceu no Rio de Janeiro, comandado por João Cândido, e pouco se falou sobre isso. No dia 22 de novembro deveríamos todos ir lá, à Praça XV, onde tem a estátua de João Cândido, e celebrar – oração para quem é de oração, tambor para quem é de tambor – para reverenciar este homem negro que teve uma enorme importância e que morreu pobre e sem reconhecimento”, cita Ferreira.
Para ex-ministro da SEPPIR, o combate à discriminação passa por uma profunda mudança de conceitos, com a eliminação da naturalização do racismo. “Naturalizada tem que ser a igualdade racial. para combater a desigualdade, temos que ter a igualdade como elemento principal e a desigualdade como exceção”, defende. Na visão do ex-ministro, o esforço para eliminar o preconceito racial deve partir de todos. “O racismo trabalha com muitas faces e está presente em situações do dia a dia. Combater o racismo não é responsabilidade somente da comunidade negra, mas de toda a sociedade, de toda a nação”, defende Ferreira.
Coletivo
Além de marcar o Mês da Consciência Negra, o evento também teve o objetivo de criar o Coletivo de Combate ao Racismo da Fetraf-RJ/ES. A coordenadora é Adilma Nunes, secretária de Políticas Sociais da entidade, e os representantes de cada sindicato filiado serão indicados por suas diretorias. Mas, independente das representações formais, o coletivo é aberto à participação de todos os sindicalistas interessados.
O secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, reforça a necessidade dos sindicatos e federações criarem coletivos em suas bases para discutir ações para o enfrentamento do preconceito racial. A orientação foi transmitida formalmente às entidades em setembro e já havia sido definida na primeira reunião da CGROS da atual gestão, realizada em agosto. “O II Censo da Diversidade, realizado pelos bancos em 2013, mostrou que, dos cerca de 500 mil bancários que atuam no setor, somente 24,7% são negros e negras. Deste percentual, apenas 3,4% se declararam pretos, e nem aparecem os dados sobre a mulher negra. A criação dos Coletivos de Combate ao Racismo vai ser fundamental para discutir as questões do preconceito e discriminação no setor bancário e na sociedade”, avalia Almir.
O presidente da Fetraf-RJ/ES, Nilton Damião Esperança, destaca que o mundo vive uma situação em que é preciso combater firmemente qualquer forma de segregação. “Em um momento em que o ódio se mostra presente em todo mundo, temos que de uma vez por todas abolir de nosso dicionário as palavras preconceito e racismo. Precisamos de paz, amor e fraternidade. Devemos tomar consciência de todos os preconceitos e combatê-los. Nossa Federação e os sindicatos filiados estão demonstrando sensibilidade quanto a esta questão ao criar o coletivo de combate ao racismo”, destaca o dirigente.