Duas rodadas e nenhuma proposta

Próxima negociação com Fenaban acontece nesta quarta-feira

Remuneração, igualdade de oportunidades e emprego foram os temas do primeiro dia de negociações da Campanha Nacional 2016, entre o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), realizada nesta quinta-feira (18), em São Paulo.

Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional, relatou que, na reunião, os bancários explicaram os principais pontos da minuta.

No assunto remuneração, os bancários reivindicam reposição da inflação mais ganho real de 5%, valorização do piso salarial, no valor do salário mínimo calculado pelo Dieese (R$3.940,24 em junho), PLR de três salários mais R$ 8.317,90. Para vales alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá, o valor é de R$880,00 ao mês para cada (salário mínimo nacional). Outras reivindicações abordadas foram vale-cultura, vale-refeição durante o auxílio maternidade e parcelamento das férias.

“Mostramos aos negociadores dos bancos que 25% das categorias tiveram aumento acima da inflação de janeiro a maio deste ano. Os bancários querem estar nessa estatística já que trabalham para o setor mais lucrativo do país”, afirmou Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e uma das coordenadoras do Comando.

Já no tema igualdade de oportunidades, o destaque ficou para o fim das discriminações nos salários e na ascensão profissional de mulheres.

Em emprego, os representantes dos trabalhadores lembraram também que, entre 2012 e 2015, mais de 34 mil postos de trabalho foram reduzidos. Por isso, pedem o fim das demissões, mais contratações, fim da rotatividade e combate às terceirizações diante dos riscos de aprovação do PLC 30/15 no Senado Federal, além da ratificação da Convenção 158 da OIT, que coíbe dispensas imotivadas. A preocupação com as agências digitais também foi abordada pelos bancários.

Juvandia destacou que quase sete mil postos de trabalho foram cortados em 2016. “É uma irresponsabilidade num momento que o Brasil passa pelo aumento de desemprego. Os bancos têm de cumprir sua função social. É o setor mais lucrativo e também tem que ser o que mais emprega e o que melhor emprega”, completou.

O presidente da Contraf-CUT revelou que os temas da reunião desta sexta-feira (19), às 9h30, serão saúde e condições de trabalho e segurança. “Vamos insistir que eles nos tragam retornos que valorizem os bancários, já na próxima semana”, completou.

Já no segundo dia de negociação, os temas apresentados foram Mais saúde, mais segurança e melhores condições de trabalho.

Bancários e bancárias convivem com um ambiente de trabalho adoecedor, desgastando a sua saúde física e mental ao longo de jornadas de trabalho extenuantes, sem pausas para descanso, com metas de produção inalcançáveis e cada vez mais crescentes, convivendo com riscos de assaltos e sequestros e tendo de dar conta de inúmeras tarefas.

Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários, explicou que os 128 artigos que integram a minuta da categoria já estão com os bancos desde a entrega da pauta, em 9 de agosto. Os trabalhadores esperam que a Fenaban não postergue as negociações e apresente propostas que contemplem as demandas dos trabalhadores o quanto antes. “Os bancos conhecem muito bem nossa minuta e queremos que apresentem suas propostas objetivamente, já que esgotamos o período de esclarecimentos e debates. Esta é a expectativa dos bancários e das bancárias. Chegou a hora do reconhecimento do nosso valor”, afirmou.

“Como todo ano, os bancários vêm para a mesa de negociação preparados, com dados e toda a seriedade. Deixamos claro que mais empregos, o aumento real, a melhoria das condições de trabalho e o fim da desigualdade entre homens e mulheres são questões centrais. No dia 29 esperamos que venham para a mesa com proposta para resolver a campanha, sem enrolação”, disse vice-presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, uma das coordenadoras do Comando.

Saúde e condições de trabalho

A última estatística divulgada pelo INSS, entre janeiro e março do ano passado, revelou que 4.423 bancários foram afastados do trabalho, sendo 25,3% por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e síndrome do pânico.

Em relação à saúde e condições de trabalho, os representantes dos trabalhadores reivindicam o fim das metas abusivas e do assédio moral. Há cinco anos, os bancários conquistaram instrumento de prevenção e combate ao assédio moral, previsto na cláusula 56ª da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Mas os dirigentes sindicais cobraram mais empenho dos bancos no combate ao problema. Foram detectadas várias falhas no trânsito das denúncias encaminhadas pelos sindicatos acordantes até o retorno a ser dado pelos bancos signatários do instrumento.

O Comando Nacional também quer mudanças no processo de retorno ao trabalho. Nas mesas temáticas de saúde, durante o ano todo, já houve o aprofundamento do debate com a Fenaban para a mudança de nome da cláusula 44ª da CCT, hoje Programa de Reabilitação Profissional, para Programa de Retorno ao Trabalho. Os bancários reafirmam a reabilitação profissional é uma tarefa exclusivamente pública, atribuída ao Ministério da Previdência Social, que tem a responsabilidade de executá-la, e que os bancos devem assegurar condições de trabalho seguras e saudáveis para reinserção do trabalhador que retorna da licença-saúde.

Em muitos casos, os bancos têm descontado de uma vez só o salário dos funcionários após afastamento por doença, além de transferirem a análises dos atestados médicos para o gestor da agência, o que tem gerado grande revolta por parte dos funcionários.

Segurança

Por mais segurança nas agências, os bancários reivindicam permanência de dois vigilantes por andar nas agências e pontos de serviços bancários, conforme legislação. Instalação de portas giratórias com detector de metais na entrada das áreas de autoatendimento e biombos nos caixas. Abertura e fechamento remoto das agências, fim da guarda das chaves por funcionários.

Um dos principais pontos debatidos na mesa de negociação foi a prevenção contra assaltos e sequestros. Os bancários querem que que os bancos estendam o atendimento médico e psicológico aos familiares das vítimas de sequestros e outros delitos, assumindo os custos de remédios e as despesas de todos os tratamentos.

O Comando Nacional também destacou denúncias trazidas pelos bancários sobre constrangimentos e excessos dos gestores causados por revistas dos funcionários nas agências.

Economia e política

Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da base no Comando Nacional, destacou que o momento político e econômico é delicado. Há retração do crescimento no mundo todo, mas o aumento da taxa de juros norte-americana provoca fuga de capitais daquele país. O preço das commodities – entre elas, o petróleo – está em baixa, o que prejudica a economia brasileira, ainda muito apoiada na exportação destes produtos. Mas os equívocos da presidenta Dilma Roussef na condução da política econômica, alegados como causa para seu afastamento, não justificam a atual conjuntura, já que o governo interino já está ditando as regras há três meses e a situação só se agrava. No âmbito sindical, há categorias importantes em processo de campanha salarial, como os petroleiros e empregados dos correios, o que cria uma circunstância que pode ser aproveitada para aumentar a pressão sobre o governo. “Se por um lado estamos passando por uma conjuntura muito desfavorável policialmente, também acredito que essas fragilidades do Governo Temer, com sua baixa popularidade, inclusive com reflexos na imprensa internacional, nos dêem chances de sairmos vitoriosos nessa campanha. Temos que construir não apenas o engajamento de todos os bancários, mas também fazer uma interface com as outras categorias”, recomenda o dirigente.

Nilton ainda destaca que é preciso divulgar a campanha salarial dos bancários não só entre os trabalhadores, mas junto à população como um todo. “Temos que deixar claro que não são os bancários que querem cruzar os braços, mas os patrões que prolongam as negociações e nos forçam a apelar para a greve como forma de pressão. É importante reforçarmos na mídia e nas redes sociais o mote “Só a Luta te Garante”. Também precisamos aproveitar o contato com os clientes e usuários durante as atividades na base para conversar sobre a situação dos bancos e mostrar a todos que as taxas de juros e tarifas altas e as filas e o mau atendimento são provocados pelos banqueiros”,  aponta o dirigente.

Agenda

As próximas rodadas de negociação com a Fenaban foram marcadas para o dia 24, quarta-feira da semana que vem, e também para o dia 29 de agosto. Com o Banco do Brasil, a primeira rodada de negociação está agendada para o dia 23 (terça-feira), em Brasília. No dia 24, tem nova negociação com a Caixa, em São Paulo.