Rafanele Alves Pereira deixa a presidência do Sindicato dos Bancários de Campos na próxima sexta-feira. Foram quatro anos muita atividade, em greves, manifestações e vitórias importantes. Já prestes a entregar o cargo a seu sucessor, Hugo Diniz, Rafanele concedeu esta estrevista à nossa reportagem:
Quais foram as situações mais difíceis da sua gestão? As demissões irregulares, que exigem o esforço do sindicato para reintegrar os bancários. Mas nossos departamentos de saúde e jurídico têm orientado bem os trabalhadores. Ainda há muita dificuldade no INSS, os peritos nem olham para o trabalhador. Tivemos o caso de um banco que pediu uma junta médica para avaliar os casos de LER e o próprio consultor contratado informou que, se não houvesse uma mudança no mobiliário, todos os funcionários ficariam doentes. Chegaram a dizer que nosso sindicato estava se transformando numa indústria de CATs, mas demos a resposta com as reintegrações. O sindicato tem que estar nos locais de trabalho, olhando o bancário. A gente nunca consegue tudo, mas ver o bancário ser reintegrado é a coisa mais importante para o sindicato. Dos que foram demitidos, 90 % foram reintegrados.
Tivemos também a greve dos vigilantes, que nos exigiu muito, foi difícil e recebemos críticas, muitos disseram que agora fazemos greve duas vezes por ano. Mas fomos à imprensa e à rua informar que estávamos ali para defender a segurança dos bancários e da população.
Durante as greves, nós enfrentamos polícia, houve prisões. Foi um mandato de conflito com gestores e a direção do banco. Tivemos anos em que parávamos na delegacia quase todos os dias durante a greve.
Mas toda gestão tem dificuldades. Estamos brigando com os poderosos, as dificuldades são normais. Não é fácil ser presidente de sindicato. Temos que saber conduzir a gestão tanto dentro do sindicato, com o restante da direção, quanto externamente.
O que você considera as maiores vitórias da gestão? Uma coisa muito importante foi o acordo na ação contra o BB (de equiparação dos salários com os do empregados do Banco Central). Uma das propostas da nossa gestão foi concluir este processo. Foram 22 anos, e durante este período vários advogados vieram ao sindicato propor acordos. Mas sabíamos que o processo já estava quase saindo, tivemos uma excelente assessoria de nossos advogados e da assessoria jurídica da Federação e conseguimos um acordo satisfatório.
Além de recuperar os direitos dos bancários, conseguimos estabilizar as finanças do sindicato. Começamos o mandato sem nenhum dinheiro em caixa – e contamos com ajuda dos demais sindicatos filiados à Federação, principalmente para pagar nossos funcionários e manter o movimento de rua, essas duas coisas não poderiam parar. Tivemos uma enchente que destruiu todos os nossos computadores, tivemos ajuda dos sindicatos. Mas com este acordo do BB agora temos um fundo de reserva.
A ação do BB foi muito importante para nossa base. A assembleia para aprovar o acordo teve 500 pessoas. Às vezes eram os filhos e viúva do bancário, que já havia morrido. Mas todo mundo que chegava para pegar o crachá já tinha o valor bruto, mais os valores líquidos, porque os cálculos já tinham sido feitos e o trabalhador já ficou sabendo, na entrada, quanto ia receber.
A assembleia não foi fácil. Quando entrei no salão, fui rodeado por um grupo que já me avisou que votaria contra. Mas eu ressaltei que já era realidade, fato consumado, que os cheques sairiam em dois dias depois da assembleia. E tudo foi documentado, tivemos quatro câmeras filmando a assembleia. Dos 20 que disseram que votariam contra, só houve 3 votos contra e 1 abstenção.
Outra coisa positiva é que o sindicato tem ido muito às ruas, estamos presentes no dia a dia da cidade, a população já nos conhece. Fizemos distribuição da cartilha do IDEC, que tem tido uma aceitação muito boa. As pessoas é que vêm pedir a cartilha, depois que falamos sobre ela a o microfone.
No dia da posse da nova diretoria, vamos fazer a reinauguração do auditório, que está sendo todo reformado. Vamos também fazer a instalação de equipamentos para o bancário acompanhar a assembleia pela internet.
O que você acha que ainda vai exigir esforços da próxima gestão? Vamos ter que continuar lutando e falo aos meus colegas sindicalistas para não desistirem de brigar pelos bancários. Temos que reintegrar e dizer para os banqueiros que os bancários estão doentes. Se tivéssemos apoio do INSS, se os peritos vissem que os trabalhadores fazem cirurgias, que estão doentes, reconhecessem as doenças, seria um grande ganho. Os bancos não querem reconhecer doença de ninguém.
Temos brigado muito contra o assédio moral. Somos contra as metas como são feitas. Não contra as metas em si, mas contra as metas abusivas, que estão fora da realidade. Hoje, dentro das agências, vemos colegas brigando entre si, o banco coloca os funcionários um contra o outro por causa das metas.
E essa situação faz os bancários adoecerem, por isso dizemos que 90 % dos bancários estão doentes. Quando visitamos uma das agências do Bradesco em nossa cidade, vemos que os bancários, antes de entrar na unidade para trabalhar, passam na farmácia que fica em frente para comprar medicamentos – são remédios “tarja preta”, antiinflamatórios.
Você percebe o reconhecimento dos bancários? Não posso “quebrar galho” de banco. A diretoria do sindicato tem que ser respeitada, porque está lutando. Eu não sou radical – sou enérgico. Por isso temos a credibilidade dos bancários. Por isso a chapa teve 99,6 % de aprovação.
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Recém-empossado como presidente do Sindicato dos Bancários de Campos, Hugo André Lopes Diniz sabe que a tarefa que tem à frente não é fácil. A amostra do que vem pela frente são as quatro demissões informadas ao sindicato no primeiro dia útil do mandato. Mas Diniz, que já ocupou a presidência e esteve na secretaria geral na gestão anterior, tem experiência e consciência do papel que tem a desempenhar. Entre uma reunião e outra da nova diretoria, ele concedeu à nossa reportagem a seguinte entrevista:
Quais situações serão os maiores desafios da próxima gestão? Antes de mais nada, gostaria de ressaltar a grande personalidade do Rafanele Pereira, que me antecedeu. Ele tem muito reconhecimento junto à categoria e minha intenção é substituí-lo à altura. Temos características diferentes, mas é importante que, independente de quem está na presidência, o sindicato mantenha a força na atuação.
Estamos vivendo mudanças, já que o número de agências em nossa base está aumentando, tanto de bancos privados quanto de públicos. Isso vai nos exigir mais empenho, porque temos a tradição de paralisar 100 % das unidades bancárias quando os bancários fazem greve e pretendemos manter este índice. Queremos manter o padrão de atuação do sindicato que tivemos na gestão anterior e precisamos atuar forte nas paralisações, mobilizando os bancários para participarem das atividades da campanha salarial.
Também vai nos exigir muito o combate às demissões. Já começamos a gestão com três demitidos no Santander e um no Itaú. E a luta pelas reintegrações de bancários demitidos irregularmente também é sempre um desafio. O sindicato tem sido bem sucedido nos processos de reintegração e pretendemos manter este sucesso.
Em que questões será necessário um empenho maior do sindicato? Principalmente na mobilização da categoria bancária. Hoje temos uma categoria onde é grande o número de bancários muito jovens, que desconhecem a importância dos sindicatos em tudo o que a categoria conquistou. Quando a pessoa entra e não participou da luta para conquistar os benefícios, acha que é dádiva do patrão, e não fruto da mobilização dos trabalhadores. É preciso mostrar a estes novos bancários a trajetória de luta do movimento sindical.
Também vamos precisar ampliar a atuação junto ao pessoal do BB. Já vimos percebendo, desde o ano passado, que muitos estão alheios às lutas do sindicato. A vantagem é que eles são um segmento mais politizado da categoria. O desafio vai ser renovar o discurso para trazer estes bancários para a luta, destacando a importância do BB para a sociedade e o passado do banco, destacando também as conquistas que os bancários antigos do BB tinham e que vêm sendo retiradas.
Qual o projeto para a gestão que se inicia? Queremos fazer uma gestão transparente e democrática, em que toda a diretoria atue, não só o presidente. Fizemos algumas modificações na diretoria, trazendo novos sindicalistas. Precisamos de renovação, trazer gente nova, com ideias novas.
E também pretendemos ampliar a presença nas agências, não nos prender somente às questões administrativas. Na gestão anterior, como secretário-geral, eu ficava muito preso a estas tarefas, mas minha intenção é atuar mais nos locais de trabalho. É importante estarmos presentes no dia a dia dos nossos colegas. Esse é uma proposta não só para mim, na presidência, mas para toda a diretoria.
E, mesmo tendo um índice de sindicalização de quase 100 % , principalmente em Campos, ainda precisamos avançar. Nos outros municípios da base é mais difícil, temos bancários trabalhando a 110 km de distância da nossa sede, o que dificulta a participação nas atividades. Mesmo assim, temos bancários sindicalizados nestes locais, pessoas que entendem importância da atuação do sindicato. E vamos nos empenhar para aumentar o número de sindicalizados em todos os municípios.
Outra proposta é manter o departamento jurídico forte, ativo, para continuar atuando nos processos em defesa dos bancários.
Mas não podemos deixar de atuar na defesa de todos os trabalhadores. Há alguns dias chegou à nossa sede uma trabalhadora que foi demitida da clínica onde trabalhava. Ela não localizou seu sindicato e veio até nós, pedindo ajuda para fazer seus cálculos. E nós ajudamos, estamos sempre abertos a colaborar. A confiança dos cidadãos em geral no nosso sindicato mostra que estamos atuando com força na nossa região.
Também pretendemos continuar atuando como sindicato cidadão, que participe de todas as discussões importantes para a sociedade como um todo. Não nos prendemos somente às questões trabalhistas. Por exemplo, participamos das discussões sobre saúde pública, mesmo que, na nossa categoria, os trabalhadores tenham plano de saúde. Porque é comum o bancário ter plano, mas seus familiares não terem. A discussão sobre saúde e educação públicas, por exemplo, é do interesse de todo mundo. E nós queremos continuar participando dela, assim como de todas as outras que forem do interesse da sociedade.
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