Foram mais dois dias de negociação à espera de uma proposta que valorize os bancários, só que novamente a Fenaban optou por desrespeitar a categoria. O acordo de dois anos proposto nesta quarta-feira (28) pelos bancos mantém os 7% de reajuste nos salários e abono de R$ 3,5 mil, agora em 2016, e reposição da inflação, mais 0,5% de aumento real, em 2017. O Comando Nacional dos Bancários rejeitou a proposta na própria mesa de negociação, por considerar insuficiente, com perdas para os trabalhadores e orienta que os sindicatos realizem assembleias em suas bases, na próxima segunda-feira (3 de outubro), para debater e organizar os rumos do movimento.
O Comando Nacional dos Bancários reiterou que continua à disposição da Fenaban para ter uma proposta que permita resolver a Campanha Nacional sem perdas para os bancários e bancárias. “Os bancos perderam uma excelente oportunidade de resolver a greve mantendo a proposta que provoca perdas nos nossos salários. Fica cada vez mais evidente que é uma decisão tomada fora da nossa mesa de negociação e que dialoga com a intenção de promover uma redução dos salários para atender ao ajuste fiscal que está sendo imposto por este governo. Desde o início da nossa campanha, dissemos que o setor financeiro teve lucros fabulosos e que poderia atender, confortavelmente, às nossas reivindicações. Só um acordo estranho às nossas relações de trabalho poderia explicar esta tentativa de reduzir salários”, afirmou Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários.
“Quando os bancos propuseram um acordo de dois anos, deixamos claro que não poderia trazer perdas e que ainda precisaria comtemplar emprego, saúde, vales, creche, piso, igualdade de oportunidades, segurança. Nada disso veio hoje”, ressaltou.
Roberto ainda destacou que a resposta dos bancários tem sido a greve forte. “A greve deste ano já entrou para a história com o maior número de agências com as atividades paralisadas e a tendência é de aumentar ainda mais, em virtude da crescente insatisfação dos bancários com os banqueiros”.
A greve dos bancários chegou ao 23º dia com 13.254 agências e 28 centros administrativos com atividades paralisadas nesta quarta-feira. O número representa 57% dos locais de trabalho em todo o Brasil.
“Em sintonia com a política do governo, banqueiros querem reduzir o custo do trabalho no acordo com os bancários. A greve continua e estamos à disposição para nova negociação com a Fenaban”, disse Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Altos lucros
Os lucros dos bancos permanecem nas alturas, enquanto muitos setores registram perdas. Os cinco maiores bancos brasileiros (Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) apresentaram, no primeiro semestre de 2016, o lucro líquido de R$ 29,7 bilhões.
A população também sente no bolso a ganância dos banqueiros. Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (28) pelo Banco Central, revela que a taxa de juros do cheque especial bateu novo recorde de julho para agosto, e chegou a 321,1% ao ano.
Os juros do cartão de crédito não param de subir. Em agosto, na comparação com o mês anterior, houve alta de 3,5 pontos percentuais, com a taxa em 475,2% ao ano. Neste ano, essa taxa já subiu 43,8 pontos percentuais.
Irresponsabilidade
Depois de muitos dias de silêncio, enquanto a greve crescia país afora, os banqueiros finalmente agendaram reunião de negociação para a última terça-feira. Mas o encontro não rendeu e os representantes dos banqueiros ficaram de consultar os donos das empresas e voltar à mesa na tarde desta quarta-feira. E, novamente, a proposta foi frustrante. “Convocar as federações e sindicatos, para apresentar mais uma proposta insuficiente, para categoria, aumentando a possibilidade de greve em todo país, é uma atitude extremamente desrespeitosa e irresponsável para com os bancários e toda população”, criticou Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da base no Comando Nacional.
Embora o Comando Nacional já tenha rejeitado a proposta na mesa, os sindicatos devem realizar assembleias para consultar a categoria. As plenárias devem acontecer na próxima segunda-feira, dia 03. Todos os trabalhadores devem fortalecer a greve para aumentar a pressão sobre os patrões. “É hora dos bancários e bancárias que ainda não aderiram à greve e estão trabalhando nas agências irem às assembleias para recusar esta proposta dos patrões. Enquanto houver trabalhadores nos locais de trabalho depois do horário, batendo metas, os bancos vão insistir nestas propostas rebaixadas. O aumento da adesão é a melhor forma de mostrar aos patrões nossa insatisfação”, recomenda Nilton.