Na última segunda-feira, 3 de novembro, a Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf RJ/ES) se reuniu, virtualmente, com União Nacional de Caixas do Banco do Brasil (UNACaiexBB).
Estiveram presentes: Bethania Emerick, representante em exercício da Fetraf RJ/ES na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB); Danilo Funke, Diretor de Bancos Federais da Fetraf RJ/ES; além de Igor Chagas e Nathalia Galini, diretores do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo.
E representando o grupo UNACaiexBB, André Faria.
A REUNIÃO
Segundo André Faria, a luta em defesa dos caixas marcou a própria instituição Banco do Brasil nos últimos anos. No entendimento da UNACaiexBB, depois de 2021, o Banco do Brasil se viu impossibilitado de realizar grandes reestruturações, com encerramento de agências, devido fundamentalmente à liminar obtida em ação judicial da Contraf, que impediu o Banco de extinguir de uma vez a função de caixa. Embora derrubada a liminar em julho de 2024, o Banco ainda não realizou nova onda de fechamento de agências, como os demais bancos, por ter implementado como política o conceito de Banco “Figital” – aquele que promove seu processo de digitalização sem deixar de oferecer pontos de atendimento físicos à população. Não parece ser coincidência que tal política tenha sido implementada enquanto o BB tinha suas mãos atadas por decisão judicial.
Não se pode, no entanto, contar com a duração desta política por muito tempo. Desde 2024 está em implementação o Inova Varejo, tendo o Espírito Santo como piloto, mas que já alcançou diversas capitais no primeiro semestre de 2025 e se expande para o interior do país neste segundo semestre. Os postos de trabalho de caixas e gerentes de módulo estão entre os principais alvos desse projeto, com várias agências encerrando tesourarias e atendimento em guichês, obrigando clientes que procuram atendimento presencial a se deslocarem para outras agências. A retirada dos guichês e tesourarias das agências tende a avançar para o fechamento das mesmas.
A UNACaiexBB não nega que as novas tecnologias e mudanças de hábito dos consumidores estejam levando a uma redução da demanda pelo atendimento em guichês, mas defende que o atendimento de caixa deve continuar sendo oferecido em todas as agências, pois há setores da população e clientes que continuam buscando os guichês, seja por necessidade, conveniência ou segurança. Nem todos se adaptam às novas tecnologias e nem sempre elas são a melhor opção.
No sentido de garantir um atendimento humanizado à população, a UNACaiexBB inclusive busca meios de influir no debate sobre a regulamentação do Sistema Financeiro, com propostas como as contidas em seu Projeto de Lei de Iniciativa Popular “Na Boca do Caixa”.
Não obstante, dada a derrubada da primeira liminar obtida pela Contraf-CUT e a tendência de o Banco avançar com a redução do atendimento em guichês, no desfecho da campanha salarial de 2024 foram acordados entre sindicatos e BB a cláusula que reconhece o direito à incorporação de função e a promessa de priorização para caixas em concorrências a cargos de assistente de atendimento e negócios. Tendo rompido partes do acordo, sob protesto dos sindicatos e dos próprios caixas, o Banco criou 1.000 vagas de assistente e ampliou o reconhecimento do direito à incorporação de 1.700 para 2.000 colegas – medidas que reduzem danos mas ainda são insuficientes. Centenas de caixas desgratificados em janeiro seguem sem realocação em outras funções e o Banco nega o direito à incorporação a quem tenha tido pequenas interrupções na contagem dos 10 anos de função.
REIVINDICAÇÕES
Após essa explanação inicial, foram discutidas as reivindicações que a UNACaiexBB apresentou ao 35° Congresso Nacional dos Funcionários do BB, em especial a necessidade de ser estabelecida com o Banco uma Mesa Temática sobre Caixas e PSOs, conforme previsto no ACT, para que demandas deste segmento do funcionalismo não caiam em esquecimento.
Foi destacada a situação nas PSOs, em que caixas (tanto os efetivos quanto os que atuam em caráter de substituição) e escriturários estão crescentemente assumindo os serviços “transbordados” do CENOP, conhecidos como AQR – Atuação Qualificada em Rede. Há problemas aqui, em duas dimensões:
I) a cobrança intensa por produtividade em uma série de novos serviços não condiz com a qualidade e o tempo de treinamento oferecidos, enquanto o Banco não pondera na distribuição das metas as particularidades das PSOs e SOPs, sendo que umas possuem fluxo de atendimento maior e equipes mais enxutas que outras. Da forma como o serviço está sendo distribuído, incorre-se em riscos operacionais;
II) falta isonomia, pois nas PSOs há funcionários executando esses serviços sem o recebimento de uma comissão ou sequer da gratificação de caixa, enquanto no CENOP esses serviços são realizados mediante comissão.
Por isto, além de uma distribuição mais racional das tarefas, com o devido treinamento e condições adequadas de trabalho, a UNACaiexBB defende que a função de assistente operacional pleno deveria ter o valor da comissão equiparado ao da gratificação de caixa, com todos os escriturários que atuam em PSOs sendo nomeados nesta função, de maneira semelhante ao que se realizou nas PSVs, onde todos foram nomeados assistentes de tesouraria. Isto beneficiaria centenas de colegas que não possuem uma comissão efetiva e tiraria dos gestores o poder de usar o acionamento em guichês de caixa como moeda de troca para o cumprimento de metas.
A nomeação para o cargo de assistente operacional pleno, com a equiparação de sua comissão à gratificação de caixa, poderia ser também uma solução para os caixas de agências não atendidas por PSOs e que foram desgratificados em janeiro de 2025. Isso preservaria a renda desses funcionários sem que os mesmos precisem se mudar de cidade, uma vez que os serviços do Cenop podem ser realizados de qualquer terminal do Banco, ou mesmo em home office.
A realização de uma Mesa Temática sobre Caixas e PSOs é importante para que essas reivindicações e outras ganhem o relevo necessário para avançarem em negociações concretas – contando inclusive com mobilizações que seriam realizadas em torno da agenda de reuniões.
O QUE FALAM OS DIRIGENTES SINDICAIS
Dirigente da Fetraf RJ/ES, Danilo Funke manifestou concordância com as demandas apresentadas pela UNACaiexBB e se prontificou a levar o assunto aos demais membros da Comissão de Empresa, para que o agendamento da mesa sobre Caixas e PSOs aconteça.
Danilo também apresentou considerações sobre as dificuldades que a Comissão de Empresa tem encontrado para fazer avançarem as negociações sobre estes e outros temas importantes para os funcionários do BB. É o caso da discussão sobre o custeio da Cassi, que mesmo tendo sido tratado em mesa com o Banco em diversas reuniões presenciais não pôde ainda ser resolvido. Danilo expôs que “a atual gestão do Banco deixa muito a desejar no tratamento das questões trabalhistas e mesmo na relação com as entidades sindicais, e que por isso mesmo é preciso elevar a pressão sobre a empresa“.
Os dirigentes do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo convergiram nesses entendimentos.
Bethânia Emerick, que também é participante da UNACaiexBB, enfatizou que “os caixas possuem demandas muito bem elaboradas, mas que ainda não tiveram o tratamento merecido nos espaços de negociação“.
Igor Chagas analisou a conjuntura política, reforçando que “as entidades sindicais devem buscar exercer pressão e influência não apenas sobre a gestão do Banco, mas também sobre o Governo Federal, buscando levar aos ministros de Estado e ao Presidente Lula reclamações sobre a série de ataques ao funcionalismo que o Banco do Brasil promove, e sobre o não cumprimento de seu papel público no atendimento aos clientes“.
Nathalia Gallini acrescentou a perspectiva de quem atuou tanto como caixa quanto como gerente de módulo, destacando que “as reestruturações que o Banco está promovendo afetam todo um conjunto de funcionários, levando a desvios e acúmulo de funções. Há gerente de módulo acumulando suas funções com as de caixa, caixas acumulando suas funções com as de gerente de módulo, enquanto o Banco deixa de contratar a quantidade adequada de funcionários em cada cargo“.
Os participantes consideraram positivo o diálogo promovido nessa reunião e esperam manter contato para futuras articulações e encaminhamentos.
