Funcionárias denunciam trabalho análogo à escravidão em Pádua, RJ

Mulheres alegam más condições de trabalho e humilhações.
Empresa não pagou salários e, segundo MT, está inadimplente.


Priscilla Alves G1 Noroeste Fluminense


Más condições de higiene, assédio moral, falta de equipamentos de proteção e problemas com pagamentos. Esses são alguns dos problemas listados por funcionárias de uma usina de reciclagem, que funcionava anexo ao lixão de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense. Segundo informações das funcionárias, que não quiseram se identificar por medo de represálias, as condições de trabalho na usina eram desumanas. A Prefeitura de Santo Antônio de Pádua verificou a situação e fechou a usina, que já havia sido autuada pelo Ministério do Trabalho.


Segundo relatos das trabalhadoras, a usina funcionava há cerca de três anos, no entanto, desde que teve os trabalhos encerrados, nenhum responsável apareceu para conversar com os funcionários. A usina de reciclagem era terceirizada pela prefeitura e, por causa das irregularidades, não teve o contrato renovado. Com isso, cerca de 20 operários estão sem emprego desde janeiro e não receberam os direitos trabalhistas.


“Eu tenho netas que eu crio e dependem do meu dinheiro para tudo. Estou fazendo bicos para conseguir levar comida pra casa. Não temos ninguém para recorrer. A minha carteira de trabalho está presa aqui e eu não posso procurar serviço em outro lugar porque ela ainda está assinada. Eu tenho quase dois anos de trabalho na usina e não recebi nada. Eles ainda falaram que se a gente quisesse ir embora, era só pedir demissão e abrir mão dos nossos direitos”, disse uma das funcionárias.


Além da falta de assistência, as reclamações remetem à época em que a usina ainda estava em funcionamento. Uma segunda funcionária, relatou casos de maus tratos e condições inapropriadas de trabalho, em entrevista ao G1. Segundo as funcionárias, um idoso conhecido apenas como Luiz Fernando coordenava o trabalho no local.


“Tinha vezes que a gente tinha que puxar o lixo do caminhão só com a enxada, sem contar que a maior parte do dia trabalhamos em pé no meio do lixo. A gente chegou a trabalhar várias vezes sem proteção nenhuma, só com umas luvas velhas e rasgadas. A gente não podia reclamar porque o senhor Luiz Fernando xingava a gente de vários nomes e falava palavras obscenas”, disse outra funcionária.


Segundo a mulher, houve um dia de trabalho no qual o caminhão do lixo quebrou perto de um local onde as refeições eram feitas e as próprias mulheres tiveram que fazer a remoção do veículo. “O caminhão não andava e o cheiro de lixo estava muito forte. A gente se juntou e começou a empurrar até tirar ele dali. O seu Luis Fernando viu a gente empurrando e cantou aquela música “lerê lerê” e falava que a gente era escravo”, concluiu, citando a música de abertura da novela “A Escrava Isaura”.


Ministério do Trabalho diz que usina está inadimplente


Segundo a Gerência Regional do Trabalho e Emprego, do Ministério do Trabalho de Itaperuna, que responde pela área de Santo Antônio de Pádua, a empresa Elo Comércio e Serviço Limitada/ME, responsável pela usina de reciclagem, já foi fiscalizada e autuada várias vezes. O Ministério do Trabalho (MT) ainda informou que vai enviar uma nova equipe para fiscalizar a empresa.


“A empresa teve os autos lavrados por má condições de trabalho e de segurança, além de problemas com salário e fundo de garantia. Nós fizemos a nossa parte e eu não sei como essa empresa conseguiu liberação para prestar serviço”, disse a Drª Alzira Almeida de Souza, titular do Ministério do Trabalho em Itaperuna.


Ainda segundo a responsável pelo MT em Itaperuna, Alzira de Souza, muitos trabalhadores não procuram ajuda no Ministério. Quem precisar de apoio jurídico gratuito pode ir até o MT que fica na Avenida Cardoso Moreira, número 859, no Centro de Itaperuna.


Prefeitura diz que trabalhadores de usina não ficarão desempregados


Segundo a Prefeitura de Santo Antônio de Pádua, os funcionários da antiga usina de reciclagem vão abrir uma cooperativa que terá apoio da prefeitura e melhoria no espaço físico. Sobre a falta de pagamentos dos funcionários pelos serviços já prestados à empresa, a prefeitura disse não ter responsabilidade.


“Os problemas entre a empresa e os funcionários terão que ser resolvidos na Justiça. No que a prefeitura puder ajudar, vamos fazer. Quero que os funcionários tenham um ambiente limpo e protegido e depois que montarem a cooperativa vão vender os produtos para a prefeitura”, disse o prefeito Josias Quintal.

Fonte: G1