O lixo que se acumulou na cidade do Rio de Janeiro em pleno carnaval em função da greve dos garis está gerando muitas dúvidas e revelando a crise na representação sindical da categoria. A greve foi deflagrada por uma assembleia não oficial, sem cumprimento dos ritos legais, e acabou por ser decretada ilegal pela desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo, do TRT-RJ. Com o apoio de uma parte da população e críticas de outra, os garis seguem expondo o descaso do poder público e os vícios de alguns segmentos do sindicalismo.
O Sindicato dos Trabalhadores em Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro, que representa os garis, vinha conduzindo as negociações da campanha salarial sem considerar as reais reivindicações da categoria. Habituados a verem os acordos desvantajosos serem assinados ano a ano, um grupo de trabalhadores decidiu agir à margem da entidade, convocando uma assembleia no dia 27, quinta-feira, quando decidiram cruzar os braços em pleno sábado de carnaval. Com a cidade cheia de turistas e muito movimento nas ruas com blocos desfilando diariamente por toda a cidade, montanhas de lixo se formaram. Os trabalhadores em greve fizeram várias passeatas e chegaram a ser reprimidos duramente pela polícia. Na segunda-feira a prefeitura e o sindicato se reuniram e fecharam um acordo, que foi apresentado à categoria, mas não submetido a aprovação em assembleia. Insatisfeitos com a proposta, os garis decidiram manter a paralisação. A represália veio em seguida: na terça-feira foram demitidos 300 trabalhadores.
Além de decretar a ilegalidade da greve, a desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo sentenciou o sindicato a pagar multa diária de R$ 25 mil caso os garis não voltassem ao trabalho. A magistrada também determinou que os trabalhadores que quisessem trabalhar fossem protegidos por escolta armada. Foi então que as cenas de garis trabalhando sob a observação atenta de policiais do batalhão de choque, fortemente armados, se multiplicaram pela cidade na ultima quinta-feira. Vários garis revelaram que a escolta não passa de coação e que estão trabalhando contra a vontade e com medo.
Na quinta-feira, 06, o desembargador José da Fonseca Martins Júnior dobrou o valor diário da multa aplicada ao sindicato se os garis não voltarem ao trabalho. O magistrado ressaltou que os líderes dos grevistas podem ser demitidos por justa causa.
Apoios
Os grevistas estão recebendo apoio de algumas entidades de trabalhadores. O Sindipetro-RJ tem fornecido quentinhas e o Sepe – Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação está colaborando com panfletos e o Sintuff , dos servidores da UFF, emprestou o carro de som. A CUT-RJ emitiu nota (veja aqui) nesta quinta-feira informando que apoia o movimento dos garis, embora não tenha nenhuma relação com o sindicato – filiado à UGT – ou com o grupo de oposição que organiza o movimento.
Ampliação
Além dos garis, os Agentes de Preparação de Alimentos, que são auxiliares das merendeiras nas escolas da prefeitura, não devem retornar ao trabalho na segunda-feira, dia 10, data da volta às aulas na rede municipal. Eles também são funcionários da Comlurb e já anunciaram que, insatisfeitos com os salários e as condições de trabalho, vão aderir ao movimento paredista. Os APAs atuam em toda a rede, que tem 1.500 escolas e creches, atendendo a 675 mil alunos.
Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES