No segundo dia (10/6) da 11ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais, realizada no hotel Novo Mundo, no Rio de Janeiro, os representantes de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia, Venezuela, Costa Rica, Jamaica, México e Espanha se dividiram em seis grupos para as discussões dos problemas em comum na América Latina e a apresentação de propostas de ações conjuntas.
Os grupos foram divididos de acordo com os bancos representados na reunião (Banco do Brasil, Itaú, HSBC, Santander, BBVA e Scotia Bank). O anúncio do fechamento do HSBC e denúncias contra as práticas trabalhistas destes bancos na região dominaram os debates.
A situação do banco britânico HSBC e os planos de luta dos funcionários em nível internacional foram apresentados por Marcio Monzane, coordenador mundial do setor financeiro da UNI. “Temos uma estratégia. A primeira parte é ver como está esse processo de reestruturação em cada país, que estamos fazendo essa semana. Depois enviaremos cartas ao presidente do banco pedindo uma negociação mundial com a UNI e ao Comitê de Estabilidade Financeira afirmando a necessidade de se ver a dimensão social de um plano de recuperação como este. Ou seja, consultarem os sindicatos. E nas próximas semanas, vamos organizar uma conferência telefônica com todos os sindicatos em nível mundial”, afirmou ele.
Nesta conferência telefônica serão analisadas as informações dos sindicatos, discutido um processo de comunicação conjunta dos sindicatos e iniciado um processo de mobilização até outubro, quando durante a conferência mundial da UNI na Turquia será lançada a aliança mundial do HSBC. A aliança avaliará esses quatro meses de trabalho desde o anúncio do fechamento do banco e pensará novas estratégias.
Em nível nacional, as estratégias de luta dos funcionários do HSBC desde os primeiros rumores da saída do banco do país, em fevereiro, foram apresentadas pela diretora do sindicato dos bancários de Curitiba Edna Andreiu. A sede do HSBC no Brasil é na cidade, onde ficam lotados cerca de 7.500 trabalhadores. Em todo o país, o banco britânico tem em torno de 21 mil trabalhadores distribuídos em 850 agências.
Segundo Edna, o sindicato tem realizado uma intensa agenda de ações em defesa dos empregos bancários. A agenda inclui caravanas a Brasília para conversas com parlamentares e entrega de documento ao ex-presidente Lula, reuniões com deputados paranaenses, prefeito de Curitiba e vereadores; reuniões e entrega de denúncia ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e ao Banco Central, mediação com o Ministério Público e atos públicos em São Paulo e no Paraná.
Edna adiantou também que mais ações legais estão sendo elaboradas a partir de Curitiba. “Contratamos um grupo de advogados especialistas em vendas de grandes empresas para nos acompanhar como terceiros interessados no negócio. Estamos formulando uma denúncia na OIT (Organização Internacional do Trabalho), uma denúncia também no IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) e agendando debates sobre a federalização do banco, que seria o nosso sonho”, disse ela.
Uma das etapas da crescente mobilização em defesa dos empregos no HSBC acontece nesta quinta-feira (11/6), no Rio. Aproveitando o encontro internacional os sindicalistas decidiram interromper os trabalhos da parte da manhã e participar de um ato de protesto a partir das 9h, em frente à sede carioca da entidade, na Cinelândia.
Brasil exporta mau exemplo
Além do fechamento do HSBC e o prejuízo a milhares de trabalhadores, as práticas predatórias de bancos brasileiros como o Banco do Brasil e o Itaú, e o espanhol Santander, principalmente na região do Mercosul, também foram denunciadas pelos sindicalistas.
Representante da CUT PY – Sindicato do Itaú do Paraguai, Didar Pakravan disse que o desrespeito aos trabalhadores avançam para o campo da questão nacional no país. “A cultura no Paraguai é muito diferente, nem tudo que se aplica ao Brasil ou a Argentina pode se aplicar no Paraguai. O cliente no Paraguai está acostumado a ir à agência. Nós temos de 300 a 400 pessoas para atender diariamente. No Brasil entendo que é diferente. Os clientes só vão quando é muito necessário. Eu sou caixa e me pedem para atender o cliente, receber dinheiro, pagar e vender serviços, além de controlarem o meu tempo de atendimento. É muita incoerência e pressão para alcançar o plano de metas”, afirmou a sindicalista. De acordo com Didar, o Itaú tem mais de 1.300 pessoas trabalhando no Paraguai em suas 37 agências, sendo que 786 são empregados e os demais são terceirizados. O nível de sindicalização está em 10 % devido ao medo de perseguição.
O Banco do Brasil é outra instituição que desrespeita direitos básicos paraguaios, como a negociação entre patrões e empregados. Diego Hermosa, do Sindicato de Empregados do Banco do Brasil, disse que o banco se recusa a negociar. “O banco coloca negociadores sem nenhum poder de decisão. Só escutam e não levam os argumentos dos trabalhadores à direção. E já fizemos várias queixas. Agora, estamos tentando negociar com o advogado do banco”. Além da dificuldade de negociação, Diego também disse que o acordo coletivo só foi assinado ano passado, onze anos depois do vencimento do último ACT.
No vizinho Uruguai as denúncias são contra o espanhol Santander. As más condições de trabalho, a jornada excessiva e a falta de um plano de carreiras são os pontos contra os quais o Sindicato Bancário do Sistema Financeiro mais trabalha. Diretor da entidade, Fabian Amorena explicou que essa realidade leva os trabalhadores a níveis adoecimento altíssimos na média do mercado. “Tentamos avançar através de acordos para uma carga horária menor e a diminuição das metas a serem alcançadas”, disse ele a respeito das atuais negociações do sindicato. Ainda segundo Amorena outros pontos trabalhados pelo sindicato em todo o país são a defesa dos postos de trabalho, a luta contra as terceirizações e as campanhas pela sindicalização, principalmente entre os funcionários mais jovens.
Fonte: Contraf-CUT