Nota de Falecimento

Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis, e última presa política da ditadura a ser libertada, faleceu aos 72 anos em sua casa, na cidade de Niterói, na madrugada desta segunda-feira, 27. Militante e dirigente das organizações clandestinas de resistência VPR, VAR-Palmares e Polop, Inês foi presa em São Paulo em maio de 1971, onde foi torturada sob o comando do Delegado Sérgio Fleury. Em seguida foi transferida para o Rio de Janeiro e acabou sendo conduzida para o centro clandestino de tortura na Região Serrana Fluminense, onde ficou até agosto do mesmo ano. A existência da Casa da Morte era secreta e para lá eram levados os prisioneiros considerados mais importantes e de lá ninguém deveria sair vivo.

Durante o período em que esteve presa, Inês tentou o suicídio várias vezes. Libertada após fazer um acordo para se tornar agente infiltrada, a militante descumpriu o combinado. Sua família e seus advogados acabaram por conseguir que sua prisão fosse registrada e oficializada, o que lhe salvou a vida. Inês ainda ficou oito anos presa na penitenciária feminina Talavera Bruce, de onde só foi libertada após a assinatura da Lei de Anistia, em 1979.

Única testemunha

Sua memória do período em que esteve na Casa da Morte foi fundamental para que se tomasse conhecimento da existência do centro clandestino de tortura, de onde ninguém mais saiu vivo. Inês se lembrava dos codinomes dos torturadores e dos médicos que atuavam na casa, dos presos políticos torturados e executados no local e ainda do carcereiro, que a estuprou duas vezes. Até o número do telefone da casa, entreouvido por acaso, ficou-lhe na lembrança. O médico que mantinha vivos os prisioneiros, Amílcar Lobo, codinome “Dr. Carneiro”, foi denunciado por Inês e perdeu o registro profissional, ficando impedido de exercer a medicina. Por orientação da família, que temia por sua segurança, Inês só revelou o que sabia após ser libertada.

Em 2003, quando estava com 61 anos, um suposto acidente doméstico debilitou sua saúde e sua memória. Inês recebeu em casa um marceneiro, que deveria lhe prestar serviços e no dia seguinte foi encontrada agonizante, com traumatismo craniano. Segundo análise dos ferimentos, ela havia sofrido golpes repetidos na cabeça, o que era incompatível com uma queda ou acidente doméstico comum. O fato nunca chegou a ser esclarecido e Inês ficou com sequelas neurológicas severas. Apesar de ter recuperado a fala e algumas funções motoras, ela nunca chegou a ficar totalmente curada.


 


Últimos anos

Depois deste acidente, Inês ainda sofreu um infarto e um edema de pulmão.

Em 2009 Inês recebeu das mãos do então presidente Lula o prêmio de direitos humanos na categoria Direito à Memória e à Verdade. Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, se emocionou durante a homenagem. Inês foi quem revelou que Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, amigo pessoal de Dilma, foi torturado e morto na Casa da Morte em 1971.

Segundo informações preliminares, Inês morreu dormindo.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES