Quem ganha com a greve dos vigilantes?

Iniciada no último dia 24, a greve dos vigilantes no Rio de Janeiro atinge órgãos públicos, empresas privadas e agências bancárias do centro da cidade. E as formas como os bancos estão lidando com a situação desafiam a legislação e colocam em risco a segurança de trabalhadores e clientes.

Em visitas feitas no ultimo dia 06 a algumas agências bancárias dos bancos Bradesco, Itaú, HSBC e Santander no centro, nossa reportagem constatou situações variadas. No Bradesco, havia agências abertas, funcionando, mas não realizando transações em espécie. Em algumas havia vigilante armado; em outras, não. Na maioria das unidades do Itaú visitadas havia um cartaz à porta informando que não havia movimentação de numerário. Em todas havia vigilante armado na entrada. Uma agência – a maior do centro – estava funcionando normalmente, com todo o corpo de segurança a postos, e as filas eram imensas. No HSBC só havia operação dos caixas eletrônicos, sem acesso de clientes ao interior das agências. Os clientes que precisavam realizar operações indisponíveis no atendimento automático eram aconselhados a procurar a unidade num shopping da zona sul. No Santander a maioria das agências estava fechada, embora houvesse vigilante armado e os funcionários estivessem em seus postos. Em algumas das agências visitadas havia piquete dos vigilantes dentro do hall eletrônico.

A caravana dos vigilantes, vestindo camisetas alusivas à greve e fazendo “apitaço” tem percorrido as agências bancárias do centro todos os dias. Nesta quarta-feira, dia 07, os vigilantes em greve paravam em frente às unidades e chamavam os colegas que estavam trabalhando para aderir ao movimento. “Na maioria das vezes, o gerente manda fechar a agência. Quando a caravana vai embora, manda abrir novamente”, explica Leonice Pereira, diretora da Fetraf-RJ/ES.

Arredores

No interior do estado a greve tem características semelhantes, mas os sindicatos não são os mesmos. Em Petrópolis a representação dos trabalhadores aceitou a proposta patronal e encerrou o movimento no último dia 06.

Em Angra dos Reis a greve continua, com paralisações de um município por dia – Angra, Mangaratiba e Paraty são as bases em comum entre os sindicatos dos Bancários e dos Vigilantes. “As agências que não têm vigilantes estão fechadas, mas com os bancários trabalhando internamente, principalmente com vendas de produtos. Em algumas unidades, há apenas um vigilante e as operações com numerário foram suspensas. Estes vigilantes fura-greve não são daqui, vieram de outras cidades. Estamos também ligando para os gerentes para alertar sobre o risco de operarem sem o efetivo de segurança”, relata Jorge Valverde, diretor do Seeb-Angra. O sindicalista informa que a entidade entrou em contato com a delegacia regional da Polícia Federal informando sobre a situação e solicitando fiscalização, para verificar se há infrações à Lei de Segurança Privada. “Enviamos o ofício no dia 30 de abril e a resposta que obtivemos foi de que, por falta de efetivo, as fiscalizações seriam possíveis somente a partir desta quarta-feira”, acrescenta Valverde.

Resultados

A desculpa de funcionar sem movimentação de numerário é antiga, e já foi usada em greves dos vigilantes em anos anteriores. “Mas a legislação não prevê esta situação caso o efetivo de segurança não esteja completo. O que a lei diz é que cada agência bancária tem que ter, no mínimo, dois vigilantes. Em agências grandes ou que têm mais de um pavimento, tem que haver mais. Agência que não tem o número correto não pode abrir”, esclarece Paulo de Tarso Ferreira, bancário do Santander e diretor da Fetraf-RJ/ES.

Para os bancos, não podia ser melhor. Ao invés de atenderem ao público, os bancários estão concentrados em bater metas de vendas de produtos. “O dinheiro só entra. Quando há atendimento, o dinheiro entra, mas também sai”, avalia o dirigente. Funcionários de agências do Centro que foram afetadas estão sendo transferidos para outras unidades.


 


Sobra para quem?

O atendimento em algumas áreas da cidade está prejudicado, mas o maior problema é a falta de segurança. Com somente um vigilante e a restrição às operações em espécie, somente os terminais de autoatendimento têm funcionamento normal. Mas estes equipamentos continuam necessitando ser abastecidos. “Como fica o abastecimento dos ATMs durante a greve? Se os vigilantes não fazem o transporte dos malotes e não há guardas para acompanhar as operações, como o dinheiro chega até as maquinas? Quem transporta e manuseia os pacotes de dinheiro? Esperamos que os bancos não designem bancários para este serviço, porque, além de ilegal, esta medida colocaria a vida dos funcionários em risco”, critica Paulo de Tarso.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES